Preocupação
Miosite viral: casos em crianças geram alerta aos pais
Especialista explica o que é a doença e como tratar
Em meio aos altos índices de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) em crianças e emergências lotadas, um novo mal vem preocupando pais e responsáveis: miosite viral. A doença, que normalmente se apresenta após quadros infecciosos, acomete também menores, afetando principalmente a mobilidade.
Hamanda Garcia, enfermeira de 45 anos, percebeu os sintomas no filho, o pequeno Bento, de 8 anos, quando ele começou com um quadro de febre alta, que não abaixava. Ela conta que não havia sintomas semelhantes à gripe, mas começou a estranhar quando ele amanheceu com dores nas pernas.
"Ele me gritou no quarto, dizendo que não conseguia levantar. Apesar do estado geral já ser melhor, ele já estava sem febre, disposto, mas ainda não estava 100% . A gente achou super estranho. Meu marido massageou, alongou com leveza e ele passou o dia mancando. Sentia dor nas coxas, panturrilha", detalhou Hamanda.
Estranhando os sintomas, Hamanda decidiu levar o filho ao pediatra para entender melhor o que estava acontecendo. Após realizar exames, o diagnóstico veio.
"Fizemos um exame de sangue com marcadores para miosite e algumas sorologias para dengue, zika. Quando a gente pegou o resultado, foi um susto, com índices absurdamente alterados. Assim foi fechado o diagnóstico de miosite", conta.
De acordo com o infectologista pediátrico André Ricardo Araújo, professor na Universidade Federal Fluminense (UFF), normalmente a miosite viral é causada ou tem uma associação direta com doenças virais.
"Então, existem algumas doenças virais que depois de cerca de três, quatro dias após o início, começam a aparecer propriamente os sintomas da miosite, que é basicamente uma dor muscular, particularmente nas pernas, coxas e faz com que, em alguns casos, a criança possa até ter dificuldade para andar ou até para de andar", explica.
Ainda de acordo com o especialista, a remissão da miosite acontece de forma espontânea, entre três ou quatro dias após o diagnóstico. Mas é necessário fazer o tratamento adequado.
"Repouso, hidratação, alimentação normal e seguir o acompanhamento da criança após uma consulta médica para descartar outras situações que possam ser mais problemáticas. Nenhum medicamento específico precisa ser dado porque a remissão vai ocorrer de uma forma natural e espontânea. Algumas crianças até acabam internando em um contexto de investigação de outras doenças que possam ser semelhantes", orienta.
Aumento de doenças respiratórias
Um boletim divulgado pela Fiocruz , no dia 19 de maio, aponta o aumento no número de internações infantis por Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) em todo o país. A pesquisa foi feita entre 30 de abril a 6 de maio. Só na rede municipal do Rio, já são cerca de 97 crianças internadas por agravamento de doenças. Em São Gonçalo, na Região Metropolitana, emergências pediátricas do Hospital Estadual Alberto Torres (Heat) e da UPA Colubandê também estão lotadas.
Tosse constante, dificuldade de respirar, uma febre que não baixava nem com medicação. Esses foram os sintomas que fizeram Aline Lubanco, técnica em prótese odontológica de 51 anos, levar o filho Erick Lubanco, de 2, ao Pronto Socorro Infantil de São Gonçalo. Segundo a mãe, na escola do pequeno todas as crianças estavam com os mesmos sintomas.
"A tosse começou num sábado, na madrugada de domingo ele começou a ter febre de 38 graus e foi só aumentando chegando a 39.", relata.
Eu comecei a perceber a respiração dele muito ofegante, um chiado no peito, ele não conseguia comer. Corremos para o hospital
Segundo Aline, os médicos informaram que se ela demorasse mais um dia para levar o pequeno até o hospital, provavelmente ele precisaria ficar internado.
"A médica que atendeu se impressionou com o agravamento tão rápido do quadro dele. Ele tomou injeção de dipirona e fez raio-x. Mesmo assim, a febre não baixava de jeito nenhum. Daí acharam melhor dar outra injeção e fazer uso de outros remédios", contou.
A febre do Erick só cedeu uma hora depois dos medicamentos, e após o raio-x o diagnóstico confirmou pneumonia e bronquiolite.
De acordo com André Ricardo, o aumento dos casos está relacionado à sazonalidade das doenças respiratórias, que ganham forças entre o outono e o inverno.
"De uma forma geral no Brasil, o período de outono e início do inverno é o período em que circulam naturalmente os vírus respiratórios. E eles acometem, preferencialmente, as crianças porque elas têm muito mais contato umas com as outras, principalmente nas idades menores. Então isso acaba sendo o motivo da maior circulação desses vírus nessas crianças", explicou.
Segundo o especialista, essa doença, que é de transmissão respiratória, pode acometer gravemente, em principal, bebês menores de dois anos
"Então ela começa habitualmente com o quadro viral como se fosse um resfriado ou em alguns casos mais importantes como uma gripe que aí você tem sintomas sistêmicos como febre, dor no corpo, moleza. Você pode ter aí complicações dessas infecções atingindo as vias aéreas inferiores. E aí causando pneumonia, insuficiência respiratória e uma série de complicações que leva a internação e isso pode gerar aí internação em UTI", salientou.
Casos fatais
Segundo o infectologista, quando as crianças são acometidas por pneumonia, como no caso do Erick, é necessário ter cuidado extremo. Isso porque, se não monitorado, pode levar a evoluções mais complexas da doença.
"Você tem o comprometimento do funcionamento do pulmão e ele não consegue, por exemplo, fazer a troca de gás que é a função primária desse órgão. Então a pessoa começa a ficar cansada, não consegue respirar de forma adequada e aí o mecanismo natural do corpo começa a falhar. Falhando você precisa de uma ajuda de aparelhos para fazer a função do pulmão, o que pode gerar uma série de complicações", diz.
Prevenção
Uma série de cuidados devem ser adotados pelos responsáveis para garantir a segurança das crianças. André pontua que uma deles é manter uma nutrição e hidratação adequada dos pequenos, como a ingestão de frutas, verduras e legumes.
"Outro ponto é que nós estamos numa época mais fria. Então, é natural que as pessoas tendem a manter os ambientes fechados. E isso acaba confinando as pessoas, aglomerando. Então é interessante manter os ambientes abertos durante o dia, mesmo que esteja um pouco frio para poder circular e renovar", orienta.
O infectologista ainda destaca que é importante fazer uma boa higienização das mãos: "Às vezes, o contato com mão contaminada faz com que a pessoa acabe levando esse vírus diretamente para a via aérea, coçando o rosto, coçando a boca, facilitando a entrada deles e causando esses quadros".
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