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Maricá inova no tratamento de esgoto e despoluição de lagoas

Desde agosto, os pesquisadores do Aequor monitoram as condições de rios, lagoas e canais da cidade. Foto: Vinícius Manhães - Ascom Maricá

A utilização de biotecnologia para o tratamento de esgoto, com uso de micro-organismos que fazem a degradação dos resíduos, será implementada em Maricá a partir de janeiro de 2021, graças ao projeto Aequor, parceria entre a prefeitura, por meio da Companhia de Desenvolvimento de Maricá (Codemar), e a Universidade Federal Fluminense (UFF).

Um relatório técnico, elaborado pela equipe do Aequor, será entregue à Prefeitura nesta terça-feira (15), e trará uma avaliação da situação da bacia do Rio Mumbuca.

Atualmente, apenas a cidade de Salvador (BA) utiliza este método no tratamento de efluentes, mas como um complemento emergencial ao sistema tradicional, com aplicação de produtos químicos em estações de tratamento quando estão sobrecarregadas.

A forma como Maricá vai aplicar a tecnologia em larga escala faz da cidade uma pioneira e demonstra a preocupação do município em enfrentar a questão da despoluição do sistema lagunar como uma prioridade. "O que estamos trazendo de contribuição são tecnologias que vão ajudar de todas as formas na melhoria da qualidade de vida da população. É um trabalho de inovação", afirma o presidente da Codemar, José Orlando Dias.

O relatório trará orientações para iniciar a aplicação dos micro-organismos no ecossistema: uma vez liberados, esses micro-organismos (chamados probióticos) se alimentam da matéria orgânica presente no corpo hídrico, reduzindo a carga de poluentes e melhorando a qualidade da água.

A liberação pode ser feita tanto por aspersão simples, quanto nas chamadas "mud balls" ou bolas de lama com alta concentração dos microorganismos - neste caso, o sistema é indicado para cursos d´água, pela forma lenta como as bolas de lama vão liberando o conteúdo e fazendo um processo natural de dragagem bem mais rápido e barato que o convencional.

O Projeto Aequor será responsável, ao longo de três anos, pelo manejo seguro e pela produção dos micro-organismos que serão liberados nos corpos hídricos do município.

Uma unidade de produção desses micro-organismos – que se alimentam da matéria orgânica depositada em rios, canais e lagoas da cidade - está sendo construída em São José de Imbassaí, vizinha ao Hospital Municipal Dr. Ernesto Che Guevara, e o projeto terá ainda um espaço para pesquisas no Parque Eldorado, com laboratórios e salas para formação de técnicos.

O investimento da Prefeitura no programa totaliza cerca de R$ 68 milhões, e prevê, além do emprego de biotecnologia no tratamento de efluentes, a revitalização das lagoas da cidade (projeto Lagoas Vivas); o monitoramento da balneabilidade das praias que ficam no entorno das lagoas; a verificação da qualidade da água dos poços artesianos (projeto Água Pura), para garantir seu uso seguro pela população – Maricá é o município com maior número de poços artesianos per capita do país, cerca de 7 mil; e a formação de técnicos na área de meio ambiente em Maricá, pelo Programa de Aperfeiçoamento Técnico-Científico (Patec).

Desde agosto, os pesquisadores do Aequor monitoram as condições de rios, lagoas e canais da cidade, fazendo a medição da camada de lodo acumulada e realizando coletas mensais de água e dos sedimentos desses corpos hídricos, como explica Leonardo Lima, um dos coordenadores técnicos da iniciativa. A bordo de um caiaque, Leonardo coletou amostras no canal próximo ao aeroporto municipal e em outros locais.

“Fazemos análises de nutrientes, polímeros e metais nos sedimentos. Nas amostras de água, analisamos também a quantidade de nutrientes e a presença de bactérias do tipo escherichia Coli, que causam infecções gastrointestinais”, diz Lima.

Com os resultados das análises da água e dos sedimentos, os pesquisadores do Aequor podem definir que tipos de micro-organismos serão usados no tratamento do esgoto da cidade, bem como a periodicidade em que serão liberados em cada corpo hídrico.

“Como cada corpo hídrico tem um comportamento diferente, pois uma vazão de água maior ou menor impacta no nível de sedimentos, de matéria orgânica e de bactérias presentes. E essa variação requer metodologias diferentes na aplicação dos micro-organismos”, destaca o pesquisador.

A praticidade da aplicação pode ser vista também a partir de um detalhamento do projeto Água Pura. Como na maior parte da cidade o tratamento de esgotos previsto pela legislação é o sistema de fossa - filtro e sumidouro e isso contribui para a contaminação do lençol freático, uma ação simples pode ajudar a melhorar a qualidade da água.

Segundo os pesquisadores do Aequor, uma vez identificada uma área com maior grau de contaminação da água subterrânea, as casas da região poderiam receber os micro organismos para serem lançados nos vasos sanitários. Acionada a descarga, estes se alojariam na fossa ou na caixa de gordura, atacando rapidamente a fonte da contaminação.

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