'Enzos e Valentinas'
Academias repletas de adolescentes: entenda o fenômeno
Especialistas alertam para riscos e benefícios à saúde
Acostumados a frequentar academias de musculação têm notado o crescimento considerável de adolescentes nos espaços nos últimos anos. Apelidados por frequentadores mais tradicionais de 'Enzos' e 'Valentinas' (nomes que se tornaram populares para crianças), os menores já somam 10% do total de alunos, segundo dados de uma franquia de academias em Niterói, na Região Metropolitana do Rio. Mas será que a iniciativa pode prejudicar o desenvolvimento do corpo? Quais são as contraindicações?
O médico do esporte e cardiologista Mateus Freitas, que também é diretor da Sociedade de Medicina do Exercício e do Esporte do Rio de Janeiro, revela que não há idade mínima para o início de atividades de musculação, mas reforça a necessidade de atenção.
"Por ser uma atividade em grupo, no crossfit é necessário que os professores entendam as particularidades e os limites de cada aluno. Cada pessoa tem uma valência física diferente e, por ser uma atividade competitiva, esse aluno acaba pegando um peso muito maior do que pode suportar, causando lesões ortopédicas", disse o médico.
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O especialista também falou sobre a interferência no desenvolvimento do corpo e a atenção nos exercícios. "Se a intensidade do exercício e as cargas forem controladas, não há interferência no desenvolvimento e crescimento do jovem e pode trazer benefícios motores, mentais e corporais", reforçou o médico.
Quando começar?!
Crianças ou adolescentes com baixa estatura no início da puberdade devem evitar a musculação"
Segundo o pediatra Ricardo do Rego Barros, especialista em medicina para adolescentes e desportiva, dependendo do treino e com supervisão, é possível começar a partir dos 8 anos de idade, mas sem o uso de máquinas.
"A ideia é que a criança aprenda o movimento de maneira correta: não visa a hipertrofia muscular", explica Barros, que alerta: "Fala-se muito sobre prejuízo da estatura final, mas não existem estudos comprobatórios. Agora, crianças ou adolescentes com baixa estatura no início da puberdade devem evitar a musculação".
Pequenos gigantes
Com apenas 16 anos, o norte-americano Tyler Parker impressiona pelo físico. O jogador de futebol americano, que se prepara para a segunda temporada no esporte, é um dos exemplos de menores que não abre mão dos exercícios e já conta com estrutura física comparada à de atletas profissionais.
Entre os principais fatores resultantes da procura pelo 'shape' perfeito ainda na adolescência, também podem ser atribuídos à vaidade provocada pelas redes sociais, a partir de referências públicas como o fisiculturista Ramon Dino e a influenciadora Gracyanne Barbosa, além da preocupação com a saúde no período pós-pandemia.
Regras
Em Niterói, o empresário Leonardo Soder, proprietário de uma academia no centro da cidade, afirma que entre 3% a 5% do quantitativo total de alunos são adolescentes.
"Menores de 14 anos que, normalmente, frequentam minha academia por indicação médica, necessitam de um responsável que os acompanhe nas atividades, até pela obrigatoriedade de acompanhamento com base no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Dos 14 aos 18 anos, os pais assinam uma declaração de autorização de comparecimento, mas não há obrigatoriedade de acompanhamento", esclarece.
Outro ponto levantado pelo dono da academia é a avaliação médica:
"Precisa preencher o PAR-Q (Physical Activity Readiness Questionnaire), que é um questionário aplicado a pessoas antes de começarem as atividades. O objetivo desse formulário é identificar se a pessoa precisa de uma avaliação médica antes de se matricular", completou.
Érica Loback, gerente de outras duas academias na zona sul da cidade, e Guilherme Rangel, coordenador técnico das unidades, informaram que cerca de 150 a 200 menores de idade frequentam os espaços de atividades físicas.
"Reforçamos aqui a necessidade de autorização dos pais, por escrito, para que os menores frequentem as academias da rede e o preenchimento do formulário PAR-Q", explica.
Para ela, o avanço de menores em espaços voltados à prática de musculação também se justifica pela influência das redes sociais.
"Principalmente depois da pandemia, muitos jovens se matricularam na rede. Muita gente teve medo e procurou ter uma rotina mais saudável, mais regrada e buscava mais qualidade de vida. É legal ressaltar também a influência de personalidades do universo bodybuilder sobre esses adolescentes. Um dos fatores que contribuiu muito para a procura pela musculação", finalizou Érica.
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