Por dentro
ENFOCO entra na casa do filme 'Ainda estou aqui'; veja fotos
Imóvel cinematográfico fica na Urca, na Zona Sul do Rio
Entre as casas coloniais do bairro da Urca, na Zona Sul do Rio, fica a famosa residência onde foi gravado o sucesso ‘’Ainda Estou Aqui’’, lançado em novembro de 2024 nos cinemas brasileiros. De uma esquina a outra da Rua Roquette Pinto com a Avenida João Luís Alves, é possível notar a charmosa casa de muros baixos. Três meses após a estreia do filme, o local tem sido procurado por espectadores do filme.
A ida até a casa, localizada de frente para a famosa mureta da Urca, é um complemento da experiência cinematográfica movida pela obra de Walter Salles. O local foi escolhido ainda em 2021, quando o longa começou a sair do papel. Na ocasião, o imóvel estava disponível para locações. Atualmente, foi anunciado à venda pelo valor de 3 milhões de dólares, o que equivale a quase R$ 18 milhões, de acordo com a cotação desta quarta-feira (8).
Segundo o corretor do imóvel, Marcelo Dias, a casa lembrou, desde o primeiro momento, a residência onde viveu a família de Rubens Breyodt Paiva, retratada na obra. A família real viveu no Leblon, também na Zona Sul carioca, no entanto, a casa foi destruída ainda no início da década de 1980, para dar espaço a um prédio residencial.
‘’Na época das gravações, os atuais proprietários tinham intenção de fazer uma reforma. Em seguida, a produção veio, nos procurou, eles ficaram meio aluga-não aluga, mas como eles tem o Departamento de Arte, resolveram e fizeram a locação para casa do filme’’, explicou.
Após o fechamento do contrato de locação, foi iniciado o processo de reforma e adaptação do local para se tornar o máximo parecido com a casa original. Todo o processo de ambientação e gravação durou cerca de um ano e quatro meses, conta o corretor.
Quando os proprietários passaram em frente à casa, tomaram um susto. Eles (produção) tinham feito adaptações em relação ao filme. As paredes mudaram. Aquele amarelo envelhecido ficou interessante. Ela (dona) colocou a mão na cabeça: ’Minha casa!’ Eu falei: ‘Não, fica tranquilo que vai ficar como estava no original. Isso é só uma gravação.
O resultado tornou a Rua Roquette Pinto um pedaço da década de 1970 em 2023. ‘’Bom, todo mundo ficou encantado, perguntando o que estava acontecendo aqui. De repente, viam que estava sendo gravado um filme que o pessoal não tinha ideia de qual seria, viam carros antigos, a casa toda modificada. Foi muito bacana'', afirmou o profissional, que faz a corretagem do imóvel há 40 anos.
Ponto turístico
Três meses após a estreia do filme, o local tornou-se um ponto turístico, procurado por espectadores desejosos de ver o local onde ‘’moraram os Paiva’’. É o caso da estudante Joana Carvalho, de 32 anos, que foi com a família até o local.
‘’Eu tinha visto o filme e aí depois saíram as notícias dizendo que eles tinham gravado aqui na Urca. Agora que a Fernanda Torres também ganhou a premiação, eu vim aqui atrás da casinha para tirar fotos. Eu achei bacana. Ela é bem bonitinha e eu estava vendo as fotos da casa no Leblon e é bem parecida com a que eles realmente moravam’’, afirmou a acreana.
Sucesso de bilheteria
O longa concorreu na categoria de Melhor Filme em Língua Não Inglesa, na premiação Globo de Ouro. Já Fernanda Torres, que interpretou a esposa de Rubens, se destacou com a atuação fidedigna à existência de Eunice Paiva e garantiu o Globo de Ouro na categoria de Melhor Atriz de Drama. A artista concorreu ao lado de outros nomes de peso, como Kate Winslet, Nicole Kidman, Pamela Anderson, Angelina Jolie e Tilda Swinton.
O sucesso de bilheteria e de reconhecimento nacional tornou comum a ida de fãs até a residência. Da calçada, com câmeras apontadas para dentro da casa, a curiosidade varre todo o imóvel, na esperança de prolongar a experiência cinematográfica.
‘’Eu gostei mais da parte de dentro porque era onde eles dançavam. Também tem as janelas, acho que tudo. E também essa rua aqui, onde eles estavam indo embora, a Vera grava na câmera, eles indo embora, mostrando a casa, os amigos’’, destacou a jovem Elisa Tavares de Souza, de 13 anos.
A estudante fez questão de levar a família para assistir ao filme. Na última segunda-feira (8), de passeio na cidade, a fã também garantiu que os pais Leonardo e Luciana conhecessem o cenário que ajudou dar vida à obra.
‘’Saímos emocionadíssimos da sessão. E aí, chegando ao Rio ontem, o primeiro passeio que ela (filha) quis fazer já foi vir aqui’’, explicou a mãe, Luciana Diniz.
O longa retrata a vida da família Paiva, composta por Rubens Paiva, interpretado por Selton Mello, a esposa, Eunice Paiva, interpretada por Fernanda Torres, e seus quatro filhos. O filme se passa no ano de 1971, quando o regime militar brasileiro explorava suas facetas mais repressivas.
Adaptado do livro de Marcelo Rubens Paiva, filho do ex-deputado federal, a obra capta os momentos de resiliência e sofrimento vividos pela família na ausência de Rubens, perseguido e executado nas dependências do Destacamento de Operações de Informações - Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-CODI) do 1º Exército, localizado na Rua Barão de Mesquita, na Zona Norte do Rio.
Para a moradora da região, Niuceli Magalhães, de 81 anos, as gravações foram uma experiência única. ‘’A comunidade toda participou intensamente das gravações porque é uma rua pequena. Então eles tinham que fazer interdições e tal. Então, teve um envolvimento muito forte e foi uma experiência única também. O Walter Salles é um iluminado. Ele trabalhando parece ser um Buda, com aquela calma, aquela paz e fez um trabalho magnífico’’, elogiou.
Juventude atropelada pela ditadura
Ainda de acordo com a moradora, assistir às gravações e posteriormente ao filme foi a oportunidade de revisitar um momento emblemático de sua vida. Na época do regime, aos 20 anos, ela conta que chegou a perder colegas de classe.
‘’Minha consciência política só brotou na universidade, onde eu soube de um colega meu, que era uma paz, o Yuri. Os pais eram comunistas. Um belo dia, a gente abre o jornal e tem a notícia que ele teria morrido em confronto com a polícia. Aquilo me deu um choque de realidade forte e minha consciência brotou aí’’, lembrou nostálgica.
Segundo a mulher, a movimentação no bairro é intensa após o filme, um resultado que a surpreende positivamente.
‘’Teve um fluxo muito grande de pessoas, de jovens de todas as idades, de todos os lugares do Rio de Janeiro vindo. Eu achei muito importante o pós-filme, o pós-gravação porque tocou todas as consciências’’, afirmou.
Após o término da gravação, a casa foi devolvida em seu estado original e não preserva mais nenhum elemento de cenografia, uma dúvida recorrente de quem passa pelo local. Mas o corretor conclui: ‘’A casa continua com seu charme e sua beleza’’.
Perdeu documentos, objetos ou achou e deseja devolver? Clique aqui e participe do grupo do Enfoco no Facebook. Tá tudo lá!