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    Segurança

    Medo na UFF: estudar à noite vira desafio dentro do campus de Niterói

    Debate público sobre segurança ganha novos contornos

    Publicado 02/11/2025 às 6:59 | Atualizado em 02/11/2025 às 7:27 | Autor: Ezequiel Manhães
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    Estudantes lidam com pontos escuros no trecho do Instituto de Educação Física da UFF
    Estudantes lidam com pontos escuros no trecho do Instituto de Educação Física da UFF |  Foto: Reprodução

    A rotina de quem estuda à noite na Universidade Federal Fluminense (UFF) tem sido marcada por desafios. De Niterói a outros campi da instituição, estudantes relatam falta de controle de acesso, pouca presença de seguranças, iluminação precária e sensação constante de insegurança em determinadas áreas.

    Para muitos, a universidade pública, que deveria ser apenas um espaço de conhecimento e liberdade, tem se tornado também um território de tensão. Os estudantes preferem não ser identificados, por medo de represálias.

    “A sensação é de falsa segurança. A qualquer hora uma pessoa pode te abordar partindo do pressuposto que qualquer um tem acesso à universidade. Nas proximidades do Bloco P é perigoso e mal iluminado”, relata uma estudante veterana do campus do Gragoatá, o mais citado nas denúncias. 

    Uma aluna de Pedagogia, de 30 anos, também comentou sobre a situação:

    “É muito escuro, com pouca circulação de pessoas e ainda menos de seguranças. Causa muita insegurança, principalmente pra quem é mulher.”

    Ao ENFOCO, a UFF afirma que a segurança da comunidade universitária é uma preocupação permanente.

    "A despeito dos desafios orçamentários, no primeiro semestre de 2025, foram destinados R$ 11,3 milhões aos contratos de vigilância, portaria e zeladoria, assegurando o funcionamento das equipes em todos os campi. A UFF conta hoje com 951 câmeras operacionais no sistema Monitora UFF, sendo 563 instaladas no campus do Gragoatá, em Niterói", esclarece.

    Sem controle?

    Apesar de ser uma universidade federal, conforme apontam os relatos, a UFF não conta com catracas nem qualquer outro sistema de identificação obrigatória em boa parte dos prédios, o que, para a maioria dos entrevistados, aumenta a vulnerabilidade de todos que frequentam o campus. Pessoas de fora circulam livremente, muitas vezes sem qualquer abordagem, dizem as queixas.

    A Universidade Federal Fluminense alega que a instalação de catracas e equipamentos de controle de acesso "segue em estudo no âmbito institucional", considerando os debates internos e as diferentes visões da comunidade sobre o tema.

    "Com certeza, a não identificação de quem entra e quem sai dos blocos nos deixa vulneráveis. Entendemos que a universidade é pública e qualquer um deve ter acesso ao seu derredor, no entanto, ao menos nos blocos, deveria haver uma forma de identificação", argumenta outra aluna de 21 anos, estudante do 7º período de Pedagogia.

    Uma estudante de 19 anos, de Processos Gerenciais com ênfase em Empreendedorismo, relatou já ter presenciado brigas entre pessoas externas e alunos. Outra graduanda do 9º período de Pedagogia afirmou que evita certos pontos à noite por receio.

    "O lugar que eu não me arrisco a passar é o caminho que dá ao Instituto de Educação Física. Evito também dar bobeira, ficar de papo... É bom para cortar caminho, mas na parte da noite, para mim, é inacessível", explica.

    Iluminação precária

    A má iluminação nos arredores dos blocos acadêmicos e vias internas do campus do Gragoatá é apontada como um dos principais problemas. Os trechos próximos ao bloco P, à biblioteca e ao Instituto de Educação Física são os mais criticados.

    “Evito ir andando pra faculdade nesse horário. Espero o ônibus do BusUFF ou pego o 47 pra soltar na entrada principal, mas quem estuda nos blocos de trás não tem essa opção”, comenta uma futura pedagoga.

    Melhorias

    Em nota à reportagem, a universidade informou que está realizando a substituição constante de lâmpadas queimadas, a instalação de refletores de LED e a implantação final do sistema Monitora UFF, que permitirá acompanhamento em tempo real. 

    "Também está em desenvolvimento um canal via WhatsApp para contato direto com supervisores de segurança e uma linha exclusiva para situações emergenciais", revela a UFF.

    A presença de seguranças é considerada insuficiente por muitos estudantes. Uma delas disse ver agentes circulando de moto, mas em frequência reduzida. Relatos de assédio também foram mencionados.

    “Evito os locais mais afastados e vazios do campus, sempre buscando passar em locais mais movimentados e com melhor iluminação. Já soube da ocorrência de assédios”, contou.

    Posição do DCE

    A diretora executiva do Diretório Central dos Estudantes (DCE) Fernando Santa Cruz, Brenda Amorim, reconhece os desafios enfrentados pela comunidade acadêmica.

    Segundo ela, "a segurança nos campi da UFF ainda está muito aquém do que deveria ser" e o problema não se limita à universidade, mas também reflete a situação do estado do Rio de Janeiro.

    Militante do coletivo Juntos, Amorim também relata que, no último semestre, houve tumulto com pessoas de fora da universidade, o que contribuiu para a sensação de insegurança.

    Aspas da citação
    Nos recentes casos de pessoas que vieram à universidade e tentaram provocar alunos e criar a narrativa de ódio à universidade pública, nós exigimos que a UFF se responsabilizasse pela segurança dos discentes
    Brenda Amorim, diretora executiva do DCE
    Aspas da citação

    Para Brenda, a iluminação precária e a resposta insuficiente a casos de violência e assédio, especialmente contra grupos sociais marginalizados, são pontos centrais da vulnerabilidade nos campi. 

    “Dois [fatores] que se destacam são a questão da iluminação dos campi à noite e uma insuficiência nas respostas a casos do tipo, especialmente nos casos de assédio e violência contra grupos sociais marginalizados”, pontuou.

    Brenda explica que, ao receber uma denúncia, o DCE tenta dialogar com a vítima para oferecer apoio e cobra respostas da instituição. Nos últimos anos, o Diretório tem pressionado pela recomposição do orçamento universitário, condição que, segundo ela, limita avanços em segurança.

    Controvérsias no controle de acesso

    A diretoria do DCE não vê o controle de acesso como prioridade geral do movimento estudantil.

    “Entendemos o espaço da universidade como um espaço público, que é importante não somente pras pessoas que estudam e trabalham na universidade, mas também para toda a comunidade”, defende.

    Ela ressalta que laboratórios e ambientes de risco já contam com entrada controlada por meio de identificação e que restringir o acesso geral à universidade poderia comprometer a proposta de inclusão e trocas culturais.

    Impactos

    De acordo com a diretora do DCE, a falta de segurança impacta diretamente na permanência estudantil, sobretudo de mulheres, pessoas LGBTQIAPN+ e estudantes do período noturno.

    “O DCE é composto, hoje, majoritariamente por pessoas dos grupos citados, por isso entendemos na pele o quanto as questões de segurança afetam o corpo estudantil”, afirmou.

    O Diretório Central dos Estudantes tem diretorias específicas e diz que vem realizando debates, atos e mobilizações por melhorias, como a recomposição orçamentária e reforço da iluminação. Para Brenda, é preciso ir além das medidas institucionais, sendo necessárias mudanças estruturais na sociedade.

    “Creio que ainda tem muito a avançar. […] A UFF sozinha não vai resolver todos os problemas de segurança que os estudantes passam, pois estes acabam sendo problemas de nível social que afetam toda a população”, conclui.

    Articulações

    Paralelamente aos demais investimentos citados pela UFF, a Instituição diz que tem buscado articulação com o poder público e apresentou à Prefeitura de Niterói um ofício com prioridades de segurança para os campi no âmbito do Pacto Niterói Contra a Violência, além de ter participado de reunião com a comissão executiva do programa para reforçar a necessidade de atenção especial ao entorno do campus do Gragoatá.

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    Ezequiel Manhães

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