Polêmica

Indígenas protestam contra construção de resort em Maricá

Segundo lideranças, recursos da aldeia estão ameaçados

Comunidade alega que um crime ambiental vem acontecendo no local
Comunidade alega que um crime ambiental vem acontecendo no local |  Foto: Péricles Cutrim
 

A comunidade Guarani, da aldeia Ka'aguy Porã, realizou um ato, na manhã desta segunda-feira (17), contra as obras do Resort Maraey, que está sendo construído na restinga de Maricá. Segundo os indígenas, no local, um crime ambiental vem acontecendo.

De acordo com o cacique Darci Tupã, poucos dias atrás, quando as obras tiveram início, ocorreu uma destruição da cobertura vegetal e do frágil solo da restinga.

Segundo os relatos, os homens da aldeia não podem mais circular na Área de Proteção Ambiental (APA) em busca do sapê, material que usam para construir as ocas, e as jovens índias foram barradas dos campos onde encontravam as sementes para fazer artesanatos. 

Cacique Darci Tupã
Cacique Darci Tupã |  Foto: Péricles Cutrim
  

"Queremos uma terra demarcada. Aqui nós pegamos nossa medicina, temos nossa criação de mel, nós pescamos. Quando viemos para cá, nos prometeram que seria nossa, para usarmos da melhor forma possível para viver em paz. Mas em 2023 vemos diferente, os espanhóis estão invadindo pela segunda vez o Brasil, nossa aldeia", disse.

Segundo o Cacique, são cerca de 41 famílias abrigadas na aldeia, com 180 pessoas. Ele alega que não há conversa, por parte das autoridades, com os indígenas do local.

"Nós não estamos invadindo a área, fomos colocados através de um convite, nós queremos uma audiência pública. Queremos a documentação da terra, nossos direitos estão sendo violados mais uma vez, essa maldade sob o nosso povo acaba agora. Eu quero uma audiência pública para reivindicar os meus direitos", ressaltou.

A comunidade ainda afirma que há uma ação judicial que impede a construção. Esse documento foi movido pelas comunidades pesqueiras e indígenas locais, e chegou a cancelar o licenciamento da construção em 2021. Contudo, no dia 3 de abril, a primeira fase de obras do empreendimento na Costa do Sol teve início.

Por meio de nota, IDB Brasil disse que reitera que respeita posições contrárias ao empreendimento e está aberta a debates, mas rebaterá sempre informações falsas, distorcidas ou contrárias à realidade.

"A empresa informa que, não há decisão judicial vigente que impeça o desenvolvimento do empreendimento e que, cumprindo todos os protocolos e autorizações dos órgãos competentes, iniciou as obras de infraestrutura do empreendimento em 03 de abril de 2023.

Esta fase inicial contempla a instalação de viveiro, além de resgate e manejo de flora e fauna, seguidos da demarcação e da limpeza do viário. Não há destruição da cobertura vegetal, nem impedimento de circulação de pessoas, exceto onde estão sendo desenvolvidos as atividades de interesse público. As vias principais serão doadas ao município e servirão como importante eixo entre Itaipuaçu, Centro de Maricá e Ponta Negra, reduzindo o impacto do trânsito na rodovia RJ-106 e, também serão doadas às concessionárias dos serviços públicos as redes de infraestrutura executadas.

A IDB Brasil reforça seu respeito integral à cultura ancestral da Aldeia Tekpa Ka’aguy Hovy Porã (Mata Verde Bonita), que se instalou temporariamente em área privada do empreendimento em 2013, durante o curso do licenciamento do projeto. A empresa trabalha ao lado das lideranças indígenas da Mata Verde Bonita e de representantes da Prefeitura de Maricá e da FUNAI na busca por uma área definitiva para o assentamento permanente da aldeia, mais adequada às necessidades do grupo, com solo fértil e acesso facilitado à água, como pleiteia a comissão de representantes dos indígenas", diz a nota.

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