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Churrasco vira cardápio de luxo com alta nos preços da carne

No Fonseca, na Zona Norte de Niterói, o quilo da carne pode ser encontrada a R$ 34,90, dependendo da peça. Foto: Vitor Soares

A alta nos preços dos combustíveis já está afetando até quem não tem automóvel. Isso porque a disparada nos preços a projeção da inflação dos alimentos saltou de 5% para 6,9%, com destaque para a carne, conforme o último Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA): e os mais pobres são os que mais sentem na pele.

Os dados estão na Nota de Conjuntura sobre Inflação com informações até julho e a projeção para 2021, divulgada na último dia 24 pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).

A alta dos preços puxada pela disparada no valor dos combustíveis chegou aos mercados, também somada à crise hídrica que afeta o país, conforme aponta o mestre em Economia pela Universidade Federal Fluminense (UFF) e mestrando em Finanças e Economia Empresarial pela EPGE/FGV, André Braz.

Niterói e São Gonçalo

Em Niterói, na Região Metropolitana do Rio, o valor de uma determinada peça de carne pode ser encontrada na faixa de R$ 39,98, até esta terça-feira (31) em supermercados da cidade. No Fonseca, Zona Norte, o quilo da carne, dependendo da peça, pode ser encontrado a R$ 34,90.

"No mercado vemos o aumento da carne, do leite e derivados. Junta carne de frango, ovo, café, açúcar cristal e refinado. Com a situação de falta d' água comprometendo safras, mesmo que volte a chover, elas já foram comprometidas. Pessoas de baixa renda são as mais impactadas. Quanto menos as famílias ganham, aí é que pesa mais"

Churrasco

De igual modo, consumidores da cidade vizinha São Gonçalo que têm o hábito de fazer churrasco aos fins de semana ou que não abrem mão do bife no dia a dia, já reparam no aumento de preços dos alimentos nos mercados, como é o caso da moradora do bairro Lindo Parque, Cátia Torres, de 52 anos.

"O quilo da alcatra estava em R$ 19 antigamente, que era o preço mais ou menos justo. Depois foi aumentando para R$ 29 e agora está em R$ 39, na promoção. Isso quando não está mais caro. É muito difícil. A cada ida no supermercado, sobe um real. Acho um abuso, pois quem tem condições come, e quem não tem? Só fica olhando, querendo degustar, mas não pode!"

A Eliane Alves tem 58 anos e mora no bairro Brasilândia, também em São Gonçalo. Trabalhando com lanches e quentinhas ela sente as consequências da alta nos alimentos.

"Na semana passada comprei uma carne de segunda a R$ 25,50. Hoje já está R$ 27,90. Parece ser pouco, mas o aumento de toda semana está difícil de manter. A carne de primeira está saindo a R$ 45,50, o contra filé. Está complicado voltar a trabalhar com lanches e até quentinhas, porque se for fazer uma carne assada para as quentinhas sai por R$ 15, já que dois quilos de uma carne para assar, sendo recheada, fica mais ou menos R$ 70 ou até mais"

Diesel

combustíveis
Alta no preços dos combustíveis tem contríbuido para pressionar a inflação no país. Foto: Karina Cruz

No início de julho, acompanhando a elevação nos patamares internacionais de preços de petróleo e derivados, os preços médios de venda de diesel da Petrobras para as distribuidoras passou a ser de R$ R$ 2,81 por litro, refletindo reajuste médio de R$ 0,10 por litro. Esse aumento reflete diretamente na mesa do consumidor, já que caminhoneiros precisam do referido combustível para transportar os alimentos pelas rodovias.

No Sudeste, que envolve o Estado do Rio - dos 3.702 postos pesquisados pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), o preço médio do diesel ao longo de agosto era de R$ 4,574. Já a quantia máxima estava na casa de R$ 5,990.

"Influencia por conta do frete. Encarecendo o frete, a gente também encarece o preço de tudo que é transportado", ensina o economista André Braz.

Inflação

O Ipea divulgou nota ao Enfoco sobre a revisão da previsão para a inflação brasileira em 2021: de forma geral, o IPCA foi revisto de 5,9% para 7,1%. Os pesquisadores revisaram também a previsão do Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), de 5,1% para 6,4% este ano.

"O impulso neste aumento da estimativa veio da crise hídrica. Ela comprometeu as roças de milho e não para por aí: porque é ração para aves. Impulsiona o preço do frango e dos ovos. Tem os problemas nos canaviais, com açúcar mais caro. Aí vem o etanol e gasolina mais caros. Problemas nos cafezais, por isso o café subindo muito de preço. Afeta também a pecuária, por conta das condições de pastagens ruins. Produção de leite e laticínios, em geral, prejudicada"

André Braz, economista

As projeções da inflação podem estar subestimadas, na análise de Roberto Troster, que é economista, bacharel e doutor em Economia pela Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo, também pós-graduado em banking pela Stonier School of Banking. Ele ressalta que nos últimos 12 meses, em oito o mercado subestimou o valor.

"É alta e significa menos renda disponível para a população mais pobre, que consome uma proporção maior de sua renda em alimentos e energia, que também vai aumentar nos próximos meses"

De fato, pessoas de baixa renda são as mais impactadas, conforme observa o micro empresário Luiz Cláudio Rodrigues, de 55 anos.

"Está difícil uma família se alimentar quando não tem muitos recursos. A cartela de 30 ovos saía a R$ 10. Hoje tem lugar que está R$ 15, R$ 17. Um quilo de carne não dá para quatro pessoas comerem direito. Hoje é mais viável comer carne suína do que bovina. O frango também aumentou, devido ao aumento do milho", explica.

Efeito dominó

À reportagem, o economista Roberto Troster diz que a inflação subiu por uma combinação de fatores: uma fração é a alta de preços de alimentos no exterior, que acaba se propagando no Brasil. Outra, sugere, é o preço do petróleo lá fora, que também é internalizada. A política cambial antiga e a demora do Banco Central em subir os juros, também estão na mistura.

Os pesquisadores do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada revisaram também a previsão do Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), de 5,1% para 6,4% em 2021.

De acordo com a Diretoria de Estudos e Políticas Macroeconômicas do Ipea, o aumento da taxa de inflação medida por esse índice, que atinge as famílias que vivem nas áreas urbanas e com salários que variam de um a cinco salários-mínimos, ainda deve ser provocado por preços monitorados e dos alimentos, com altas previstas de 10,5% e 7,9%, e que atingiram patamares superiores ao projetados anteriormente, que eram de 9,2% e 5,2%, respectivamente.

Expectativa

Segundo o Ipea, as expectativas para o ano de 2022 estão ancoradas em uma acomodação nos preços internacionais das commodities e na baixa probabilidade de um fenômeno climático adverso intenso. Dessa forma, seria gerada uma menor pressão sobre alimentos, combustíveis e energia elétrica.

A nota do Ipea ressalta, no entanto, que os riscos à inflação em 2022 seguem associados aos preços das commodities e à taxa de câmbio.

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