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Sobrando segunda dose, Fiocruz e Governo do Rio divergem sobre antecipar AstraZeneca

Servidor da Fiocruz prepara vacina de Oxford/AstraZeneca para a primeira aplicação no Brasil.
Servidor da Fiocruz prepara vacina de Oxford/AstraZeneca para a primeira aplicação no Brasil. |  Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil
Para Fiocruz prazo de intervalo para a segunda dose deve ser mantido. Foto: EBC

A recomendação do Governo do Estado feita na última terça-feira (13) para que municípios adiantem a segunda dose da vacina da AstraZeneca gerou dúvidas sobre os reais motivos dessa decisão por parte do governador, Cláudio Castro (PL). Segundo ele, a medida tem o respaldo de especialistas, e visa o aproveitamento de doses que já estão nas cidades.

O governador afirmou que a decisão de autorizar os municípios fluminenses a anteciparem de 12 para oito semanas a aplicação da segunda dose da vacina Astrazeneca foi tomada em conjunto com o Conselho das Secretarias Municipais de Saúde (Cosems). Segundo Castro, foram levados em consideração aspectos como a quantidade de doses que as cidades já têm em estoque para completar o esquema vacinal da população e a entrada de novas variantes da Covid-19 no estado.

No entanto, a recomendação da Fiocruz, fabricante do imunizante no Brasil a partir de insumos importados, é que a segunda dose seja aplicada em um intervalo de 12 semanas ou três meses.

Para o infectologista e professor da Universidade Federal do Rrio de Janeiro (UFRJ), Edimilson Migowski, a decisão de reduzir o intervalo entre primeira e segunda dose da AstraZeneca pode acontecer uma vez que existem vacinas em estoque. Ele também enfatiza que o prazo proposto de três meses seria para dar tempo de receber novas remessas.

"Num primeiro momento, quando havia a escassez do produto, o aumento do intervalo foi bom pra tentar segurar uma primeira dose com mais pessoas e a segunda quando chegasse. Agora, se você tem possiblidade de perda de validade da vacina, doses sobrando, não vejo nenhum inconveniente em antecipar a segunda dose. Desde que essa antecipação não comprometa e tenha fundamento nos estudos clínicos que foram conduzidos com vacina com intervalos menores do que foi proposto e com respostas satisfatórias"

Já o infectologista da Universidade Estadual do Rio e Janeiro (UERJ), José Pozza Júnior, explica que o intervalo é uma possibilidade para os municípios adiantarem, mas que vê com ressalvas a proposta do governador.

"Talvez seja uma possibilidade [de encurtar o prazo] mas, você fazendo um intervalo de três meses ao invés de dois, consegue ganhar um mês praticamente de folga pra chegarem mais doses pra completar o esquema, conseguindo imunizar mais rápido a população. O intervalo foi justamente definido pra ter as primeiras doses disponíveis considerando que a primeira já gera um valor de proteção alto e após na ainda mais"

Fiocruz

Após as nova recomendação do governador, a Fiocruz esclareceu, em nota, para que o intervalo proposto inicialmente de 12 semanas se mantenha. A fundação alega que considera dados que demonstram uma proteção significativa já com a primeira dose e a produção de uma resposta imunológica ainda mais robusta quando aplicado o intervalo maior, o caso, de três meses. Adicionalmente, o regime de 12 semanas permite ainda acelerar a campanha de vacinação, garantindo a proteção de um maior número de pessoas.

O órgão diz ainda que, até o momento, a AstraZeneca tem se demonstrado efetiva na proteção contra as variantes em circulação no país já com a primeira dose. Adicionalmente, em relação à variante delta, uma pesquisa da agência de saúde do governo britânico, publicada em junho, aponta que a vacina britânica registrou 71% de efetividade após a primeira dose e 92% após a segunda para hospitalizações e casos graves. Os dados são corroborados também por um estudo realizado no Canadá, que apontou efetividade contra hospitalização ou morte, para a variante Delta, após uma dose da vacina da AstraZeneca de 88%.

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