Heroísmo
'Só fiz o meu papel', saiba quem é o motorista de ônibus que evitou uma tragédia em Niterói
Condutor jogou ônibus em mureta após pane nos freios na RJ-104
O que parecia ser mais um dia de trabalho se transformou em uma verdadeira aventura digna de filme. Lembrança que ficará guardada na memória de Marcelo Martins, de 35 anos, o motorista de ônibus que em poucos segundos precisou tomar uma difícil decisão: impedir que um coletivo lotado descesse desgovernado à rodovia RJ-104, na manhã desta quarta-feira (10). Os freios do ônibus da linha 488M, trajeto Vista Alegre–Niterói, da empresa Fagundes, não funcionaram na descida da localidade conhecida como Caixa d’Água, sentido Centro de Niterói, obrigando o motorista a jogar veículo contra a mureta lateral da pista.
Morador do bairro Estrela do Norte, em São Gonçalo, Marcelo relatou os momentos de tensão ao perceber a falha mecânica ainda no início da descida, enquanto o trânsito avançava lentamente.
“Eu percebi na segunda curva da Caixa d’Água. Estava em velocidade moderada por causa do congestionamento. Quando notei a falta do freio, procurei o freio estacionário e também não obtive sucesso”, disse.
Com o ônibus ganhando velocidade devido à inclinação, o motorista tentou reduzir a marcha para minimizar o impacto. Nada funcionou. Foi então que decidiu utilizar a mureta do acostamento na tentativa de parar o coletivo.
Decidi utilizar a mureta para evitar uma tragédia. Fiz consciente e sabia que aquilo ajudaria a parar o ônibus. A outra mureta, na esquerda, estava tomada de carros
Sábia decisão
O motorista revela que lembrou de uma orientação específica recebida em um curso sobre como agir em situações de pane na descida. Segundo ele, as muretas são projetadas justamente para amenizar impactos laterais sem risco de tombamento. “A colisão lateral não levaria risco de o ônibus virar”, justifica.
Ao jogar o veículo contra a mureta, o motorista conseguiu reduzir a velocidade até conseguir parar. Dentro do ônibus, porém, o cenário era de pânico total. Muitos passageiros estavam a caminho do trabalho e foram surpreendidos pelo impacto.
Após o ocorrido, os passageiros entraram em pânico, o que é normal depois de uma situação dessa. Mas logo depois me prontifiquei a ajudar e dar soluções para que todos saíssem bem do coletivo
Segundo ele, os passageiros só entenderam a gravidade no momento da colisão. Até então, ninguém havia percebido a ausência de freios. Marcelo disse que tomou a decisão de agir primeiro para evitar que o ônibus ganhasse mais velocidade e causasse um acidente ainda maior.
O coletivo seguia com lotação máxima no momento da pane: “Eu estava com lotação de banco e outras pessoas em pé. Acredito que o ônibus estava na capacidade máxima”.
Herói sem capa

Marcelo atua como condutor há dois anos e afirma que nunca havia passado por um episódio semelhante. Sobre os elogios e a repercussão do caso, ele é direto.
“Agradeço pelos elogios, mas só cumpri meu papel de motorista profissional, podendo evitar uma tragédia. Foi tudo muito rápido e, em fração de segundos, tive que tomar uma decisão. Habilidade e conhecimento fazem toda a diferença”, afirmou.
Ele também reconheceu que sua atitude carregou elementos de heroísmo, embora destaque que essa definição varia entre diferentes interpretações.
“O heroísmo é um conceito subjetivo que muda entre pessoas e culturas, mas costuma envolver coragem, altruísmo, resiliência e a vontade de ajudar ou defender uma causa maior. Diante dos fatos ocorridos, hoje eu pude contribuir para uma causa maior. Então sim, me considero um herói”, afirmou.
O que diz a empresa
Em nota, a Fagundes lamentou o incidente e agradeceu a atuação do motorista, afirmando que ele evitou consequências mais graves. A empresa informou que o ônibus foi imediatamente recolhido para inspeção e que todas as revisões preventivas estavam em dia, seguindo o cronograma técnico.
A companhia enviou equipes ao local para prestar apoio aos passageiros. Segundo a Fagundes, ninguém sofreu ferimentos graves e as causas da falha já estão sendo apuradas.
Descida da morte
O trecho onde ocorreu o acidente desta quarta-feira já ficou conhecido como 'descida da morte'. Isso por conta dos inúmeros casos envolvendo veículos que, sem freio, acabaram colidindo em outros automóveis resultando em graves acidentes, alguns até com vítimas fatais.
Em agosto, moradores chegaram a estender uma faixa na passarela que fica na altura do Hospital Getúlio Vargas Filho (Getulinho), na Alameda São Boaventura, chamando atenção para o perigo no trecho.

André Silva
Repórter
Bastante ativo na cobertura cultural, ja foi contemplado com o Prêmio Themis de Jornalismo, concedido pelo TJRS. Além da cultura, caminha por várias editorias, inclusive em cobertura de eventos internacionais, como a Cúpula do G20 e o encontro dos Brics.

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