A morte de Thiago Menezes Flausino, de 13 anos, nessa segunda-feira (7), durante uma operação da Polícia Militar (PM) na Cidade de Deus, Zona Oeste do Rio, marcou um trágica estatística. Segundo a Organização Não Governamental (ONG) Rio de Paz, Tiago é a 100ª vítima de arma de fogo - a maioria por bala perdida- no estado do Rio entre crianças e adolescentes de 0 a 14 anos desde 2007, quando a instituição começou a contabilizar os casos ocorridos nesta faixa etária.
Ainda de acordo com a ONG, o primeiro caso registrado no levantamento de dados foi de Alana Ezequiel, morta no dia 5 de junho de 2007, à época com 12 anos, durante um tiroteio entre policiais e traficantes no Morro dos Macacos, em Vila Isabel, Zona Norte do Rio.
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De acordo com o Rio de Paz, os casos ocorrem sempre em operações policiais ou então durante troca de tiros entre os agentes de segurança com criminosos, o que, no final, resulta na não descoberta dos autores dos assassinatos, aumentando ainda mais a dor da família das crianças e adolescentes.
“Em qual nação livre e desenvolvida crianças são sistematicamente mortas por bala perdida em confronto entre policiais e bandidos? Percebe-se na cultura das operações policiais do Rio de Janeiro uma histórica obsessão com a prisão e morte de bandidos em detrimento da segurança da população. Como resultado dessa anomalia, meninos e meninas pobres morrem de modo banal, e o caos instaurado há dezenas de anos na segurança pública não muda”, argumentou o fundador da Rio de Paz, Antonio Carlos Costa.
Família acusa PM
Os familiares de Thiago acusam a PM pela morte do adolescente. Segundo eles, os agentes entraram atirando na comunidade. Pelas redes sociais, a corporação informou inicialmente que um criminoso teria ficado ferido durante o confronto com policiais do Batalhão de Polícia de Choque (BPChq), no entanto, eles atualizaram o caso posteriormente com um comunicado oficial.
De acordo com a PM, policiais do BPChq faziam patrulhamento quando viram duas pessoas em uma motocicleta na esquina da Estrada Marechal Miguel Salazar com a Rua Geremias, quando foram alvos de disparos vindo dos suspeitos. Em resposta ao ataque, ocorreu um confronto armado “após confronto, um adolescente foi encontrado atingido e não resistiu aos ferimentos".
Vale ressaltar que nenhum dos policiais do Choque estavam usando câmeras em suas fardas, o que inicialmente poderia ajudar a encontrar onde o disparo que atingiu Thiago foi feito.
O caso de Thiago está sendo investigado pela Delegacia de Homicídios da Capital. O comando da Polícia Militar informou também que instaurou procedimentos internos para apurar as circunstâncias do ocorrido e está cooperando integralmente com as investigações da Polícia Civil.
Memorial
Thiago terá seu nome colocado no mural do Rio de Paz, na Lagoa Rodrigo de Freitas, Zona Sul do Rio. O local possui um memorial em homenagem às crianças e adolescentes que foram mortas por bala perdida e policiais assassinados vítimas de violência.
“Apresentamos as seguintes indagações ao governador do Estado do Rio de Janeiro: o que ele tenciona fazer pela família enlutada? O que essa morte trágica modificará na sua política de segurança pública?”, questionou o fundador da ONG.
“A morte de crianças, como o Thiago Menezes Flausino, é o lado mais hediondo da criminalidade. A indiferença da sociedade, que recusa-se ir às ruas para protestar contra o assassinato desses inocentes, é sintoma de gravíssima patologia social. Indiferença que não seria encontrada no comportamento de muitos se os mortos não fossem pequeninos moradores de favela”, concluiu Antonio Carlos Costa.