Cadê a paciência?

Estresse de Roberto Carlos atinge 70% da população ativa

Mudanças sociais são vilãs, dizem especialistas

Pedido aconteceu durante um show.
Pedido aconteceu durante um show. |  Foto: Reprodução
  

O estresse que fez o cantor Roberto Carlos mandar um fã calar a boca, na última semana, durante um show, atinge ao menos 70% da população ativa. Isso quem diz é a Associação Internacional de Gerenciamento de Estresse Brasil. O dado é de 2017, quando foi realizada a última pesquisa. 

Mas, hoje, o cenário pode ser ainda maior com as mudanças sociais. Gatilhos mentais ocorrem por diversos fatores e resultam em alterações de comportamentos e hábitos, conforme dizem especialistas.

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"Não damos conta de tantas informações ao mesmo tempo e afazeres diariamente. E automaticamente mexe com o nosso organismo e nosso humor. Nem todos os dias estamos bem. Independente dos tipos de perfis que possuímos, sejam eles conformes, estáveis, dominantes ou influentes e também independente de ser um artista ou não", diz a psicóloga clínica Dayanna Ferreira, formada pela Universidade Salgado de Oliveira.

Esse sentimento é uma reação natural do organismo e normalmente ocorre quando são vivenciadas situações de perigo ou ameaça. O mecanismo coloca o ser humano em estado de alerta ou alarme, provocando alterações físicas e emocionais.

No que se refere ao astro da MPB, a assessoria de comunicação do artista disse que ele ficou "totalmente desconcentrado" após dezenas de fãs saírem das suas cadeiras e se juntarem abaixo do palco, gritando enquanto ele cantava, mesmo após ele pedir silêncio.

Normalmente, segundo profissionais, há dois tipos de estresse: o agudo - aquele mais intenso e curto, sendo causado normalmente por situações traumáticas, mas passageiras, como a depressão na morte de um parente. E também o crônico, que atinge a maioria das pessoas, sendo constante no dia a dia, mas de uma forma mais suave.

A psicóloga clínica Larissa Toledo, formada pela Universidade São Marcos (SP), é categórica ao dizer que estamos menos tolerantes por conta das demandas da sociedade atual, citando o contato frequente com a tecnologia.

"Hoje temos os smartphones, a internet, que possibilitam que a gente seja contatado em qualquer lugar. E a gente acaba sofrendo uma pressão muito grande, de todos os núcleos que vivemos. Temos um excesso de coisas que nos cobram o tempo todo. E aí o que que acontece? A gente acaba explodindo com mais facilidade", diz.

Por mais simples que seja, separar um tempo para não fazer nada é fundamental, ensina Larissa.

"Hoje a gente tem pouco tempo livre, pouco tempo ocioso. Quando podemos, por exemplo, admirar uma paisagem, pegamos o nosso smartphone e respondemos mensagens e para adiantar alguma coisa do trabalho. O tempo ocioso é importante e a gente perdeu isso e acaba acontecendo essas explosões", acrescenta.

Já a psicóloga Dayana ressalta ser válido seguir o conceito de tolerância no dia a dia. E diz que a pandemia de Covid-19 foi apenas o estopim para este cenário de alerta relacionado ao estresse/irritação.

"[A tolerância] É uma atitude fundamental para quem vive em sociedade. A pandemia foi apenas o estopim que revelou a importância de cuidamos da nossa saúde mental, aonde estão as raízes precursoras do nossos equilíbrios como indivíduos em meio a sociedade", contou.

A condição, no entanto, também está ligada ao estilo de vida do paciente. "Depende da qualidade de vida, das atividades físicas, organização pessoal, se esse indivíduo está passando por um momento de fragilidade", finaliza Dayana Ferreira.

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