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Briga com construtora pode fechar tradicional clube de Niterói
Charitas Aero Clube enfrenta disputa judicial com a Soter
Com mais de 80 anos de história, o tradicional Charitas Aero Clube, na Zona Sul de Niterói, Região Metropolitana do Rio, pode encerrar as atividades em breve. Isto porque o espaço de 5 mil metros quadrados está ameaçado judicialmente pela empresa de engenharia Soter, que quer tomar a posse do local. O processo na Justiça se arrasta desde 2007.
O presidente do clube, Paulino Moreira Leite, de 71 anos, lamentou a possibilidade de fechamento e afirmou que a construtora está quebrando um contrato firmado há mais de 60 anos.
“Na década de 1940, aqui eram mais de 155 mil metros quadrados, aviões de guerra pousavam aqui. Com o tempo, foram crescendo prédios ao redor, e a Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC) proibiu voos. Com isso, cedemos 150 mil metros quadrados e ficamos com esse 5 mil atualmente. O tempo se passou e, como aqui foi um dos únicos espaços que sobraram, a Soter vem e fala que quer o espaço pra ela. Eles estão querendo passar por cima do contrato que eles mesmo assinaram. Querem o espaço que pertence ao clube. Eles têm que respeitar o que está no contato, ou seja, respeitar os 5 mil metros quadrados que pertencem ao Charitas Aero Clube”, explicou Paulino.
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Ainda em atividade, o clube, que tem 140 sócios, conta com diversas atividades, como escolinhas de futebol, piscina, sauna, churrasqueiras, entre outras modalidades de lazer. Com uma longa história na cidade de Niterói, o Aero Clube marcou gerações de muitas famílias.
Se eles acham que vão entrar aqui, não vão conseguir tão cedo”
Abalado com a possibilidade do fechamento, Paulino explicou em que pé está o processo e lamentou a situação.
“Este é um processo que foi prematuro e de uma irresponsabilidade enorme. Está tudo assinado. Por ser um processo longo, acredito que o clube não vá fechar tão cedo. Ainda deve demorar alguns anos. Mas é triste, lamentável e nojento o que estão tentando fazer com esse clube histórico. Uma afronta! O interesse financeiro das empresas imobiliárias sempre fala mais alto, se sobrepõe a honra. Mesmo com as escrituras, eles entraram com esse processo contra a gente. É inacreditável. Mas nós não vamos desistir dos nossos direitos”, afirmou Paulino.
Pessoas se comprometeram, não só de palavras, mas de contrato, de honrar um compromisso e preservar o público. Mas depois o interesse financeiro vem e palavras não valem mais nada. É uma falta de respeito com um clube que está em atividade desde 1940”
José Luís, vice-presidente do Charitas Aero Clube, também comentou sobre o processo e afirmou que as empresas estão irredutíveis em dialogar.
“Nós fomos criados aqui, gerações e gerações. Figuras importantes passaram por aqui, o ex-jogador Gerson Canhotinha de Ouro frequentou muito o clube, Eurico Miranda já veio a uma festa aqui também. Isso dá a dimensão do quão importante e histórico é esse clube. É uma pena tudo o que a Soter está tentando fazer com a gente. Eles não querem nem dialogar, não querem conversa”, lembrou José.
No clube, há um comunicado informando que foram esgotados todos os recursos judiciais entre Soter e o Charitas Aero Clube para que a decisão fosse revertida.
"Agora em diante os procedimentos cabíveis para continuar lutando pelo nosso direito de propriedade seriam as ações de usucapião e a ação rescisória nas quais podem ser deferidas liminares sustando qualquer tipo de execução até o final do processo, com a possiblidade ainda de se reverter a sentença originária", diz o informe.
O Tribunal de Justiça do Rio informou que "o processo foi remetido em julho do ano passado ao Superior Tribunal de Justiça (STJ)". Procurada, a Soter não retornou o contato feito pelo ENFOCO até a publicação da reportagem.
Outro clube fechado em Niterói
Em dezembro do ano passado, o clube Combinado 5 de Julho, no Barreto, na Zona Norte de Niterói, na Região Metropolitana do Rio, encerrou suas atividades por causa de uma dívida milionária.
O clube foi arrematado pela empresa Tubarão após ser leiloado em 2020. A dívida ultrapassava os R$ 6 milhões. O Combinado 5 de Julho teve uma existência quase centenária e foi tombada como patrimônio material e imaterial de Niterói.
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