Cidades
Iniciada operação em novo trecho do VLT no centro do Rio de Janeiro
A Linha 3 do VLT do Rio de Janeiro entrou em operação hoje (26). Agora é possível usar o modal para transitar da estação Central do Brasil ao Aeroporto Santos Dumont, em um trajeto que dura aproximadamente 18 minutos com 10 paradas.
O início das atividades contou com a presença do prefeito Marcelo Crivella. "Este é um investimento de mais de R$ 1 bilhão para que a gente tenha, no centro da cidade, um transporte que não emita dióxido de carbono e não faça aquecimento global", disse.
Três paradas foram batizadas em homenagem a ícones da cultura africana: Cristiano Ottoni-Pequena África, Camerino-Rosas Negras e Santa Rita-Pretos Novos. Os nomes, segundo a prefeitura, foram escolhidos em consenso com o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e entidades do movimento negro e sociedade civil.
Zona portuária
A construção do VLT integra o processo de revitalização da zona portuária do Rio, que tem revelado sítios arqueológicos que preservam vestígios do passado escravagista do Brasil. Nas escavações para colocação dos trilhos da Linha 3, foram achados alicerces e objetos de uma loja de venda de escravos, que funcionou no século XIX. Foi encontrado também vestígios do que teria sido um dos primeiros cemitérios para africanos recém-chegados ao país, os chamados pretos novos.
Outro achado durante as obras da Linha 3 foram 15 ossadas. No local onde estavam os corpos, funcionou a Igreja de São Joaquim, destruída em 1904 em meio às reformas urbanas do prefeito Francisco Pereira Passos. Construído em estilo barroco, o templo seguia a tradição católica da época de sepultar fiéis abastados no interior de sua estrutura, o que faz com que os pesquisadores acreditem que os corpos sejam de membros da elite carioca de outras épocas.
A entrega do novo trecho era a última prevista no projeto do VLT do Rio, que inclui 28 quilômetros de trilhos. De acordo com o município, 50 milhões de passageiros já foram transportados em 32 trens que circulam desde a inauguração do modal em junho de 2016. "A expectativa com a nova linha é que, já nos primeiros meses, o total de passageiros ultrapasse a marca de 100 mil usuários por dia útil", informou a prefeitura em nota.
Decreto
O início das operações da Linha 3 ocorre após a edição de um decreto municipal assinado em 15 de outubro, que busca uma forma para resolver divergências entre a prefeitura e a concessionária VLT Carioca, que administra o serviço. Em março, o prefeito chegou a afirmar que o VLT era uma "porcaria".
Posteriormente, o município divulgou nota afirmando que Crivella se referia não ao meio de transporte, mas ao contrato do serviço firmado antes das Olimpíadas de 2016, sediadas na capital fluminense. A prefeitura disse que o contrato foi redigido a partir de estudos de viabilidade econômica falhos e calculou que haveria um prejuízo de R$ 5 bilhões aos cofres públicos ao longo dos 25 anos em que vigorassem a concessão.
Em julho, a concessionária pediu à Justiça uma liminar para rescindir o contrato, argumentando inadimplência do município. Segundo o VLT Carioca, o total devido pelo município pelos investimentos para a implantação das linhas era de cerca de R$ 150 milhões. A concessionária também disse na ocasião que o pedido de autorização para iniciar a operação da Linha 3 estava sem resposta. A liminar, no entanto, não foi concedida.
O decreto de 15 de outubro estabeleceu um prazo de dez meses para que cláusulas do contrato original sejam rediscutidas entre o município e a concessionária. Para tanto, foi criado um grupo de trabalho. Sete representantes da prefeitura e quatro da VLT Carioca deverão apresentar um relatório final até 31 de agosto de 2020. Estarão em pauta questões como ajuste de tarifa, funcionamento 24 horas e a retirada de circulação de algumas linhas de ônibus no centro do Rio como forma de fortalecer o VLT.
Um dos pontos principais a serem analisados será o ajuste entre o movimento diário de passageiros inicialmente esperado e a quantidade real registrada. O contrato original estabelecia que a prefeitura garantiria a demanda de 85% de 260 mil pessoas por dia. O município entende que esse número se mostrou irreal na prática e gera prejuízo aos cofres públicos.
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