Cidades

Sobreviventes do Bumba, em Niterói, em risco de nova tragédia

Publicada às 16h51. Atualizada às 20h10.

"Não sai de lá viva para ser soterrada aqui. Eu não tenho para onde ir, a gente não consegue comer e nem dormir direito. Eu deixo a janela aberta de madrugada com medo de acontecer alguma coisa e eu não ter para onde fugir"

Imagem ilustrativa da imagem Sobreviventes do Bumba, em Niterói, em risco de nova tragédia
|  Foto: lucas benevides
De acordo com moradores, a última encosta desabou por volta das 6h desta quarta-feira (3). Foto: Lucas Benevides

Mais de 10 anos após a tragédia do Morro do Bumba, em Niterói, moradores do condomínio Várzea das Moças, construído para abrigar famílias vítimas do acidente, revivem o medo e a tensão de um novo pesadelo. Isso porque rachaduras na encosta e um novo desabamento no local onde fica a moradia alerta para um passado assombroso.

De acordo com moradores, a última encosta desabou por volta das 6h desta quarta-feira (3), próximo às janelas de dois apartamentos, o pânico foi geral. Ana Paula Francisco, de 45 anos, precisou sair com a filha e os netos dos quartos com medo de serem atingidos.

"Já vivemos esse trauma com a tragédia do Bumba, passa um filme na nossa cabeça, não morremos por pouco. Além disso, a Defesa Civil já tinha vindo aqui antes desse desabamento e alegou que não havia riscos, eles vão esperar o que agora? Outra trágedia?"

O vizinho, Adelino José, de 67 anos, revela que acordou assustado com o barulho e relembrou a trágedia vivida em 2010.

sobreviventes do Bumba
Morador Adelino mostra o termo emitido pela Defesa Civil. Foto: Lucas Benevides

"Eu e minha esposa acordamos no susto, lá no Morro do Bumba eu fui retirado dos entulhos. Eu estava me preparando para ir com minha família dormir em um hotel, mas não deu tempo e desabou tudo"

Defesa Civil

Residentes do condomínio garantem que a Defesa Civil de Niterói esteve no local nesta quarta (3) e isolou a área, emitindo um termo de responsabilidade para os moradores dos apartamentos próximo à encosta. No entanto, a falta de segurança ainda preocupa.

"Como que a Defesa Civil só da um laudo e sugere minha filha dormir na sala? Não faz sentido! Se desabar uma parte, desaba tudo! Nós estamos aqui há mais de 10 anos, ninguém nunca veio nos dar uma assistência, só nos jogaram aqui e pronto. Fora que dentro dos prédios há rachaduras, isso aqui é um perigo, mas não temos para aonde ir, todos que moram aqui são de baixa renda".

Ana Paula Francisco, moradora

Outra encosta, localizada nos fundos do condomínio próximo ao estacionamento, também preocupa, pois parte já desabou e permanece isolada pela Defesa Civil, segundo moradores, há mais de três meses.

As idosas Deise Gomes, de 66 anos, e Maria Rodrigues, de 64, relatam a angústia de reviver o tormento do risco.

sobreviventes do Bumba
Encosta que desabou nesta quarta. Foto: Lucas Benevides

"A sensação é estarmos voltando no tempo, nosso pior medo é reviver tudo novamente. Poxa, a natureza está dando sinais, jogaram a gente aqui como se não fossêmos ninguém. Viemos de uma trágedia e não queremos viver outra"

Deise Gomes

Várzea das Moças

O condomínio foi entregue pelo Governo do Estado em 2010, com 93 apartamentos a famílias que perderam suas casas em consequência das chuvas no Morro do Bumba, em Niterói. As moradias ficam na Estrada Velha de Maricá e as residências possuem dois quartos, cozinha e banheiro.

As unidades faziam parte do Programa de Arrendamento Residêncial (PAR), do Governo Federal, mas de acordo com o Diário Oficial da União de 16 abril de 2010, elas foram transferidas para o Programa Minha Casa, Minha Vida. O valor total do investimento foi de cerca de R$ 4,7 milhões.

Tragédia do Bumba

A tragédia da comunidade, no bairro Viçoso Jardim, em Niterói, ocorreu no dia 7 de abril de 2010. Quando um deslizamento de terra deixou 267 mortes. Além disso, centenas de pessoas ficaram desabrigadas.

Na ocasião, especialistas debateram sobre sobre as consequências do mau gerenciamento do lixo no Brasil. Isso porque a ocupação irregular se deu em cima de um antigo lixão em local totalmente inapropriado para receber habitações.

A trágedia marcou a vida de centenas de niteroienses, e por isso assombra os moradores do condomínio Várzea das Moças. Como a da aposentada Luisa Hilda de 65 anos, que relatou ter perdido uma filha na trágedia, e que ela e o filho só sobreviveram por não estarem em casa. Além dela, a autonôma Martiniane dos Santos, de 43 anos, relembrou o trauma. Ela perdeu parte da família no desabamento.

"Perdi dois filhos, minha mãe, meus sobrinhos, minha irmã, perdi tudo. Agora moro aqui com meu marido e é assustador ouvir os barulhos da queda das encostas"

Martiniane dos Santos.

Respostas

A Prefeitura de Niterói, por meio da Secretaria Municipal de Defesa Civil e Geotecnia de Niterói, informou que não houve nenhum dano estrutural à edificação. De acordo com o Executivo, o deslizamento foi classificado como de pequena proporção. Os agentes da Defesa Civil interditaram as áreas laterais dos três blocos do condomínio, onde se depositou o material resultante do deslizamento. A Prefeitura ainda ressaltou que a Empresa Municipal de Moradia Urbanização e Saneamento (Emusa) fará a limpeza do local assim que o laudo da Defesa Civil for concluído.

Procurado, o Governo do Estado do Rio de Janeiro se isentou da responsabilidade do imóvel.

< Greve dos rodoviários perto de virar realidade em Niterói e região 'Peçanha contra Juliette': ex-BBB participa de esquete de Porta dos Fundos <