Investigação
Ameaças forçam empresa de ônibus a abandonar sede no Complexo de Israel
Rotina de violência se tornou insustentável para viação

Assaltos frequentes, ameaças de traficantes e dificuldades operacionais provocadas por barricadas obrigaram a Viação VG a transferir sua base de operação de Vigário Geral para a Penha, ambas na Zona Norte do Rio. A empresa passou a utilizar as instalações da Viação Nossa Senhora de Lourdes, localizada a cerca de seis quilômetros de distância, após a rotina de violência se tornar insustentável.
Funcionários da VG relataram, sob anonimato, que sofriam com assaltos recorrentes e eram pressionados por traficantes locais. Conforme as denúncias, os criminosos impunham o pagamento de taxas para liberar a circulação dos ônibus, forçavam a empresa a transportar passageiros gratuitamente e até invadiam a garagem para usar instalações como banheiros.
Além disso, uma barricada colocada pelo tráfico dificultava a movimentação da frota. Diariamente, os funcionários precisavam desmontar a barreira física instalada na Rua Valentim Magalhães, onde ficava a garagem, para que os coletivos pudessem entrar e sair, e depois, remontá-la.
O cenário de insegurança ocorre em uma região dominada pelo traficante Álvaro Malaquias Santa Rosa, o “Peixão”, um dos criminosos mais procurados do estado e chefe do Complexo de Israel, que abrange comunidades como Parada de Lucas, Cidade Alta e Pica-Pau.
Segundo investigações, Peixão controla com rigor as áreas que domina, inclusive ordenando a instalação de câmeras clandestinas e a construção de barricadas subterrâneas, que funcionam como verdadeiros fossos.
A situação crítica levou a Rio Ônibus a reconhecer oficialmente que a Viação VG enfrenta “dificuldades operacionais” por estar em uma região sob o controle do crime organizado.
"Visando manter o atendimento aos usuários e a segurança de seus colaboradores e fornecedores, a empresa transferiu sua operação para a garagem da Viação Nossa Sra. de Lourdes, líder do Consórcio Internorte, que está dando o apoio necessário até que o problema seja solucionado", diz a nota da Rio Ônibus.
Investigação
Até o momento, de acordo com a Polícia Civil, os representantes da empresa não comunicaram o fato na delegacia da área. A 38ª DP (Brás de Pina) iniciou a investigação e os responsáveis pela viagem foram chamados para prestar esclarecimentos. Agentes realizam outras diligências para apurar o caso.
A Polícia Militar, por sua vez, informou que o 16º BPM (Olaria) não foi acionado pela empresa, mas que realiza patrulhamento ostensivo e abordagens de rotina na região.
"De 4 a 12/6, a região fez parte da área de planejamento de atuação da Operação Impacto. Na área de atuação do 16º BPM, foram retiradas 36 toneladas de barricadas nas comunidades de Parada de Lucas, Vigário Geral, Cidade Alta e Pica Pau. Além disso, 46 veículos roubados foram recuperados e uma bazuca antidrone apreendido", diz a nota.
A PM ressalta a importância do acionamento das equipes para casos imediatos através da Central 190 e do App RJ 190.
Impacto no transporte
O impacto da violência se estende à população: 66 linhas de ônibus foram desviadas em apenas seis dias, entre janeiro e junho deste ano, devido a tiroteios ou operações policiais no Complexo de Israel. Segundo o Rio Ônibus, criminosos chegaram a sequestrar quatro ônibus para usá-los como barricadas nesse período.


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