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Saúde de Itaboraí agoniza em meio às luzes de natal

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|  Foto: Foto: Karina Cruz
População que carece de medicamentos da Farmácia Básica de Itaboraí não encontra medicamentos essenciais. Foto: Karina Cruz

"O que está acontecendo com a Saúde de Itaboraí?"

O questionamento da pedagoga, que nesta reportagem será identificada como A.F, de 54 anos, faz coro a outros moradores da cidade, que se desesperam em busca de atendimento hospitalar. A.F acompanha a luta da mãe, de 79, portadora de diabetes e Alzheimer.

Apesar do alto investimento de R$ 1,4 milhão para a iluminação natalina, quem vive na cidade denuncia falta de medicamentos na Farmácia Básica de Itaboraí — isso há cerca de três meses.

Natal garantido

Com o Natal Luz de Itaboraí, o prefeito Marcelo Delaroli (PL) declarou que o clima 'consolida um novo momento para Itaboraí'. Ele lembrou que 'são conquistas para um povo que estava esquecido'.

Mas pacientes que fazem uso de serviços básicos de saúde do município, sob administração do secretário de Saúde Sandro dos Santos Ronquetti, consideram estar totalmente abandonados, já que faltam remédios para diversas doenças - das leves às mais graves. "Um simples rivotril não tem", contou uma denunciante.

A Farmácia Básica precisa oferecer de segunda a sexta-feira, das 8h às 17h, medicamentos gratuitos do componente estratégico e do componente básico, além de disponibilizar remédios anti-hipertensivos; para tratamento de diabetes, inclusive com insulinas; colesterol, analgésicos, antitérmicos e anticoncepcionais. 

Saúde de Itaboraí
Mesmo apresentando receitas, familiares de pacientes estão com dificuldade de ter acesso aos medicamentos. Foto: Karina Cruz

A cozinheira Viviane Reis, de 39 anos, por exemplo, tem lutado para garantir medicamentos à cunhada, de 49, que sofre de transtorno mental.

Ela afirma que no Centro de Atenção Psicossocial Adulto – CAPS Celeste Maria Campos, onde a paciente é atendida, não tem refeição (café da manhã, almoço, janta), há pelo menos um ano.

"Aqui na farmácia tem quatro meses que espero a Olanzapina de 10mg que a minha cunhada precisa tomar e nada. Custa R$ 189 uma caixa com 30 medicamentos. Ela toma 120 comprimidos por mês. Entrei com processo na regulação, mas tem esse tempo todo e nada. É um medicamento que regula a situação do cérebro dela, porque se não ela começa a perder tudo"

CAPs

Moradores também reclamam da estrutura do CAPS Celeste Maria Campos, em condições precárias e sem acessibilidade.

No espaço, os pacientes que sofrem de transtornos mentais têm oportunidade de participar de oficinas de artes, realizar atividades físicas, além de receber orientações sobre autocuidado e demais ações que promovam o bem-estar de cada um.

A unidade é responsável pelo atendimento de pessoas com problemas psiquiátricos visando à recuperação da saúde mental e a integração do paciente com sua família e comunidade, apesar de não ser esse o cenário ideal encontrado por quem precisa.

"O sistema de saúde todo de Itaboraí é uma vergonha. O CAPS parece uma fazenda abandonada. Já fui na Ouvidoria, Ministério Público. Os banheiros precisam ser adaptados, porque a maioria dos pacientes tem deficiência física. Não tem fechadura nas portas, hoje em dia está com buraco. Os pacientes internos estão sem comida. O que adianta não ter o básico?"

Reis contou que costuma oferecer, por conta própria, pão e café às pessoas que aguardam por atendimento. "Um dia desses eu vi um paciente que possui transtornos mentais pedindo comida na porta de vizinhos", disse.

Do próprio bolso

Sem amparo na saúde pública do município, famílias de Itaboraí estaríam tirando do próprio bolso o investimento para medicações. No espaço destinado à distribuição de fraldas geriátricas faltam materiais.

"Há três meses vou buscar fralda e não tem. Por que uma licitação está demorando tanto? Minha mãe sofre de alzheimer e diabetes, e os remédios que ela tem direito simplesmente acabaram. A diabetes dela é inconstante, às vezes temos que parar no hospital. Uma das funcionárias disse que não tem jeito e que temos que comprar. Se é direito, o que está acontecendo?"

A.F. cuida da mãe de 79 anos. A idosa sofre de diabetes e alzheimer

Hospital

Saúde de Itaboraí
Segundo denúncias, há falta de especialistas no Hospital Municipal Desembargador Leal Júnior. Foto: Karina Cruz

Já no Hospital Municipal Desembargador Leal Junior, nesta terça (14), um paciente que fraturou o pulso, após cair da escada durante uma obra, acabou não encontrando especilista em Ortopedia na unidade hospitalar da sua cidade. Mesmo com dor, o pedreiro, de 43 anos, que mora no bairro Ampliação, precisou se deslocar até o Hospital Estadual Alberto Torres, no Colubandê, em São Gonçalo.

"O clínico geral me atendeu, fez raio-x e me encaminhou para o Alberto Torres, porque aqui não tem aparelho para colocar o pino. Acho isso uma vergonha, absurdo sair daqui para ir a outro município"

Resposta

Procurada, a Secretaria Municipal de Saúde (SEMSA) disse que instalou o Sistema de Regulação e ampliou os números de consultas e exames na rede como, por exemplo, há uma oferta de 90 atendimentos de neurologia somente por semana.

Já na especialidade de urologista, a pasta disse que o município contava com apenas um profissional na gestão anterior, e hoje já somam três na rede.

Em relação aos medicamentos, a SEMSA conta que está com o processo de licitação que deve acontecer na próxima semana.

A Secretaria Municipal de Saúde diz que tem controle dos pacientes atendidos, mas ressalta que muitos casos estavam desatualizados, por isso, está sendo realizado reajuste para aprimorar ainda mais o atendimento.

Segundo a Prefeitura, as fraldas são distribuídas mediante a procura do usuário e a renovação dos documentos necessários, como a declaração do médico. Sobre a alimentação do CAPS Celeste Maria Campos, a SEMSA informou que a situação está regularizada.

A ausência de ortopedia no Hospital Municipal Desembargador Leal Júnior e do aparelho de pressão foram considerados pontuais. A SEMSA junto com a direção da unidade ressaltou que acompanha a regularização do serviço e a escala dos plantões não registrando mais faltas pontuais desse profissional.

“A unidade conta com estrutura necessária para realizações de atendimento desta especialidade”, continua.

No entanto, sobre o valor de investimento para o Natal Luz, que poderia ser destinado ao setor da saúde, por exemplo, a administração de Marcelo Delaroli informou que fará uma programação especial para o fim do ano. E que além da iluminação, acontecerão feiras com empreendedores locais, apresentações de danças, e atividades esportivas.

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