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    Tempo seco e nuvem de fumaça: quais os riscos à saúde?

    Especialistas atentam para piora em problemas respiratórios

    Publicado 11/09/2024 às 17:28 | Autor: Pedro Villa Nova e Sofia Miranda
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    Tempo seco pode acarretar síndromes resporatórias
    Tempo seco pode acarretar síndromes resporatórias |  Foto: Quintanilha Filho

    O Brasil vem enfrentando uma temporada de clima seco e baixa umidade nas últimas semanas, como é o caso do Estado do Rio de Janeiro e municípios da Região Metropolitana, como Niterói, São Gonçalo, Itaboraí e Maricá.

    Estas condições climáticas podem acelerar os sintomas de pessoas com síndromes respiratórias crônicas, até causar infecções pulmonares e problemas cerebrais.

    Médicos e especialistas ouvidos pelo ENFOCO dão dicas de como prevenir ou reduzir estes sintomas bem como explicam os riscos reais que as densas camadas de fumaça podem trazer à saúde da população. 

    Incêndios

    A onda de calor provocou 40.391 focos de incêndios por todo o país, entre os dias 1 e 10 de setembro, conforme dados do Programa Queimadas, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), representando mais de 69% dos dados de toda a América do Sul, que contou com aproximadamente 58 mil casos no mesmo período.

    De acordo com cientistas da "IQAir", empresa suíça que monitora condições atmosféricas em todo o planeta, "evidências sugerem que a fumaça de incêndios nas matas aumenta o risco de doenças no cérebro, além de prejudicar pulmões e rins", piorando sintomas de condições como asma e "Dpoc", uma síndrome que engloba bronquite crônica e enfisema pulmonar.

    Além disso, pode aumentar o risco de ataque cardíaco e derrame, e reduzir a capacidade do corpo de combater infecções. 

    Áreas urbanas 

    Conforme a pesquisadora da Fiocruz e pneumologista Margareth Pretti Dalcolmo, as áreas urbanas sofrem ainda mais com o aumento de eventos climáticos, quando somados ao padrão de emissão de gases poluentes das cidades.

    Aspas da citação
    É muito grave a situação das queimadas associado ao excesso de falta de umidade, de secura em largas áreas do Brasil. Nas áreas urbanas se soma a emissão de gases tóxicos de monóxido de carbono e do tráfego. Essa fumaça é constituída não apenas do que vem das florestas, mas da queima de emissão de partículas muito finas e que podem entrar nos alvéolos pulmonares causando um dano que nós não podemos até o momento avaliar se será temporário ou se será um dano definitivo
    Margareth Pretti Dalcolmo, pneumologista e pesquisadora da Fiocruz
    Aspas da citação

    Reflexos 

    À reportagem, a pesquisadora narra que os impactos já podem ser observados à medida que há um aumento na demanda do sistema privado e público de saúde.

    "Nós já percebemos que há um aumento de demanda de emergências quer por exacerbação de doenças crônicas como enfisema pulmonar, como asma brônquica e bronquiolite nas crianças", disse a especialista, sem detalhar números, ou estados e cidades mais críticos.

    Conforme a Secretaria de Estado de Saúde do Rio de Janeiro (SES-RJ), de acordo com determinação do Ministério da Saúde, grande parte dos casos de problemas respiratórios não é de notificação obrigatória, sendo apenas de registro compulsório os casos de síndrome respiratória aguda grave (SRAG), quando há internação do paciente.

    Neste caso, pode haver SRAG por influenza; por outro vírus respiratório; por outro agente etiológico (causador de uma doença); ou SRAG por covid. Pode haver ainda situações de SRAG não especificadas.

    Em 2024, até a última sexta-feira, 06 de setembro, houve 11.540 internações e 1.261 óbitos por SRAG, em todo o estado do Rio de Janeiro.

    Conforme a Secretaria Municipal do Rio de Janeiro, a rede municipal de saúde registrou um aumento de 31,2% nos casos de asma, e de 29,8% nos casos de bronquite de janeiro a agosto de 2024, em relação ao mesmo período de 2023.

    Sintomas

    A intensificação dos eventos climáticos também provoca a confusão no padrão de circulação de vírus, o que torna mais comum a transmissão de infecções em qualquer época.

    "Não há mais sazonalidade do vírus, então considerando a presença de muitos vírus, inclusive um recrudescimento da Covid-19, na qual a maioria dos casos têm sintomas respiratórios, isso está causando uma demanda muito grande de problemas respiratórios cujos principais sintomas são: tosse, uma tosse incoercível que não passa, falta de ar e desconforto respiratório, levando a necessidade de assistência médica", revela a pneumologista Margareth Pretti Dalcolmo, em entrevista ao ENFOCO.

    O impacto das mudanças climáticas será avaliado conforme o acompanhamento no quadro clínico de grupos de pessoas de diferentes idades, que apresentem provas de função respiratória. Neste caso, é avaliado se o dano é temporário relativo a uma causa e efeito associado à uma exposição, ou se será um dano definitivo sobre o aparelho respiratório.

    Substâncias tóxicas

    "Eu cogito a hipótese de ser um dano definitivo porque o número de substâncias tóxicas que têm sido liberadas pelas queimadas, sobretudo por essa fumaça, é muito grande. Lembrando que não é só monóxido de carbono, tem dióxido de enxofre e materiais particulados muito finos que são capazes de entrar no alvéolos pulmonares", aponta a especialista.

    Este processo inflamatório, por sua vez, causa um efeito denominado como "cascata inflamatória", que exige assistência médica e o uso de medicamentos.

    Quais cuidados devem ser tomados? 

    Conforme o infectologista pediátro e professor associado da faculdade de Medicina da Universidade Federal Fluminense (UFF), André Ricardo Araújo, o tempo seco e a baixa umidade do ar favorece a irritação das vias aéreas, como o nariz, pulmão, laringe, traqueia e que resulta em alergia e no desconforto respiratório.

    Em épocas de tempo seco, é necessário um esforço governamental, alerta o médico:

    "O fato de você ter um tempo seco não necessariamente quer dizer que você tenha que ter queimadas, então você tem que identificar os focos, combater e prevenir com atuação primária deste evento. Então neste sentido, a gente precisa fazer medidas de nível individual e em nível coletivo", explica.

    Neste caso, alguns dos cuidados que podem ser tomados individual e coletivamente são:

    - Maior ingestão de líquidos como: água, sucos, água de coco.

    - Evitar bebidas alcoólicas (Apesar de ser líquida, se consumida em excesso, leva à desidratação e piora o quadro clínico)

    - Uso de máscaras em ambientes confinados em que há aglomeração e em lugares com nível de poluição severo

    - Lavagem nasal

    Para medidas caseiras, uma outra dica é colocar balde de água em uma região da casa em que há mais concentração de pessoas, ou quando há possibilidade, umidificador de ar.

    Desafios enfrentados

    Luciano Paez, secretário do Clima de Niterói, disse que neste período do ano, é comum uma redução das chuvas no Brasil, mas reforçou que as ondas de calor no inverno são atípicas e estão se tornando mais frequentes devido às mudanças climáticas.

    "Isso resulta em queimadas e escassez de água, afetando todo o país, apesar de o Brasil ter a maior reserva de água potável do mundo. Niterói está enfrentando esses desafios com medidas eficazes, como a ampliação de áreas de proteção florestal, investimentos em parques públicos e recuperação de restingas", relatou.

    O secretário ainda disse que a cidade está promovendo ações para reduzir o carbono, com o "Programa Social de Redução de Carbono", abrangendo as mais variadas áreas do município desde 2023.

    Por fim, Luciano disse que, a prefeitura lançou o "Plano de Ação Climática", que é, segundo ele, "um documento inovador que orientará a política pública para enfrentar a emergência climática nas próximas décadas, tornando Niterói a primeira cidade do estado do Rio a adotar uma medida desse tipo".

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