O mês de novembro é marcado por campanhas de conscientização de doenças masculinas, pois no dia 17 é comemorado o dia mundial de combate ao câncer de próstata. Com isso, o ENFOCO conversou com especialistas para explicar a importância da data, além de alertar a população masculina sobre a necessidade da frequência regular aos médicos e realizarem seus exames de rotina.
De acordo com dados do Instituto Nacional de Câncer (Inca), o câncer de próstata é o tipo mais comum de câncer entre a população masculina, representando 29% dos diagnósticos da doença no País. O Inca marcou 65.840 novos casos de câncer de próstata a cada ano, entre 2020 e 2022.
Por outro lado, segundo a Sociedade Brasileira de Urologia (SBU) durante o período de pandemia, houve uma baixa procura nos serviços de saúde, entre eles o de prevenção contra o câncer de próstata, trazendo um impacto significativo para a saúde masculina nesse período. Segundo os dados divulgados pela instituição, houve uma redução de mais de 20% nas cirurgias de câncer de próstata entre os anos de 2019 e 2020.
Além da redução nas cirurgias nesse período, a SBU revela que também houve diminuição na coleta para os exames do PSA (Antígeno Prostático Específico, traduzindo para o português) em até 27%, do toque retal e da biópsia da próstata em cerca de 21%, respectivamente
O câncer de próstata não pode ser evitado, entretanto, com um diagnóstico precoce, as chances de sucesso no tratamento são maiores. Como foi o caso do Rafael Queiroz, de 68 anos, que ia pelo menos uma vez por ano aos médicos e sempre fazia seus exames de rotina. Buscava ter qualidade de vida, se alimentava bem, além de realizar atividades físicas, entretanto, em 2012, um de seus diagnósticos apontou uma anomalia.
“Todos os meus exames, como sempre, foram ótimos. Sempre me alimentei bem, mantive atividade física e nunca tive maiores problemas de saúde. Até hoje não fico gripado com frequência. É importante frisar que nunca senti nada. O único exame 'fora do normal' foi o PSA, que deu um valor de 8,4 , quando o valor para a minha idade na época deveria ser no máximo 4. Na consulta de avaliação dos resultados dos exames, ele me recomendou procurar um urologista. Frisou que o PSA alto indicava uma anomalia prostática, que entre vários problemas, poderia ser causado por um câncer."
O músico contou que sua vida mudou radicalmente, mas apesar do baque, buscou se manter positivo, pois ainda tinha muitos motivos para viver, inclusive sua família que o apoiou a todo momento. Com o resultado confirmado, em 2013 Rafael teve que se submeter a uma cirurgia chamada prostatectômica radical. Entretanto, alguns anos depois seu Antígeno Prostático Específico (PSA) continuou a subir, com isso, ele precisou realizar radioterapia.
“Durante 6 anos, até 2019, não tive maiores intercorrências. Meus exames já eram anuais, mas eis que o PSA voltou a subir, indicando que havia uma recidiva, ainda havia células ativas. Fiz um PET SCAN (Tomografia por emissão de positrões), que não apontou nada, mas o PSA continuava a subir. Fui acompanhado por um tempo. Então o Urologista me encaminhou a um Oncologista, que me encaminhou para 35 sessões de radioterapia. Já que era essa a realidade, a opção foi enfrentar. Foram 5 sessões semanais, durante 7 semanas, entre o final de abril e junho de 2020, em plena pandemia."
Rafael até hoje precisa realizar exames. Com isso, ele avisa para os homens que não realizam os exames anuais de próstata: “Faça o exame de toque. Dura uns 3 a 4 segundos. Ninguém vai ficar 'futucando' você. O médico precisa sentir a textura da sua próstata para saber se te manda ou não para uma biópsia. O câncer de próstata descoberto antes da metástase é, na maioria das vezes, totalmente tratável. Exames são para descobrir e tratar as doenças, sejam elas quais forem.”
Recomendações
O médico Urologista e mestre na UERJ (Universidade Estadual do Rio de Janeiro), José Genilson Alves Ribeiro, de 68 anos, explicou que os homens acima de 50 anos precisam ficar mais atentos, embora seja necessário desde jovens buscarem estar em dia com seus exames de rotina.
“O tempo recomendado é que depois de 50 anos as pessoas procurem assistência médica, procure rotineiramente consultórios médicos sem que os sintomas se manifestem. Porque o câncer de próstata nós não podemos fazer a prevenção. Nós podemos prevenir um câncer de pulmão parando de fumar, um câncer de bexiga parando de fumar. O câncer de próstata nós fazemos o diagnóstico precoce, então é importante que através da consulta, do toque retal e da dosagem do antígeno prostático específico (PSA) nós possamos ajudar esse paciente a fazer um diagnóstico precoce do câncer de próstata e consequentemente tratar e curar esse tumor."
Dr. José continua seu alerta aos homens: "Quanto menor, quanto numa fase bem inicial da doença, nós podemos curar esse paciente. Hoje com o advento da ressonância magnética multiparamétrica da próstata, pacientes que não tem sintomas, pacientes que não tem nódulos prostáticos, mas que porventura apresente um PSA elevado, a ressonância magnética nos ajuda sobremaneira a fazer um diagnóstico de uma área suspeita.”
O especialista faz um fala também sobre a relevância de manter uma saúde física: “É importante que nós nos conscientizemos da transformação do modo de vida das pessoas. Realizar atividades físicas é muito importante, principalmente na terceira idade, depois dos 50 anos. Existe um problema relacionado a atrofia muscular, sarcopenia que é uma diminuição do volume das fibras musculares causando uma série de problemas relacionados a isso. Então, homens depois dos 50 anos de idade tem que ter atividade física.”
José Genilson aborda outros pontos necessários para ter qualidade de vida. Como a necessidade de uma boa alimentação, comer mais frutas e legumes e menos alimentos industrializados, assim como alimentos ricos em fibras vegetais, para manter uma boa flora intestinal e o equilíbrio orgânico. Além disso, ele também ressalta a importância de beber bastante água durante o longo do dia.
Outro ponto que ele destaca é o cuidado com a mente: “Nós não somos uma próstata, nós somos uma bexiga, uma mama, um coração. Nós somos seres humanos, homens e mulheres como um todo. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), saúde é um bem-estar físico, psicológico, social, ambiental, funcional e espiritual. Então pensemos como um todo na integralidade.”
“Pessoas rancorosas são muito mais doentes, pessoas que não sabem perdoar, adoecem muito mais. Então é preciso entender que a nossa mente, as nossas emoções influenciam sobremaneira no nosso equilíbrio orgânico. Que as pessoas precisam meditar mais, a contemplação da natureza, o fato de andar na praia descalço, o fato de ir pra floresta, de ir pra bosques, pra praças que tenham árvores, em contato direto com a natureza, isso faz muito bem.”, completou o médico.
Quebra de tabu
De acordo com a Psicóloga Luana Moreira, os homens não possuem os cuidados necessários com a saúde por diversos fatores, incluindo classe social, sexualidade e patriarcalismo. Quando se fala sobre próstata, mesmo com a evolução da sociedade, esse assunto ainda é um tabu diretamente ligado à heteronormatividade. Mas ela ressalta a importância das campanhas de conscientização, pois a informação e a educação faz com que os homens tenham mais cuidados em relação à saúde.
A especialista alerta sobre a necessidade dos homens buscarem tratamentos psicológicos, pois além de doenças físicas, existem as psicológicas que não podem ser ignoradas: “Ainda existe na nossa sociedade, uma crença que cuidar da saúde mental não é importante, que 'homens fazem terapia na mesa do bar'. Fugir de suas vulnerabilidades, de suas questões subjetivas, pode trazer sofrimento psíquico. Esse sofrimento não deve ser negligenciado. Por isso, homens que estão se sentindo deprimidos, sem alegria, sem esperança e desmotivados, seria importante investir na sua saúde mental.”
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