Cidades

Tudo o que você precisa saber sobre Nomofobia, o medo de desconectar

Imagem ilustrativa da imagem Tudo o que você precisa saber sobre Nomofobia, o medo de desconectar
|  Foto: Foto: Karina Cruz
Especialistas alertam para a excessividade nas redes associados a problemas de saúde. Foto: Karina Cruz

Celulares, computadores e internet: ferramentas cada vez mais presente na rotina das pessoas. No entanto, com eles também vieram a ansiedade, variações de humor e a necessidade de estar sempre alerta. Sintomas que podem apontar para a Nomofobia, termo denominado para o medo de ficar desconectado, e que pode acarretar em alguns problemas de saúde ao afetar a vida e rotina pessoal do indivíduo.

Em relatório divulgado pelo App Annie Intelligence, o Brasil aparece em segundo lugar entre 16 países pesquisados, com população que mais tempo passa utilizando smartphones. Segundo a pesquisa, brasileiros passam, em média, 5,4 horas por dia olhando a tela do celular.

Pandemia e o vício

Para o psiquiatra Ilton Castro, da Faculdade de Medicina do Vale do Aço (MG), com a pandemia da Covid-19 houve aumento da conexão das pessoas com o mundo digital, o que trouxe ainda mais interação no ambiente online. De acordo com o especialista, as redes não precisam ser consideradas vilãs, mas é preciso se atentar quanto à importância dada a elas.

"É preciso se desconectar para se conectar consigo mesmo. A compulsão por likes gera a falsa sensação de bem-estar e prazer. E mesmo os usuários menos ativos, que ficam visualizando passivamente as postagens, acabam se intoxicando pela comparação com vidas perfeitas, retocadas por filtros e recursos que não existem de fato”

Nomofobia, o medo de desconectar
Relatório dos países em que a população mais usa celulares. Foto: Reprodução

A jornalista, Clara Torquilho, de 21 anos, relata que passa entre seis e sete horas por dia no celular, mas justifica que divide o tempo online entre entretenimento, estudo e trabalho.

"O celular está sempre comigo, uso ele para tudo. Além de ser meu instrumento de comunicação, principalmente com minha família. Porém, quando eu não preciso me comunicar com ninguém, minha família está comigo"

Cada vez mais conectado

Em um mundo cada vez mais conectado, ficar alheio ao ambiente online está cada vez mais difícil. Uma pesquisa promovida pelo Comitê Gestor da Internet do Brasil revela que, apenas em 2020, o país chegou a 152 milhões de usuários — um aumento de 7% em relação a 2019. O levantamento revelou também que 81% da população com mais de 10 anos já tem internet em casa.

Coordenador do estudo, Fábio Storino destacou que a pandemia fez com que os indicadores de acesso à internet apresentassem os maiores crescimentos dos 16 anos da série histórica. O aumento do total de domicílios com acesso à internet ocorreu em todos os segmentos analisados, de acordo com a pesquisa. As residências da classe C com acesso passaram de 80% para 91% em um ano. Já os usuários das classes D e E com internet em casa saltaram de 50% para 64% na pandemia.

Dependência

Para Robson Gonçalves, coordenador do curso de Neurobussines da Fundação Getúlio Vargas (FGV), a dependência pode trazer transtornos tanto afetivos quanto psicológicos.

"Nosso cérebro evolui para manter relações em grupos, os quais nos idetificamos e as redes sociais aumentaram essa possibilidade, seja com seguidores, grupos de WhatsApp, ou comunidades. O problema é que o contato em grupo que evoluímos pra ter, não faz parte dessa grande diversidade. Com isso, nós acabamos perdendo essa identificação, porque apesar das pessoas estarem mais conectadas, elas não estão se relacionando de fato como deveriam, e isso causa insaciedade, é como se uma pessoa estivesse se alimentando com poucos nutrientes, ou seja, não é o suficiente"

Além disso, o especialista alerta que o cérebro é como um computador com memória e capacidade de processamento limitados e que o excesso de informação pode prejudicar tarefas cognitivas, como tornar o raciocínio mais lento.

Em outubro deste ano, por exemplo, com a queda de redes sociais como Facebook, Instagram e Whatsapp, ficou visível a dependência de usuários referente a conexão. Além disso, a inoperância das plataformas, que se tornaram um recurso de vendas, também prejudicou empreendedores que fazem uso das redes sociais como meio de trabalho.

Para Alexandre Carvalho, de 28 anos, que trabalha com vendas de acessórios de tecnologia, as seis horas de instabilidade resultaram em grande prejuízo.

"De 8 a 15 vendas diárias, neste dia tive apenas 2 o dia todo. O Instagram, Facebook e Whatsapp são os meios que utilizo para demonstrar meus produtos e ter contato com os meus clientes"

Relação entre trabalho e internet

Com as relações de trabalho cada vez mais incluídas no mundo digital, em especial devido ao crescimento da modalidade home office na pandemia, o especialista alerta para o descaso com o lazer.

“Nas modernas relações de trabalho na pandemia perde-se um pouco a noção de tempo. Você fica o tempo todo à disposição, pois na antiga modalidade de trabalho, por exemplo, você chegava às 8h, tinha horário de almoço, e depois horário de ir embora. Agora essa distorção do tempo e disponibilidade acaba prejudicando ideias de lazer e descanso.

Ilton Castro, psiquiatra

Para Mendy Ribeiro, que trabalha como freelancer de criação de conteúdo, a rotina exaustiva acaba atrapalhando momentos além da rotina de trabalho.

“Trabalhar com a internet é cansativo porque temos que ficar o tempo todo em alerta, prestando atenção nos assuntos do momento e no que tá acontecendo pra termos criatividade para acompanhar o fluxo. Mas às vezes a gente só quer sentar e não pensar em mais nada. Só que com as notificações, o celular fica o tempo todo apitando e acaba que não consiguimos nos desprender disso”

Rodrigo Duarte, que trabalha com suporte técnico em esquema home office desde início da pandemia, conta que apesar da praticidade de poder trabalhar de casa, a falsa ideia de disponibilidade 24 horas faz o que ele precise ficar alerta o tempo todo.

A chefia acaba achando que estamos sempre disponíveis, então às vezes eu acabo perdendo o tempo de interagir com minha filha ou esposa para resolver um problema que foi demandando fora do meu horário de trabalho”

Dicas para evitar a nomofobia

Dentre os meios de se desconectar, o psiquiatra Ilton Castro oferece as seguintes dicas:

  • Parar de checar o smatphone antes de dormir e ao acordar.
  • Colocar o celular em modo avião para evitar contatos e se não for possível, pelo menos, retirar as notificações.
  • O celular deve ser carregado fora do quarto.

< SG segue com baixo índice de contaminação por Covid-19 Natal de Novas Luzes ilumina praças de São Gonçalo <