Violência doméstica

A mulher que parou a Ponte: o que mudou na vida de Regina Evaristo?

Um mês após paralisar a via, advogada ainda tem medo de morrer

Regina segue fugindo de seu agressor.
Regina segue fugindo de seu agressor. |  Foto: Marcelo Eugênio
  

"Continuo fugindo do agressor". A vida da advogada Regina Evaristo, a mulher que parou a Ponte Rio-Niterói no dia 14 de julho, permanece de cabeça para baixo. Depois de um mês do ocorrido, a vítima de violência doméstica segue com medo de acontecer alguma coisa com ela e sua família.

Em entrevista ao ENFOCO, a advogada contou que também tem medo de perder a casa onde funciona a Associação Leonora Evaristo de Almeida (Alea), organização com nome de sua mãe, localizada no Grajaú, Zona Norte do Rio, local onde o ex-marido a agrediu. No momento, há um processo envolvendo o imóvel.

Leia+: 'O que me motivou foi a dor', diz mulher que parou a Ponte

De acordo com Regina, a vida continua agitada. De casa para o carro, em diferentes bairros, a advogada informou que segue se locomovendo constantemente. A sua principal companheira é a mala, onde leva produtos de limpeza e roupas para trocar.

"Não consegui me estabilizar em lugar nenhum. Estou sem cuidar da minha saúde, do meu filho, da minha neta. A maior parte tenho passado dentro da ONG, mas com muito medo. Minhas câmeras estão quebradas, e eu não tenho apoio nenhum. Isso é desgastante, doído", explicou.

De casa para o carro, em diferentes bairros, a advogada informou que segue se locomovendo constantemente.
  

Regina ainda ressaltou que recebe ajuda de amigos próximos que avisam onde o seu agressor está com o objetivo de ela não se aproximar. Ela não está trabalhando, não consegue pagar as contas da residência, recebe doações de alimentos, mas mantém a esperança em construir um mundo mais justo para mulheres vítimas de violência doméstica.

"Me traz alento e esperança cada vez que eu consigo ver uma mulher sendo inserida em um contexto de poder viver a vida, que nunca é igual, mas ela conseguir tocar a vida, trabalhar, seja porque o agressor tá preso, mas ela conseguir com o filho e a família", afirmou.

Me vejo em cada uma delas. Vejo também a minha mãe, primeira mulher que eu salvei. Vou continuar a lutar enquanto eu viver e enquanto eu puder. Regina Evaristo, Advogada
  

Falta de apoio

Enfoco
  

Regina tentou ajuda do núcleo do Rio da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) em julho. Contudo, a mulher alega que nenhum representante da instituição a ajudou sobre o assunto de violência doméstica quando foram procurados.

Até hoje, Regina conta que a OAB/Rio nega qualquer tipo de assistência.

"Não há interesse em fazer qualquer parceria e contato comigo", aponta a advogada.

Em julho, a OAB-Rio informou que atendeu a advogada e a Comissão OAB Mulher a acompanhou até a Delegacia de Atendimento à Mulher, no Centro do Rio.

A instituição ainda informou que Regina Evaristo seria auxiliada pela Caixa de Assistência da Advocacia do Estado do Rio (Caarj), que é um serviço concedido a colegas de profissão em situação de vulnerabilidade econômica e social em decorrência de violência doméstica. 

Sobre as acusações de que não ofereceu apoio, a OAB-RJ acrescentou que o Caarj disponibilizou atendimento psicológico e os trâmites para que pleiteasse um auxílio. Contudo, Regina, segundo a Ordem, teria recusado assistência e não retornou à Caarj para dar seguimento ao processo. 

"Toda a assistência já foi dada à Regina, porém, o que ela quer é a prisão do seu agressor e apoio à ONG que preside", diz a nota. 

A OAB justificou que a advogada não informa quem são as testemunhas que repassam as ameaças do agressor para ela, o que impossibilita o pedido de prisão por descumprimento da medida protetiva. 

Quanto à ajuda financeira que ela quer para a ONG, a OAB acrescentou que não pode ajudar financeiramente nenhuma outra organização.

< Mengão vence o Botafogo e assume a vice-liderança do Brasileiro A mulher que parou a Ponte: como está Regina Evaristo? <