Economia

Aumento no preço da ração animal chegou a quase 10% em um ano

Quem tem cachorro ou gato vem sentindo no bolso

Inflação sobre a alimentação animal tem superado o dobro da registrada entre alimentos e bebidas para os humanos, nos últimos anos
Inflação sobre a alimentação animal tem superado o dobro da registrada entre alimentos e bebidas para os humanos, nos últimos anos |  Foto: Evelen Gouvêa / Ascom Maricá
 

Ficou 9,92% mais caro comprar uma ração animal no último ano, mostra o IPCA - Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo. A comparação em 12 meses, em março de 2023, refere-se ao período que vai de abril de 2022 até ao mês citado.

Quem tem cachorro ou gato vem sentindo no bolso que a ração animal ficou mais cara no período. O principal motivo é o aumento dos preços das matérias-primas usadas na fabricação de alimentos, como soja, milho, trigo e carne. 

Esse cenário, inclusive, desestimula em muitos casos a adoção de um animalzinho e deixa protetores e ONGs preocupados.

A design Érika Gerling tem seis gatos e um cachorro. Ela conta que sempre usou ração premium, para dar uma alimentação de melhor qualidade aos pets, mas, hoje não consegue mais pagar por isso.

“Com o aumento dos preços tentar manter essa qualidade foi impossível. Tive que trocar por uma ração mais barata, o que afeta diretamente a saúde dos animais. Lidar com essa inflação, tendo sete pets em casa, só fazendo muita economia mesmo”, explicou a design.

Ao longo dos últimos anos, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE), a inflação sobre a alimentação animal superou o dobro da registrada entre alimentos e bebidas para os humanos. 

“Colocar arroz e feijão na mesa já não tem sido uma tarefa fácil diariamente. Agora, imagina comprar ração para aproximadamente 100 cães e 200 gatos”, desabafou, Rita de Cassia, que toca um projeto de animais na comunidade Lins Vasconcelos, na Zona Norte do Rio de Janeiro.

Além dos animais que tem em casa, Rita ainda alimenta os bichos abandonados na comunidade.

“É uma luta diária, porque eles já veem atrás de comida na porta da minha casa. Infelizmente tem dias que todos ficam sem ração, é a nossa triste realidade", desabafa.

Impostos

A crescente preocupação mobilizou a bancada de Proteção Animal da Câmara dos Deputados e os resultados foram a apresentação do Projeto de Lei nº 2.116/2023 e da Indicação nº 467/2023, de autoria dos deputados federais Marcelo Queiroz (PP-RJ) e Matheus Laiola (União-PR), com objetivo de reduzir os impostos federais sobre os alimentos pet.

“Os pets são considerados como membro da família. A redução dos impostos proposta por esse grande movimento, também objeto da Indicação e do Projeto de Lei que apresentamos, significa reduzir gastos com a saúde animal e reduzir os preços, tornando os produtos mais acessíveis para todos”, disse o deputado Marcelo Queiroz.

José Edson Galvão de França, presidente-executivo da Abinpet (Associação Brasileira da Indústria de Produtos para Animais de Estimação), explica que apesar dos altos custos de produção, relacionados aos preços das matérias-primas do pet food, “a estabilidade acontece". 

"Podemos dizer que, após as grandes variações de 2020 e 2021, a poeira baixou um pouco e já podemos projetar que, ao longo de 2023,  o crescimento deve ocorrer, porém, ficará abaixo de dois dígitos. É hora juntarmos esforços para recuperar o crescimento para além dessa margem”.  

Para não onerar tanto o consumidor, prossegue Galvão de França, as indústrias ainda têm segurado margens de lucro para recuperar o investimento de famílias que deixaram de oferecer pet food aos animais. 

Uma alternativa, segundo ele, seria uma reforma na tributação do setor, que tem uma das cargas mais altas do mundo, acima inclusive daquela de mercados dos Estados Unidos e da Europa, por exemplo.  

De acordo com a Abinpet, a cada R$ 1 pago pelo consumidor, praticamente R$ 0,50 são impostos. Mesmo quando comparado internamente, a faixa de tributação do pet food, um produto alimentício com os nutrientes que os animais necessitam, é a mesma de itens como bebidas e cigarros. 

"Até agora o setor produtivo conseguiu absorver parte dos custos, mas sabemos que a longo prazo, a conta não fecha, e os mais prejudicados são as famílias que podem não conseguir arcar com uma alta maior de preços”.  

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