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Paciente volta a andar sozinho após remissão de câncer

Ele passou por uma ‘terapia celular’

Paulo enfrentou o câncer durante 13 anos
Paulo enfrentou o câncer durante 13 anos |  Foto: Arquivo Pessoal

Após quase três meses de passar por um tratamento considerado revolucionário no combate ao câncer, Paulo Peregrino, paciente e publicitário de 61 anos, retomou suas caminhadas em São Paulo. Ele havia lutado contra o câncer por 13 anos e experimentou uma remissão completa do linfoma em apenas 30 dias por meio do tratamento CAR-T Cell, um método inovador que utiliza células de defesa do próprio paciente modificadas em laboratório.

Paulo estava prestes a começar cuidados paliativos quando, entre março e abril, tornou-se o 14º paciente a passar por essa terapia. O tratamento, que é parte de um estudo financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), tem como objetivo combater a doença com as próprias células de defesa modificadas.

Todos os pacientes selecionados para o método tiveram uma remissão de pelo menos 60% dos tumores. O tratamento foi realizado pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e oito dos pacientes ainda estão vivos.

Essa terapia tem como alvo três tipos de câncer: leucemia linfoblástica B, linfoma não Hodgkin de células B e mieloma múltiplo, que afeta a medula óssea. No entanto, o protocolo para o mieloma múltiplo ainda não está disponível no Brasil.

"Acho que só deixei de caminhar um dia ou dois depois da alta. Mas estou falando naquelas caminhadas no fundo do prédio, de cerca de 10 minutos. A fisioterapeuta me viu caminhando e ficou orgulhosa. Disse que ficou impressionada. Talvez por isso me chamo Peregrino", brincou Paulo durante uma entrevista para o “G1”,

Paulo recebeu alta hospitalar em 28 de maio, mas apresentou febre na semana passada, o que o levou a retornar ao Hospital das Clínicas para acompanhamento. No entanto, nesta sexta-feira (16), ele deixou o hospital a pé, carregando uma mochila nas costas. Ele caminhou 2.4 mil passos, percorrendo uma distância de 1.6 mil metros em 25 minutos, até chegar a um mercado. Em seguida, voltou para casa com um motorista de aplicativo.

Quando não está caminhando na área ao redor do prédio onde alugou um apartamento na capital paulista, enquanto ainda é monitorado pelos médicos, Paulo se dedica ao projeto de escrever um livro contando sua saga de mais de dez anos lutando contra a doença.

"Neste fim de semana quero terminar de ajustar a cronologia. Quero inserir dados com ajuda da minha esposa, ver fotos e separá-las por datas. Já são 55 páginas", comemora.

Ele é o caso mais recente de remissão completa em um curto período de tempo entre os 14 pacientes do Centro de Terapia Celular, um grupo de estudos adotado pela Universidade de São Paulo (USP), em parceria com o Instituto Butantan e o Hemocentro de Ribeirão Preto, desde 2019.

Relembre o caso:

Vanderson Rocha, professor de hematologia, hemoterapia e terapia celular da Faculdade de Medicina da USP e coordenador nacional de terapia celular da rede D'Or, está liderando o caso de Paulo.

“Foi uma resposta muito rápida e com tanto tumor. Fico até emocionado, ao ver as duas ressonâncias de Paulo. Fiquei muito surpreso de ver a resposta, porque a gente tem que esperar pelo menos um mês depois da infusão da célula. Quando a gente viu, todo mundo vibrou. Coloquei no grupo de professores titulares da USP e todo mundo ficou impressionado ao ver a resposta que ele teve”, comemorou o especialista.

Dos outros 13 pacientes tratados, assim como Paulo, 69% experimentaram uma remissão completa em 30 dias. O primeiro paciente a passar por essa técnica na rede pública brasileira teve resultados semelhantes aos de Paulo, mas infelizmente faleceu após um acidente doméstico.

Como era x como ficou:

Antes e depois do tratamento
Antes e depois do tratamento |  Foto: Arquivo Pessoal

As duas imagens do Pet Scan (uma tomografia realizada com um contraste especial) mostram "dois Paulos": à esquerda, o paciente que tinha apenas os cuidados paliativos como opção, quando o objetivo é proporcionar conforto, mas sem expectativa de cura; à direita, um paciente com um organismo livre de tumores após o tratamento com CAR-T Cell.

Atualmente, o procedimento no Centro de Terapia Celular é realizado de forma compassiva, o que significa que o estudo aceita pacientes em estágios avançados da doença, e os médicos obtêm a autorização da Anvisa para aplicar o método.

Quando o médico teve contato com Paulo, o publicitário já havia passado por procedimentos cirúrgicos, dezenas de exames e sessões de quimioterapia.

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