Sem intenção
Técnico que limpou sofá é indiciado por incêndio que matou família
Mãe de uma das vítimas ainda segue internada
Um técnico de impermeabilização de estofados foi indiciado por incêndio culposo após a morte de um casal e um bebê em Valparaíso de Goiás, no Entorno do Distrito Federal. O incidente ocorreu dentro do apartamento da família, no qual o profissional estava prestando serviços de impermeabilização no sofá.
O incêndio, ocorrido no final de agosto, resultou nas mortes de Graciane Rosa de Oliveira, de 35 anos, seu marido Luiz Evaldo, de 28, e o filho do casal, Léo, de apenas 19 dias.
A investigação da Polícia Civil, que concluiu o inquérito nesta quarta-feira (23), apontou que o incêndio foi provocado pelo uso inadequado de um solvente inflamável. O produto havia sido adquirido pela própria família para a impermeabilização do móvel.
Durante a aplicação do material, o gás liberado entrou em contato com uma chama acesa na cozinha, o que teria causado a explosão. O técnico, de acordo com a polícia, prestava o serviço de forma autônoma e não orientou os moradores sobre os riscos da operação.
De acordo com o delegado Bruno Van Kuyk, responsável pela investigação, o técnico foi indiciado por agir de forma negligente.
Apesar de não haver intenção de causar o incêndio, a condução do serviço foi imprudente, o que levou ao trágico desfecho
Ele responderá em liberdade pelas mortes e pela lesão corporal de Maria das Graças, mãe de Graciane, que estava no local e sobreviveu ao incidente, embora ainda esteja hospitalizada.
Procedimentos irregulares
O produto utilizado na impermeabilização foi adquirido pela internet, sendo facilmente acessível e sem restrições. Ainda de acordo com a investigação, o técnico aplicou o material em um espaço inadequado, utilizando uma bomba de pulverização em um ambiente fechado entre a sala e a cozinha do apartamento.
As instruções do produto indicam que a aplicação deve ser feita em áreas ventiladas, orientação que não foi seguida. A análise da perícia concluiu que o gás resultante da vaporização do solvente se acumulou no ambiente até atingir a chama do fogão, desencadeando a explosão.
O técnico, em depoimento, afirmou que havia prestado serviços anteriores à família e que, dessa vez, estava realizando a impermeabilização como um favor, cobrando apenas pela limpeza do sofá. A quebra do sigilo bancário das vítimas confirmou que Graciane havia comprado o produto por meio de um site de comércio eletrônico.
Consequências
A perícia técnica descartou outras possíveis causas do incêndio, como falhas elétricas ou vazamento de gás. Todas as estruturas do apartamento estavam em conformidade, restando apenas o contato do gás liberado pelo solvente com a chama como causa da explosão.
Segundo o perito criminal Fernando Lerbach, o gás se acumulou rapidamente e, ao atingir o fogo, espalhou as chamas em alta velocidade pelo apartamento.
A queda do casal e do bebê do sétimo andar, que ocorreu durante o incêndio, foi considerada acidental. O perito explicou que as vítimas tentaram buscar ar fresco na janela, mas se desequilibraram, resultando na queda.
A análise da proximidade dos corpos com a prumada do prédio reforçou a tese de queda acidental, sem evidências de que as vítimas teriam se jogado.
O técnico de impermeabilização, que também se feriu no incidente, tentou socorrer as vítimas e, segundo o delegado, não tinha a intenção de causar o incêndio. "Ele se colocou em risco para tentar salvar as vítimas", ressaltou o delegado.
Relembre o caso
Na manhã do dia 27 de agosto, o incêndio ocorreu no apartamento do sétimo andar de um condomínio em Valparaíso de Goiás, enquanto o técnico realizava o serviço de impermeabilização. Graciane, seu marido Luiz Evaldo, e o filho recém-nascido, Léo, morreram após caírem da janela do apartamento durante o incêndio.
O técnico e a mãe de Graciane conseguiram escapar das chamas, mas sofreram ferimentos. Vídeos gravados por moradores mostram o momento da explosão, seguida por muita fumaça e gritos.
A perícia interditou os apartamentos entre o sexto e o 11º andar do edifício para avaliar os danos estruturais. A liberação dos imóveis só ocorreu após a emissão de um laudo da Defesa Civil, que garantiu que não havia risco de desabamento.
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