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Prematuridade: um desafio à medicina

A cada ano, nascem antecipadamente mais de 20 mil bebês somente no Estado do Rio de Janeiro. Foto: Divulgação - Ascom Saúde

O alto número de partos prematuros gera um alerta. A cada ano, nascem antecipadamente mais de 20 mil bebês somente no Estado do Rio de Janeiro. Para ajudar a prevenir a prematuridade e informar sobre suas consequências para o bebê, a família e a sociedade, foi criado o Novembro Roxo, o Mês Internacional de Sensibilização para a Prematuridade, campanha mundial que propõe o debate sobre a prevenção e reflexões sobre a humanização necessária para o atendimento aos prematuros. Novembro abriga ainda o Dia Mundial da Prematuridade, celebrado no dia 17.

Mais de 10% dos recém-nascidos do estado nos últimos 5 anos são prematuros (bebês com menos de 37 semanas de idade gestacional). Entre eles, mais de mil estão dentro da faixa etária dos prematuros extremos (abaixo de 28 semanas de gestação). Em 2018, de um total de 220.540 nascimentos no estado, 23.333 (10,6%) foram prematuros. Já em 2019, foram 208.222 nascidos, 22.600 (10,8%) dos quais prematuros. Em 2020, até agosto ocorreram 136.059 partos, sendo 15.563 (11,4%) antecipados.

Com a prematuridade, surgem fatores de risco como o peso ao nascer menor que 2.500g (que é o principal fator de óbitos relacionados considerado pelo Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira, da Fiocruz) e o Apgar (índice usado para avaliar o ajuste imediato do recém-nascido à vida extrauterina) menor que 7 no quinto minuto de vida, aumentando o número de recém-nascidos que demandam atenção especial.

Consequências a evitar

Entre os diversos fatores que podem levar à prematuridade, estão os maternos (idade, nível socioeconômico, escolaridade, uso de drogas e tabagismo, doenças como diabetes, hipertensão, autoimunes, cardíacas, entre outras patologias que a mulher possa ter antes ou desenvolver durante a gestação), as infecções maternas adquiridas durante a gestação, as gestações múltiplas (gemelares) e as alterações anatômicas de desenvolvimento da placenta e do feto (malformações congênitas).

O parto prematuro pode causar atrasos em diversos níveis no neurodesenvolvimento e deixar sequelas físicas com consequente incapacitação, como dificuldade de aprendizado.

“Há um comprometimento emocional, de tempo e socioeconômico não só do indivíduo, como da família e também do estado como um todo”, comenta Roberta Serra, parte da equipe médica de assessoria em neonatologia da Coordenação Materno-Infantil da Superintendência de Unidades Próprias e Pré-hospitalares da Secretaria de Estado de Saúde.  

Parte importante da prevenção do parto prematuro é o acompanhamento pré-natal adequado, o que envolve não só o número de consultas, mas também o início apropriado, que deve ocorrer assim que for descoberta a gravidez, e a qualidade do atendimento, incluindo a disponibilidade de exames laboratoriais e de imagem, identificação precoce das gestações de alto risco, continuidade da atenção assistencial até o final da gestação.

“Um pré-natal de qualidade possibilita a identificação de problemas e possíveis riscos com objetivo de termos tempo oportuno para tentar alguma intervenção”, afirma a médica.

Sobre a solução para o problema, Roberta acrescenta.

“O tratamento da prematuridade, na verdade, deveria começar na prevenção. Entretanto, levando em consideração que nem sempre será possível, inclui diversas ações que são realizadas de acordo com a idade gestacional e o peso de nascimento, os fatores de risco para infecção, presença de alterações anatômicas (doenças cardíacas, neurológicas ou intestinais, por exemplo), o desenvolvimento pulmonar e a capacidade de manter uma oxigenação adequada, bem como a capacidade de manter batimentos cardíacos e pressão arterial também dentro de valores adequados”.

Para cuidar do prematuro, a medicina precisa vencer desafios como a fragilidade dos órgãos, principalmente do cérebro, e conseguir fazer uma recuperação nutricional ao longo das primeiras semanas de vida. Os cuidados envolvem suporte ventilatório (em que há diversos níveis de complexidade de oferta de oxigênio), suporte nutricional (oferta de nutrientes), uso de antibióticos, medicamentos para ajudar no controle dos batimentos cardíacos e da pressão arterial, para ajudar a urinar e na maturação do pulmão. Podem também ser necessários procedimentos cirúrgicos.

“São quadros complexos que exigem uma equipe profissional multidisciplinar dedicada, especializada e apaixonada e uma linha de cuidados específicos, porém bem ampla”, descreve ela.

Humanização necessária

A prematuridade traz à tona a necessidade de humanização no atendimento aos bebês e suas famílias.

“O cuidado do prematuro está além das tecnologias. É preciso entender a necessidade da integralidade multiprofissional ao atendimento destes pacientes, bem como a importância de trazer os pais para dentro desses cuidados e a dedicação profissional a esse mundo completamente diferente”, defende Roberta.

No Hospital da Mulher Heloneida Studart, em São João de Meriti, a humanização é colocada em prática com a ajuda de voluntários que contribuem para a realização de projetos que fazem a diferença na vida dos bebês prematuros internados na unidade, como o Octo e a redinha.

No Projeto Octo, voluntários enviam cerca de 300 polvinhos de crochê por mês para a instituição, ajudando os bebês a se aconchegarem melhor. Os tentáculos evitam que o prematuro puxe os fios do monitor e trazem segurança, pois são feitos para imitar o cordão umbilical. Quando o bebê recebe alta, o polvinho vai junto com ele.

Outra ação voltada aos prematuros do hospital é a técnica da redinha, que surgiu de uma pesquisa sobre formas de acalmar as crianças. Os bebês de até 1,8 kg são colocados em uma espécie de rede que ajuda as crianças que saíram prematuramente do útero a se sentirem embaladas, como se ainda estivessem no corpo da mãe. Quem providencia as redes é a enfermeira Berta Félix, funcionária da unidade.

Nesse processo, o papel dos pais é fundamental. Eles devem ser incluídos desde o início na linha de cuidado, sendo informados de riscos, benefícios, possibilidades e demais informações, além de estar conectados com a equipe multiprofissional do atendimento.

O Método Canguru, por exemplo, estimula a presença dos pais e o contato da pele com seus filhos tão logo a estabilidade clínica, peso e idade permitam. Os pais devem ser treinados e orientados sobre todos os cuidados para que se sintam seguros quando precisarem realizar por conta própria.

A recompensa é ver o bebê ganhar peso, diminuindo seu tempo na UTI, até poder ir para o lar da família. Após a alta hospitalar, são necessários cuidados ambulatoriais multiprofissionais durante um longo período de tempo, com objetivo de acompanhar e tratar sequelas, estimular o neurodesenvolvimento e detectar de forma precoce qualquer alteração que possa ocorrer.

Quem trata celebra

Para lembrar a data, o Hospital Estadual da Mãe de Mesquita realizou diversas atividades a respeito do tema. No dia 17, todos os bebês internados no Bloco Neo (Unidade Intensiva e Unidade de Terapia Intensiva), receberam presentes roxos, como sapatinhos, gravatinhas e lacinhos.

Para registrar o momento, cada mamãe recebeu uma foto emoldurada do seu bebê e kit na cor roxa com toalha de rosto bordada, máscaras personalizadas e um sabonete. Foi exibido um vídeo com bebês prematuros nascidos na unidade e que já completaram 1 ano de idade saudáveis. A intenção é incentivar a superação com foco no aleitamento materno como principal fator para o desenvolvimento sadio.

Na mesma data, a equipe do Hospital Estadual Azevedo Lima, em Niterói, fez uma ação com palestras sobre o assunto para todos os colaboradores. No auditório, foram abordados temas como Métodos Humanizados na Neonatal e Indicadores; Relato de experiência de vida e profissional; e Dinâmica dos Sentidos. A fachada da unidade foi iluminada na cor roxa para divulgar a campanha.

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