Exemplo
Obra de professor de Niterói com crítica ambiental é destaque na Europa
Robson Martins transforma lixo em arte

Mente criativa. Assim pode ser definido o professor aposentado de Artes e morador de Niterói, na Região Metropolitana do Rio, Robson Martins, de 73 anos, que une o talento das artes plásticas com a preocupação de preservação do meio ambiente. Um dos seus trabalhos mais recentes, com sugestivo título "Abelha Crucificada", foi inclusive exposto recentemente em uma galeria em Vigo, na Espanha.
Mas unir a arte com a mensagem de sustentabilidade vêm de longa data, em atividades escolares nas quais as avaliações estavam ligadas ao reaproveitamento de materiais descartáveis e em seus trabalhos individuais como artista plástico desde a década de 1990.
"Usava os materiais recicláveis também, quando comecei a trabalhar em 2017 no Ciep 449 (Brasil-França), em Niterói. Com 25 alunos, realizamos o 1° intercâmbio em Paris, com a missão de criar instrumentos/objetos sonoros com materiais descartáveis. Assim criamos tambores, usando papelão, chocalhos com teclados de computador e rabecas com caixas de leite e sucos. Foi inesquecível nossos alunos interagindo, ensinando aos franceses o batuque, o funk, o hip-hop", contou.
Iniciativa premiada
A iniciativa de criar os instrumentos com objetos alternativos também foi premiada em outros momentos, como na "Francofonia", evento que convocava escolas públicas e privadas do Rio que ensinam o francês para apresentações de teatro, dança e música.
"Fomos muito felizes em todos os projetos que sugeri, pois resultaram em cinco anos seguidos de 1° lugar. Ver alunos do Ciep tocando tambores de papelão, agogôs de lata de spray e chocalhos de teclados de computador e ganhar de violinos, teclados digitais e violoncelos dos institutos privados não tem preço", recordou radiante.

Criatividade sem fim
Um dos "instrumentos" mais recentes inventados por Robson com recicláveis, agora como aposentado, foi o inusitado 'Beriano', composto por cinco berimbaus numa caixa de piano feita de compensados e teclas com as formas das notas musicais em estrutura giratória, com manivela e cordas de violão. A obra está exposta atualmente no Centro de Arte Hélio Oiticica, na Praça Tiradentes, área central do Rio.
"Hoje, aposentado, o meu tempo é exclusivo para a produção de arte. Duas vezes por semana, vou ao ateliê e fico de cinco a oito horas observando, experimentando. E estou muito envolvido pelas questões da Terra e venho desenvolvendo gravuras com matrizes que a Terra nos dá: folhas que recolho nas ruas. Texturas, formas e cores", detalhou o multiartista, que também escreve e canta.
Exposição internacional
Ele descreve como reflexão à importância do meio ambiente a obra "Abelha crucificada" exposta em galeria na Espanha.
"Ano passado li a notícia sobre a morte de abelhas (imagem de uma caixa cheia delas mortas) devido ao excesso de agrotóxicos. Fiquei impressionado, pois sem as abelhas não temos vida. Construí então um crucifixo de madeira e imprimi em tamanho A3 a imagem de uma abelha. Recortei e com dois pregos a crucifiquei. No início, acrescentei a frase bíblica "Pai, perdoa-lhes, pois eles não sabem o que fazem". Mas quando veio o convite para participar da coletiva internacional organizada pelo coletivo do qual faço parte, retirei a frase, pois a mensagem é muito identificável e o objetivo é a reflexão sobre o meio ambiente", argumentou.

Galeria de arte na escola
Trago nas entranhas a paixão pela arte que significou ter um olhar raio-x para expressar uma mensagem e desenvolver aulas criativas e surpreendentes
O professor também foi responsável por desenvolver um projeto que contou com 200 alunos da rede pública em São Gonçalo.
"Ocorreu em 2002 no Colégio Estadual Dom Antônio, quando promovemos pela primeira vez na escola a união de professores e direção visitando uma galeria de artes", contou Robson.
Este foi apenas o pontapé para um projeto mais ousado: criar uma galeria de artes com trabalhos dos próprios estudantes. Isto aconteceu na Galeria Heitor dos Prazeres, inaugurada no Colégio Estadual Ismael Branco, também em São Gonçalo, e funcionamento há 19 anos com exposições ininterruptas.
Cerca de 800 produções
Como ele diz, a arte sempre fez parte da sua trajetória: desde desenhos aleatórios, passando por estudos de técnicas acadêmicas de artes visuais até participação de exposições individuais e coletivas em diversas galerias, inclusive três vezes no Museu de Arte Contemporânea de Niterói (MAC) a cursos de arte contemporânea e atuação no magistério.
"A arte, esta criatura diáfana, às vezes, insana, subjetiva, encantadora, vive em mim, inseparável. Na verdade, sempre pensei em viver de arte, ser artista, mas a necessidade de pagar boletos nos leva à sensatez. Mas hoje vejo que, em toda a minha vida, ela sempre esteve participando", definiu.
Segundo Robson Martins, entre estudos de desenhos, pinturas, esculturas, instalações, ocupações, performances, ele já produziu cerca de 800 obras.


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