Polícia

'Até quando?': morte de entregador em Niterói completa um mês

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Morte de Elias de Lima Oliveira, de 24 anos, completou 30 dias na última sexta-feira (24) em meio a incertezas. Foto: Alex Ramos

Luto, buscas por respostas e silêncio das autoridades do caso. Pouco mais de um mês após a morte do entregador Elias de Lima Oliveira, de 24 anos, familiares e ativistas dos direitos humanos cobram por uma resposta imediata por parte dos investigadores do caso, ocorrido no dia 24 de novembro, no Morro do Palácio, no Ingá, na Zona Sul de Niterói. Enquanto os policiais militares envolvidos na ação seguem afastados das ruas e realizando trabalhos internos, a Polícia Civil aguarda o resultado da perícia e a família chora e clama por dias melhores após a morte do niteroiense.

Mais de trinta dias após um disparo ter atingido o entregador e ceifado sua vida, parentes do morador da comunidade do Palácio ainda buscam respostas para a ação de militares do Batalhão de Niterói (12°BPM), que terminou com a morte do entregador. Um dos porta-vozes da família, Leonardo Lima, irmão da vítima, afirmou que, em casos em que os mortos são os policiais, a resposta da investigação é rápida. Entretanto, quando os acusados são os agentes do Estado, a resposta demora a vir e, por vezes, não aparece.

“Até quando seremos vítimas de uma política de segurança falha e que não resolve em nada as mazelas da sociedade. O meu irmão não foi morto, ele foi assassinado por policiais despreparados e maldosos. Isso não tem desculpa. O que mais me irrita é a falta de respostas por parte da Polícia Civil, que até agora não fez nada. Os militares envolvidos na morte do meu irmão foram afastados das ruas, mas seguem trabalhando no batalhão. Até quando?! Quantas famílias precisam sofrer pra isso parar ou diminuir? Eu não aguento mais”, disse o irmão da vítima.

O esfarelamento da esperança pode ser percebido em um dos acessos do Morro do Palácio, principal comunidade do Ingá. Lá, uma faixa de cobrança por justiça e a falta de notícias e um posicionamento da polícia, fizeram com que os dizeres fossem apagados de um dos muros da localidade. O olhar distante do irmão da vítima, durante entrevista exclusiva para o Enfoco, retrata o sentimento de familiares e amigos da vítima, que buscam por justiça e acusam policiais militares do Batalhão de Niterói (12°BPM) de terem matado Elias, que saiu para trabalhar na tarde do dia 24 de novembro.

A diarista Viviane Lima, madrinha da vítima, afirmou que a polícia só tira sangue das comunidades. Segundo ela, é necessária maior compaixão com o próximo.

“Infelizmente, isso que aconteceu com o meu afilhado vem se tornando rotina nas comunidades. Eles entram matando um preto, pobre e favelado e afirmam que ele estava em uma boca de fumo com uma arma. E posso te falar uma coisa: isso não vai parar. Meu afilhado foi apenas mais um. Quero que a justiça seja feita, mas sei que é difícil. Eles mentiram no que falaram”, disse a madrinha de Elias.

Enquanto a família chora e não terá motivos para celebrar o Natal, a Polícia Civil se limitou a dizer que “de acordo com a Delegacia de Homicídios de Niterói, São Gonçalo e Itaboraí (DHNSG), diligências estão em andamento e a investigação prossegue para esclarecer todos os fatos”. Fontes ligadas à especializada revelaram que os agentes aguardam o resultado do laudo da perícia para avançar nas investigações. Testemunhas foram ouvidas nas últimas semanas e câmeras de segurança foram analisadas para esclarecer o ocorrido, segundo os agentes.

Já a Polícia Militar afirmou que “um Inquérito Policial Militar (IPM) foi instaurado pelo 12ºBPM para averiguar as circunstâncias da ocorrência, além de existir a investigação a cargo da Polícia Civil. A equipe policial que estava na ocorrência foi preventivamente afastada da atividade operacional. Está realizando serviços internos na unidade”.

Poucas horas após o ocorrido, a PM soltou uma nota esclarecendo o ocorrido que culminou na morte de Elias. Segundo a corporação, “equipes do 12° BPM (Niterói) foram atacadas enquanto realizavam um patrulhamento em uma das vias que dão acesso ao Morro do Palácio, no Ingá, zona sul de Niterói. A equipe abordava um suspeito quando foi atacada a tiros, gerando um confronto”.

Além disso, a corporação afirmou que “após estabilizar a situação, um homem foi encontrado baleado e foi socorrido ao Hospital Estadual Azevedo Lima (HEAL) e não resistiu. Ainda na ação, dois homens foram presos com uma pistola e entorpecentes.”

Justiça

Acompanhando a família desde as primeiras horas após o ocorrido, o secretário da Secretaria de Direitos Humanos de Niterói, Raphael Costa, afirmou que a pasta vem auxiliando a família desde o dia da ação policial e acompanha de perto as investigações que buscam identificar as circunstâncias dos disparos que atingiram e mataram o entregador.

“Estamos auxiliando nas investigações, acompanhando o inquérito junto à delegacia de Homicídios, levando testemunhas e familiares para depor e dialogando com o delegado. O suporte que nossa equipe tem dado a família tem sido muito atento, desde o procedimento de enterro, passando pelo acompanhando psicológico e pelas demandas sócio-assistenciais. Nossa maior tarefa agora é apoiar a família e lutar para que a verdade seja apurada e justiça seja feita. Não podemos tolerar a impunidade e a violência.”, disse o secretário.

Quem também se manifestou sobre a ação policial e a falta de respostas por parte da Polícia foi a presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara Municipal de Niterói, a vereadora Benny Briolly (PSOL). Segundo ela, a morte de Elias retrata uma polícia despreparada.

“Elias era um jovem, pai, trabalhador. Enquanto presidente da Comissão de Direitos Humanos, seguiremos pressionando para que seja feita justiça. A forma com que a Polícia entra nas comunidades é absurda e desleal. Varios são os casos e relatos de abuso e precisamos cobrar celeridade nas investigações desses casos. Nos colocamos à disposição da família e da favela na luta por reparação, justiça e para fazer cessar a violencia policial na nossa cidade”, disse.

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