Mais segurança

'Mototáxis clandestinos' em apps de corrida acendem alerta no Rio

Cadastro e reconhecimento facial seriam de outras pessoas

Motociclistas e usuários relatam preocupação com a falta de segurança e fiscalização
Motociclistas e usuários relatam preocupação com a falta de segurança e fiscalização |  Foto: Divulgação / Marcelo Camargo / Agência Brasil

A disparada de viagens feitas com motocicletas de aplicativo, devido à rapidez, acende um alerta sobre os critérios de habilitação dos condutores, além das condições dos respectivos veículos.

Um motorista de app, que atua no setor há oito anos, diz que não há verificações rigorosas de determinadas plataformas que concedem o serviço. As mais famosas são Uber e 99 App.

"Vejo muitas motos velhas que não estão nem em condições de rodar", afirmou o denunciante, que não quis se identificar, por medo de represálias. 

O tema veio à tona após um acidente na RJ-104, em Niterói, na Região Metropolitana do Rio, onde motociclista e passageira perderam a vida, na última segunda-feira (10).

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"Moto é pra quem tem o dom, [assim] como outras profissões. Nunca pode achar que pode comprar uma moto e fazer como aplicativo, sem ter experiência e vocação para motocicleta", apontou o leitor Eduardo Rodas, no grupo do ENFOCO, no Facebook.

A reportagem recebeu denúncias de práticas irregulares envolvendo motociclistas que supostamente seriam cadastrados em empresas do setor. 

Acidente

A designer de unhas Anna Caroline Soares Fernandes, de 29 anos, morreu na manhã da última segunda após a moto em que estava cair na RJ-104, na altura da Caixa D'Água, no Fonseca, em Niterói.

O condutor, que trabalhava para uma plataforma, também não resistiu aos ferimentos. Ele não foi identificado pelas autoridades. O caso chocou os moradores da região.

Preocupação

Motoristas parceiros e usuários de aplicativos têm relatado preocupações significativas com a falta de segurança e fiscalização adequada nas plataformas de transportes.

Para o ENFOCO, a Uber garantiu que a corrida feita por Anna Caroline não foi solicitada pela plataforma mas, até a publicação desta reportagem, não comentou os questionamentos sobre a segurança das viagens. 

A 99 App, também questionada, não deu retorno aos questionamentos.

Fiscalização

O Detran RJ diz que faz 16 operações de fiscalização diárias em toda a Região Metropolitana do Rio, em parceria com a Polícia Militar e a Polícia Civil, na chamada Operação Siga Legal.

"Nessas operações, são verificados, entre outros itens, os documentos de habilitação de todos motoristas, inclusive os que trabalham para aplicativos. Encontrando algum caso como este, o motorista será multado e o carro ficará retido até que seja indicado um motorista habilitado para retirá-lo. Se isso não ocorrer, o veículo será levado a depósito. Ninguém pode dirigir sem documento de habilitação", enfatizou o órgão em nota. 

'Mototáxis clandestinos'

Após a implementação do serviço de moto por app no Estado do Rio, os condutores legais alegam que passaram a concorrer com ''mototáxis clandestinos'', que conforme a denúncia, migram para as plataformas, criando contas falsas e operando sem habilitação.

Funciona da seguinte forma, ainda de acordo com os relatos: o motorista se cadastra com outra pessoa e depois circula normalmente pelo aplicativo, já que este não pediria reconhecimento facial novamente. 

"Eles estão migrando para os aplicativos, fazendo contas falsas e operando sem habilitação, o que prejudica quem realmente trabalha corretamente", revelou um motociclista, que não quis se identificar.

O cadastramento dos motoristas varia entre as plataformas. Segundo o denunciante, a Uber exige que os veículos tenham no máximo 10 anos de uso e que os motoristas possuam habilitação com atividade remunerada.

Já a 99, aponta o denunciante, permitiria veículos mais antigos e não exigiria a habilitação específica, o que pode ser visto como uma falha grave.

Perigo

O motorista defende que o poder público precisa intensificar as inspeções para garantir que os condutores estejam operando dentro da legalidade. "Nossa vida vale muito mais do que chegar rápido ao destino", concluiu.

A preocupação com a segurança é compartilhada por muitos passageiros, que são aconselhados a verificar sempre se a foto do motorista e a placa do veículo correspondem às informações no aplicativo, para garantir uma viagem segura.

Através das redes sociais, os usuários das plataformas de viagem também relataram insatisfação com o serviço de moto.

Em um comentário, um dos leitores do ENFOCO diz: "As empresas deveriam mostrar todo histórico e tempo de habilitação do condutor. [...] Preferem comprar uma moto e buscar o caminho mais rápido para ganhar dinheiro".

“Será que o condutor tem tempo de habilitação, dom para lidar com motocicleta, experiência de trânsito, curso e direção defensiva?”, escreveu outro leitor.

SP sem motos por app

Na cidade de São Paulo, os serviços de moto por aplicativos 99 e Uber não estão disponíveis. As plataformas decidiram suspender a oferta desse serviço em 30 de janeiro de 2023, após vários conflitos com a prefeitura paulistana.

O prefeito Ricardo Nunes (MDB) levantou preocupações quanto à segurança e saúde da população. A discussão sobre regulamentar ou proibir os mototáxis na cidade já vem ocorrendo há muito tempo.

Antes de as duas empresas anunciarem a interrupção do serviço, um decreto de Nunes havia suspendido a operação em 7 de janeiro. A partir desse ponto, foi formado um grupo de trabalho para debater a regulamentação municipal dos mototáxis.

"A atitude da 99, assim como da Uber, reforça a preocupação com a segurança e a saúde da população de São Paulo no trânsito urbano, baseando-se em dados técnicos da Secretaria Municipal de Saúde", declarou a prefeitura em nota na ocasião.

A gestão de Nunes justificou a proibição do serviço de transporte por moto na 99 e Uber como parte do objetivo da cidade de reduzir o número de mortes no trânsito.

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