Acusação
Deputado estadual denuncia racismo sofrido em aeroporto; veja vídeo
'Não existe isso no Brasil', alega ter ouvido de agentes da PF
O deputado estadual professor Josemar (PSOL) relatou ter sido vítima de racismo no Aeroporto Internacional de Brasília, na noite de domingo (1). Segundo o parlamentar, agentes de segurança o abordaram sem explicação plausível e tentaram realizar uma revista em seus pertences, ameaçando chamar a Polícia Federal caso ele se recusasse. O momento foi registrado pela equipe de Josemar e compartilhado em suas redes sociais.
Em entrevista ao ENFOCO, o deputado, que retornava de um congresso do partido na capital na ocasião, afirmou que os seguranças o escolheram de forma aleatória e alegaram que era um procedimento comum do aeroporto.
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"Eles disseram que se tratava de uma revista obrigatória, que algumas pessoas eram submetidas aleatoriamente", relatou.
No entanto, quando o parlamentar recusou a revista e questionou o critério utilizado para a abordagem, os seguranças não forneceram explicações plausíveis e ameaçaram chamar os policiais federais.
Deputado questionou o procedimento
"Eles disseram que havia um número de passageiros que eram submetidos ao procedimento, o que é uma mentira, já que ficamos lá por cerca de uma hora e ninguém, além de outro homem negro que chegou a entrar em contato com a gente, foi abordado. Que critério é esse que só funciona para pessoas pretas?", indagou.
A Polícia Federal foi chamada, e, de acordo com o deputado, os agentes chegaram de maneira intimidadora, com as mãos na arma. No vídeo divulgado nas redes sociais, é possível ouvir um policial falando que ele só poderia ser liberado caso aceitasse passar por revista em uma sala reservada. Josemar se recusou.
"Não existe área restrita em um espaço público. Eu não sou um criminoso. Eles não têm o direito de fazer isso", enfatizou o deputado. Nesse momento, a assessora de Josemar começou a gravar a situação, o que não foi bem recebido pelos agentes.
"Os policiais insistiram que ela parasse de filmar, ameaçando detê-la. Nós nos recusamos a desligar a câmera. Se eles acreditavam que estavam agindo dentro da lei, por que tinham medo de serem filmados?", questionou o deputado.
"Não existe racismo no Brasil"
Após o parlamentar denunciar o caso como um episódio de racismo, ele alega ainda que ouviu dos agentes que não existe racismo no Brasil. Uma afirmação que o surpreendeu, pois acredita que não teria sido tratado da mesma maneira se não fosse negro.
"A atitude dos seguranças e dos policiais teria sido completamente diferente se eu não fosse negro ou se fosse um deputado estadual. Eles parecem não ter consciência da realidade racial no Brasil. Se não fosse pela filmagem e pelo clamor social no momento, estou certo de que o desfecho teria sido outro", disse o parlamentar.
Embora tenha decidido não registrar o caso, Josemar denunciou o ocorrido nas redes sociais. Sua postagem nas mídias sociais rapidamente ganhou atenção, gerando uma onda de apoio e solidariedade por parte de cidadãos e líderes políticos em todo o país.
Aumento dos registros
De acordo com dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública, os registros de racismo aumentaram mais de 50% no Brasil em 2022 em comparação com o ano anterior, conforme divulgado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP). Foram registradas 2.458 ocorrências de crimes resultantes de preconceito racial em 2022, representando uma taxa de 1,7 caso a cada 100 mil habitantes, um aumento de 67% em relação às 1.464 ocorrências de 2021.
O Aeroporto Internacional de Brasília afirmou, em nota, que o procedimento o qual o deputado foi submetido é usual.
"A inspeção aleatória é um procedimento exigido pela ANAC - Resolução 515/19 para segurança da Aviação Civil. O procedimento funciona da seguinte forma: A cada x número de pessoas que passam pelo pórtico de segurança do aeroporto, um sistema é acionado e a pessoa que estiver passando no momento é chamada para uma busca pessoal. A seleção é totalmente aleatória, realizada por amostragem randômica. A inspeção pode ser realizada em sala reservada com presença de testemunha ou no próprio espaço do raio-x, como o passageiro se sentir mais confortável", diz a nota na íntegra.
A Polícia Federal também foi contatada, mas até o momento a publicação desta reportagem não havia se pronunciado sobre o ocorrido.
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