Polícia

A quem interessa a saída da polícia do Complexo do Viradouro em Niterói?

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Moradores querem a saída da polícia. Foto: Pedro Conforte.

Apesar dos números revelarem queda de roubos e, portanto, mais segurança em Santa Rosa, na Zona Sul de Niterói, um grupo de moradores do Complexo da Viradouro pretende fazer uma manifestação na próxima terça-feira (1°), no centro da cidade. Eles reivindicam a desocupação da polícia, que há pouco mais de quatro meses faz a segurança na região.

De acordo com o morador Janderson Oliveira, ele está entre os organizadores do ato e afirma que 'moradores estariam sofrendo abusos de ações policiais desde o início da ocupação'.

"Os policiais que estão ocupando a comunidade invadem casas e agridem moradores. Todo mundo sabe que agora a comunidade só tem morador e não há necessidade para exageros. Não somos coniventes com a criminalidade, queremos apenas ser respeitados".

Ainda segundo Janderson, moradores não fazem denúncias por medo de represálias.

"Moradores chegaram ao ponto de colocar faixas na frente das casas para sinalizar que ali é uma residência de morador", explica.

Protesto dos moradores no interior da comunidade. Foto via Grupo Plantão Enfoco.

A Polícia Militar foi questionada sobre possíveis abusos, relatados na denúncia, por parte dos policiais militares da ocupação.

Em nota, a Polícia Militar informa que 'a Secretaria de Estado de Polícia Militar ressalta que não compactua com quaisquer excessos ou desvios de conduta cometidos por parte de seus integrantes, sendo tais situações devidamente responsabilizadas quando comprovadas'.

Ainda de acordo com a nota, canais da Corregedoria da Polícia Militar seguem à disposição dos cidadãos para denúncias. O contato pode ser feito através do telefone pelo número (21) 2725-9098 ou ainda pelo e-mail [email protected]. O anonimato é garantido.

Ocupação

Uma das cabines instaladas na comunidade. Foto: Pedro Conforte.

Em agosto a Polícia Militar iniciou a ocupação do Complexo do Viradouro, aglomerado de comunidades entre a Zona Sul e a Região de Pendotiba. A operação foi dividida em três fases e instaurada por tempo indeterminado. 

A primeira e segunda fases foram dirigidas pelo Comando de Operações Especiais (COE), que fez uso de uma base-móvel em um ponto estratégico da Estrada da Garganta, próximo à entrada da comunidade da Igrejinha, no Largo da Batalha.  

Ainda na segunda fase, a ocupação continuou a cargo do Batalhão de Choque (BPChq), com patrulhamento ostensivo, inclusive com utilização de veículos blindados. E, por fim, na terceira fase, o Batalhão de Niterói (12º BPM).

A escolha do Complexo do Viradouro como base da ocupação, segundo a PM, foi estratégica para coibir a movimentação de traficantes, que usam principalmente a comunidade do Viradouro, em Santa Rosa, como 'quartel general'.

Analisando a questão dos moradores estarem pleiteando a desocupação da polícia na comunidade, o especialista em Segurança Pública, Paulo Storani, explica que a interação entre polícia e moradores nunca é 100% harmoniosa.

"Primeiro porque é uma equipe de intervenção. Devemos levar em conta que os próprios moradores sabem que essa intervenção não vai durar para sempre. Muitos deles [moradores], e sabemos que há uma exceção, tem de fato um envolvimento com o narcotráfico, e mesmo não sendo traficantes são associados"

Ainda segundo o especialista, criminosos muita das vezes, aliciam moradores para trabalhar.

"Os moradores acabam armazenando drogas dentro de casa, e para o tráfico esse movimento é mais viável, tendo em vista que se por acaso houver uma apreensão, a quantidade será menor. Diferente de se armazenar tudo em um só lugar"

Storani atentou sobre a existência de um comércio que envolve moradores e criminosos.

"Alguns [moradores] dependem da atividade do tráfico, fornecendo alimentação ou determinados tipos de serviço. Tendo em vista que isso é uma economia proveniente de atividade criminosa. Então teoricamente se o 'patrão' está com problema eu vou ajudar ele de alguma maneira", pontuou.

Segundo o especialista, também é possível ter ocorrido algum tipo de abuso por parte da polícia.

"Pode acontecer e não é uma conduta aprovada. Contudo, sabemos que nem sempre vamos ver os moradores aplaudindo a entrada da polícia, até porque depois que a polícia vai embora há um preço a se pagar por isso", afirmou.

De acordo com Storani, é mais fácil para os moradores serem conhecidos por terem apoiado a desocupação do que a permanencia da polícia.

"Todo aquele que protagoniza a saída da polícia, fica bem aos olhos do traficante"

Storani sugeriu que os moradores procurem o Ministério Público toda vez que tiverem seus direitos violados.

" É preciso fazer alguma coisa para não ficar no disse me disse. Não se pode deixar só no nível da denúncia anônima. É importante destacar que a polícia está fazendo o seu trabalho na comunidade e não está lá para bater em morador, e sim para evitar a atividade do tráfico", finalizou.

Urbanização

Ainda em agosto foi dada a ordem de início para as obras de urbanização da comunidade. Segundo a prefeitura, a iniciativa pretende gerar 200 empregos diretos e a mão de obra contratada será do próprio local. A região também vai ganhar uma plataforma urbana/escola técnica, centro cultural, quadra poliesportiva, além da abertura de vias e obras de saneamento.

Resultados

Rua Dr Mario Vianna, Santa Rosa, Niterói
Comerciante na Rua DRº Mário Vianna recebeu ameaça por telefone. Foto: Karina Cruz

Desde o início da ocupação, de acordo com a Polícia Militar, criminosos da região estão no prejuízo, principalmente pelo fim da realização de eventos irregulares e venda de entorpecentes. Um estudo realizado pelos policiais militares aponta que o tráfico local faturava em torno de R$ 1 milhão por mês com táticas criminosas.  

No início do mês de outubro, a polícia instalou duas cabines blindadas em dois pontos diferentes da comunidade.

Além disso, de acordo com os últimos dados divulgados pelo Instituto de Segurança Pública (ISP) os índices criminais vem reduzindo na região.

Os números da Delegacia de Icaraí (77ª DP), que compreende também a região do Complexo da Viradouro, mostram que roubos de veículo, por exemplo, reduziram em mais de 81% de janeiro a outubro, a maior queda entre as delegacias de Niterói. Em relação a outro crime muito comum em vias, o indicador de 'roubo de rua' apresentou retração de quase 52%, ficando atrás apenas 79ª DP (Charitas) que contabilizou uma queda de 73%.

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