Tristeza

Esposa de vigilante morto diz que ele protegeu mulher com bebê

David Carlos estava indo trabalhar quando foi baleado

Érica Marinho era casada há mais de 20 anos com David; ela mostrou carteira assinada do marido
Érica Marinho era casada há mais de 20 anos com David; ela mostrou carteira assinada do marido |  Foto: Lucas Alvarenga
 

O vigilante David Carlos Corrêa Carneiro, de 43 anos, estava indo para o trabalho quando foi baleado e morto nesta quarta-feira (12), na comunidade Furquim Mendes, no bairro Jardim, na Zona Norte do Rio, durante operação da Polícia Civil. 

Segundo a esposa Érica Marinho, ele levou um tiro nas costas quando tentava proteger uma mulher que estava com um bebê de um ano no colo. David foi socorrido para o Hospital Estadual Getúlio Vargas, na Penha, mas já chegou sem vida.

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“Ele estava a caminho do ponto de ônibus indo trabalhar quando meu marido viu esse policial e viu que ele ia atirar, empurrou a senhora com a bebê no colo e entrou na frente, foi quando ele foi baleado. Um trabalhador não merece morrer assim!”, contou a mulher de 40 anos. 

Dona de um salão de beleza, Érica explica que o marido tinha mais de 16 anos de carteira assinada em uma empresa. Juntos, o casal teve três filhos. 

“Ele era um bom pai, um excelente marido, um bom trabalhador, prestava serviço com excelência, era um esposo excepcional, um pai maravilhoso. Ele tinha carteira assinada, mais de 16 anos, o que mais o estado quer? Quero respostas! Ninguém do estado veio falar nada comigo. Vou criar meus filhos sem pai", lamentou.

Érica contou que irá lutar por justiça. Ela também nega que tenha ocorrido uma operação na comunidade, como afirma a Polícia Civil.

“Eu tenho um salão de beleza. Por volta de 16h30, ele estava indo trabalhar, parou na porta do salão e avisou que estava indo, foi quando começaram os tiros e eu falei pra ele esperar passar. Os tiros cessaram e ele foi, para não chegar atrasado na empresa. Ele foi caminhando e quando estava chegando no ponto de ônibus, não tinha traficante, só criança de férias na rua brincando, e os tiros voltaram e aí aconteceu o que eu disse. Não era operação”, narrou ela.

Aos prantos, Érica se recorda que foi impedida de prestar socorro ao esposo, com quem era casada há 23 anos. Por conta do nervosismo, ela afirma ter urinado na própria roupa.

“Não deixaram a gente socorrer ele. Meu marido sangrando pela boca, querendo me dizer alguma coisa e não conseguiu. Me urinei de ódio. Meu marido era querido, meu celular está cheio de mensagem de gente falando bem do meu marido. Quem vai arcar com meu sofrimento e o dos meus filhos? Meu sogro tem problema de saúde, minha sogra não anda mais. Ele era um homem excelente, trabalhador. Não sei mais o que fazer”, afirmou a mulher.

Uma passeata pacífica está marcada para acontecer nesta quinta-feira (13), por volta de 18h, na Praça Central do Jardim América. Não há informações sobre o velório e sepultamento de David Carlos.

Sofrimento para os filhos 

David deixa três filhos, um de 25 anos, outro de 21 e outro de 8 anos. O menor foi diagnosticado com Transtorno do Espectro Autista (TEA) e sofreu a noite inteira perguntando pelo pai. Todos os filhos são frutos da relação de David com Érica. 

O filho Wellington Carneiro, de 21 anos, reconheceu o corpo do pai
O filho Wellington Carneiro, de 21 anos, reconheceu o corpo do pai |  Foto: Lucas Alvarenga
  

O filho Wellington Carneiro, de 21 anos, foi quem reconheceu o corpo do pai após a morte dele no Hospital Getúlio Vargas. 

“Tem outras famílias que sofrem isso no Rio de Janeiro todos os dias. Eu cheguei lá, os policiais foram ignorantes. A situação é desesperadora, queremos uma resposta do Governo do Estado. Fui eu quem reconheci no hospital e ele já estava em óbito”, afirmou ele que é militar da Força Área.   

Carneiro fará aniversário no próximo dia 3 de agosto. E seu irmão, de oito anos, fará nove no dia seguinte.

“Olha o presente que eles me deram! Vamos passar nosso aniversário sem o nosso pai. Sou de dentro da comunidade e falo para vocês que de lá também saem coisas boas, não é porque estou dentro da comunidade que isso me condena. A minha cor também não me condena. Ele era meu pai, meu herói, meu melhor amigo. Eu só quero justiça”, completou. 

O que dizem as polícias  

A Polícia Civil informou que, na verdade, a operação “foi pontual e distante de onde estava o ferido". A ação tinha como foco capturar envolvidos em diversos roubos de automóveis, cargas e latrocínios naquela região.

Ao todo, cinco criminosos foram presos e quatro baleados em confronto. Quatro pistolas foram apreendidas, além de três granadas, drogas, celulares e um caderno de anotações, informou a polícia.

Sobre David, ele foi socorrido pela Polícia Militar e levado para o Hospital Getúlio Vargas, onde morreu. A PM ressaltou que não houve operação da corporação no local. A investigação do caso está a cargo da Delegacia de Homicídios da Capital (DHC).

A Polícia Militar informou que não participou da ação e que foi acionada apenas para socorrer a vítima ao hospital. A ocorrência, inicialmente, havia sido registrada na 38ª DP (Vista Alegre).

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