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    Mudanças climáticas

    Praia de Niterói pode desaparecer até 2100; saiba qual é

    Pesquisa da UFF mostra que o mar pode 'subir' na região

    Publicado 18/05/2025 às 7:32 | Autor: André Silva
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    Segundo estudo, praia de Piratininga está entre as mais expostas as mudanças climáticas
    Segundo estudo, praia de Piratininga está entre as mais expostas as mudanças climáticas |  Foto: Péricles Cutrim

    As vulnerabilidades ambientais da orla de Niterói, na Região Metropolitana do Rio, diante da possível elevação do nível do mar até 2100 foram tema de um estudo divulgado pela Universidade Federal Fluminense (UFF), com publicação em março deste ano pela revista suíça "Coasts". A pesquisa analisou riscos socioeconômicos e impactos ambientais em diferentes regiões da cidade.

    O trabalho analisou todos os bairros costeiros da cidade, desde as praias da Baía da Guanabara a Região Oceânica, considerando quatro fatores principais: exposição às ondas, presença de ecossistemas protegidos, densidade populacional e renda per capita.

    De acordo com o professor Fábio Dias, professor do Departamento de Geografia da UFF e responsável pela orientação do projeto, “a maioria dos municípios brasileiros não está preparada para enfrentar as mudanças climáticas. A escassez de recursos e a falta de capacidade técnica são as principais razões para esse desnível. Entra aí a contribuição da universidade para alimentar e alertar os tomadores de decisão”.

    Segundo Dias, o estudo buscou avaliar a resposta de diferentes áreas Niterói com base na densidade populacional e no poder aquisitivo.


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    Na parte social, a renda e a densidade demográfica mostram a capacidade de resposta de uma área frente a um problema. Temos a ideia do número de afetados por quilômetro quadrado e, em relação à renda, o poder aquisitivo de um grupo para conseguir reverter uma situação negativa.
    Fábio Dias Professor do Departamento de Geografia da UFF
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    O professor alerta que a elevação do mar, provocada pelo derretimento de geleiras e pela expansão térmica dos oceanos, pode causar mudanças severas.

    “O aumento do nível do mar, impulsionado pelas mudanças climáticas, representa uma ameaça significativa para cidades costeiras como Niterói. As projeções para 2100 variam, mas mesmo um aumento moderado pode desencadear uma série de alterações ambientais e climáticas com impactos profundos na região”, alertou o docente.

    Entre os riscos apontados estão a intensificação de tempestades e ressacas. “A combinação do aumento do nível médio do mar com marés altas, ressacas e tempestades pode levar a inundações costeiras mais frequentes e extensas, atingindo áreas urbanas, infraestruturas e ecossistemas costeiros”, explicou Dias.

    Ele também mencionou que “o aumento da temperatura da superfície do mar pode intensificar a força de tempestades e ciclones tropicais, resultando em ondas maiores e mais destrutivas que atingem a costa com maior frequência”.


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    A elevação do nível do mar torna a linha de costa mais suscetível à erosão causada por ondas e correntes. Tempestades mais intensas também contribuem para a perda de sedimentos e o recuo da linha de costa
    Fábio Dias Professor do Departamento de Geografia da UFF
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    Proteção ambiental

    O estudo ainda mostra que a vegetação costeira cumpre um papel importante na proteção ambiental.

    “A perda de vegetação costeira, como manguezais e áreas de restinga, pode agravar significativamente o impacto das mudanças climáticas em cidades como Niterói. Essa vegetação desempenha um papel na proteção contra os efeitos do aumento do nível do mar e de eventos climáticos extremos, além de contribuir para a mitigação das próprias mudanças climáticas”, afirmou Dias.

    Sobre os manguezais, o professor destaca que "os manguezais atuam como barreiras naturais, dissipando a energia das ondas e das marés, reduzindo a intensidade das inundações costeiras e protegendo as áreas terrestres contra a erosão. A destruição dos manguezais remove essa proteção natural, tornando as comunidades costeiras mais vulneráveis a eventos extremos".


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    Inundações e outros eventos extremos podem sobrecarregar ainda mais esses sistemas, levando a falhas generalizadas no fornecimento de serviços essenciais
    Fábio Dias Professor do Departamento de Geografia da UFF
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    A densidade populacional também foi apontada como um fator de agravamento. “Uma elevada densidade populacional representa que um número maior de pessoas, residências, infraestruturas e atividades econômicas estão localizados em áreas baixas e costeiras que serão diretamente afetadas pela elevação do nível do mar, inundações e erosão”, explicou Dias.

    Praias Oceânicas

    Águas tomam a areia da praia de Piratininga
    Águas tomam a areia da praia de Piratininga |  Foto: Arquivo Enfoco

    As praias voltadas para o oceano, como Itacoatiara e Piratininga, estão entre as mais expostas, segundo o estudo.

    “As praias da Região Oceânica de Niterói são geralmente consideradas mais frágeis ambientalmente por estarem mais expostas à ação de ondas de maior energia, correntes marinhas e ressacas, que podem causar erosão significativa e rápida alteração da linha de costa”, explicou o professor.


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    A elevação do nível do mar pode inundar permanentemente áreas de manguezal e restinga, levando à perda de habitat para diversas espécies de peixes, crustáceos, aves e outros animais. Se a vegetação não conseguir migrar para áreas mais altas em um ritmo adequado, a perda será ainda maior
    Fábio Dias Professor do Departamento de Geografia da UFF
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    O que pode ser feito?

    Entre as soluções sugeridas estão o controle do crescimento urbano, reforço de estruturas de proteção e programas de gestão ambiental. Os pesquisadores também alertam para os riscos em áreas como o Barreto e o Centro, que apresentam renda per capita inferior a R$ 650, em contraste com bairros como Icaraí, onde os valores passam de R$ 1.700.

    A Prefeitura de Niterói, por meio da Empresa de Infraestrutura e Obras (Emusa), concluiu recentemente o projeto de um reservatório subterrâneo no Estádio Caio Martins, com capacidade para 80 milhões de litros.

    A obra, voltada para conter alagamentos, deve ocupar dois terços do campo, com demolição de parte das arquibancadas, e integrar uma nova rede de drenagem que passará por ruas de Icaraí e adjacências.

    Estudo da Nasa aponta riscos para o Rio

    Ressaca na praia do Leblon, na Zona Sul do Rio
    Ressaca na praia do Leblon, na Zona Sul do Rio |  Foto: Arquivo Enfoco

    Um estudo da Nasa divulgado em 2023 também identificou a cidade do Rio de Janeiro como uma das capitais brasileiras mais vulneráveis ao aumento do nível do mar nas próximas décadas. A pesquisa da agência espacial americana usou dados de satélite para projetar cenários de elevação das águas e seus impactos em áreas urbanas próximas à costa.

    Os estudos globais apontam que o Brasil, com sua extensa linha costeira, não está imune às consequências do aumento do nível do mar. As regiões Sul, Sudeste, Norte e Nordeste do país estão particularmente vulneráveis, com locais como Ilha do Governador, na Zona Norte, Duque de Caxias e Campos Elísios, na Baixada Fluminense, entre as mais afetadas.

    As áreas densamente povoadas, com infraestrutura crítica, podem ser permanentemente comprometidas caso o aquecimento global siga seu curso atual.

    Além da capital fluminense, cidades como Campos dos Goytacazes, no Norte Fluminense, e Cabo Frio, na Região dos Lagos, também enfrentam a possibilidade de inundações catastróficas, caso as emissões de gases de efeito estufa continuem no ritmo atual, conforme alertam os cientistas.

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