Documentário
História de cartunista de Niterói que desenha famosos vai virar filme
Dan fez caricaturas para capas de livros sobre Pelé e Senna

Ele fez a caricatura de Pelé para a capa do livro de 80 anos do jogador com a aprovação do próprio. Ele fez a caricatura de Ayrton Senna que ilustrou a capa do livro sobre as 41 vitórias do piloto na Fórmula 1. Ele é Daniel Souza da Silva, de 54 anos, ou simplesmente Dan Caricaturas e morador de Niterói, cuja trajetória de vida pessoal e profissional vai virar filme.
O documentário "Traços de uma nova página" está sendo finalizado e a ideia é apresentá-lo em festivais nacionais e internacionais e depois distribuir em salas de cinema paralelamente com sessões em comunidades e escolas públicas do estado do Rio, segundo a Alomnesia, produtora também de Niterói responsável pelo longa-metragem.

Estamos no momento à procura de parceiros para distribuição, agentes de vendas e até co-produtores que se interessem pela história e potencializem a trajetória do filme..
Como surgiu a ideia
Segundo Dan, a ideia do documentário foi uma surpresa para ele.
"Sempre que me apresento em oficinas para crianças, além de fazer atividades de desenho, procuro contar um pouco da minha vida. Então tive a ideia de procurar uma produtora para fazer um vídeo curto, mas, ao contar a minha história para o diretor, acabou virando um documentário", contou feliz o cartunista.
Para o diretor Bruno Rafael, o legado de inspiração às crianças o motivou a fazer o filme.
"O principal fator que me chamou atenção foi a missão da vida do Dan, que se transformou na missão de nosso filme: fazer com que as crianças de comunidades não desistam dos seus sonhos", definiu Bruno Rafael que também é fundador da produtora.
Já para o cartunista, o filme sobre a sua vida expressa um sentimento de conquista por tudo que passou.
Era um menino que não tinha um papel para desenhar (desenhava no papel de pão) e nem um lápis de cor para colorir (só o lápis preto da escola). Fui criado sem a presença do pai, vendo minha mãe sair pra trabalhar até nos fins de semana para sustentar a casa. Sou de favela, onde qualquer deslize pode mudar o destino. Então, ter minha história contada num filme é saber que Deus sempre esteve comigo e nunca me abandonou.
Realidade e ficção
O diretor também explicou como o roteiro do documentário se desenvolveu.
"Trata-se de um documentário híbrido ou docficção, que se desenvolve em dois segmentos paralelos. No elemento documental, acompanhamos a trajetória do Dan organizando um festival de arte na comunidade Coronel Leôncio intitulado 'Caça Talento'. No segmento ficional, atores representam momentos importantes da vida do Dan, acompanhando sua infância e adolescência até o início da sua carreira profissional", detalhou Bruno Rafael.
Veja aqui um trailer do filme.
Quem é Dan?
Dan é cria e mora até hoje na comunidade Coronel Leôncio, na Engenhoca, Zona Norte de Niterói. Desenhava na infância por falta de outras opções de lazer. Mas o que era só um passatempo de criança acabou revelando seu talento.
"Desenho desde criança, foi um dom que Deus me deu. Mas, no início, desenhar era a única diversão porque minha mãe não tinha condições de comprar brinquedos para mim e meus cinco irmãos", contou ele que, já na adolescência, fez um curso básico de Desenho no Senac.
Como as dificuldades financeiras persistiam, ele foi trabalhar para ajudar nas despesas da casa. Foi aí que, aos 16 anos, o desenho entrou de vez na sua vida.
"Nesta época, na oficina do jornal 'A Tribuna', em Niterói, entre uma página e outra que ajudava a montar, ficava desenhando. O diretor (Jourdan Amora) viu uma caricatura que fiz do governador da época (Moreira Franco) e publicou. Passei assim a paginar e ilustrar as matérias em geral. Depois trabalhei em todos os grandes jornais do Rio, fazendo ilustrações, charges e caricaturas", revelou Dan que explicou ainda porque se fixou na caricatura.
Sempre que mostrava uma caricatura pra alguém, percebi que transmitia alegria por ser engraçada. Então vi que seria um meio de alegrar o próximo fazendo esse tipo de trabalho.
E foram tantas que ele nem sabe nem dizer quantas foram produzidas em 40 anos caricaturando. As mais importantes para ele, no entanto, são os do Pelé e Ayrton Senna. A do Rei do Futebol apareceu até no programa "Encontro", da TV Globo, no dia da morte do jogador.

Apesar do seu imenso talento, ele não vive financeiramente dos desenhos.
"Trabalho com criação de artes digitais para uma confecção em São Gonçalo. Já tentei vender as caricaturas, mas em geral o trabalho não é valorizado. Viver da arte no Brasil é complicado", disse.
Prêmios e homenagens
Apesar das adversidades, Dan já participou de vários salões de humor no Brasil e no exterior e ganhou prêmios, como a menção honrosa no Salão de Volta Redonda e 3° lugar no Salão Internacional de Caratinga, Minas Gerais. Ele recebeu também os títulos de Personalidade Gonçalense e Cidadão Niteroiense.
Ele realizou ainda exposições com caricaturas de grandes artistas da MPB, esportistas, além de outras personalidades públicas no Rio, São Gonçalo, Niterói e Itaboraí. No ano passado também lançou o livro "Personalidades do esporte", com 40 caricaturas de esportistas brasileiros e estrangeiros.
Projeto social
Além do trabalho, Dan ainda realiza, com recursos próprios, o projeto social "Desenhando o Futuro" em escolas públicas e comunidades para revelar novos talentos.
"A arte nos leva para o caminho do conhecimento, e o desenho me fez descobrir e conquistar outros horizontes. Começou numa necessidade, tornou-se um hábito e virou uma paixão. Espero deixar um bom legado para aqueles que estão começando", concluiu.


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