Alerta
Golpe do amor cresce no Rio; delegado dá dicas para evitar
Casos entram na estatística do crime de estelionato

O número de crimes virtuais segue crescendo e acende um alerta para os cuidados na internet. Um dos golpes mais recorrentes atualmente acontece dentro de aplicativos de relacionamento, nos quais os criminosos se passam por pessoas atraentes e confiáveis para aplicar estelionatos, muitas vezes levando as vítimas a fazer transferências bancárias com promessas de amor ou ajuda financeira. Esta prática ficou conhecida como "golpe do amor" e está nas estatísticas do crime de estelionato.
De acordo com dados divulgados pelo Instituto de Segurança Pública (ISP), o crime de estelionato teve um aumento de 4% em todo o estado entre janeiro e março deste ano, em comparação ao mesmo período de 2024. Foram 36.391 casos em 2025, contra 34.980 no ano anterior — um acréscimo de 1.411 registros.
A dentista e moradora de Niterói Maria Clara Ribeiro, de 27 anos, foi destas vítimas recentes na Região Metropolitana do Rio. Após conhecer um homem em um aplicativo de relacionamento, acreditou estar construindo uma relação verdadeira.
Durante dois meses de conversas diárias, o suposto parceiro relatou uma série de dificuldades financeiras, até que pediu ajuda para cobrir despesas médicas de um parente. Sensibilizada, Maria fez algumas transferências que totalizaram mais de R$ 2 mil. Poucos dias depois, ele desapareceu.
Me senti a pessoa mais ingênua do mundo. A gente sempre acha que isso nunca vai acontecer com a gente, até acontecer. Eu estava carente, confiei, e fui enganada”
Casos como o de Maria Clara estão longe de ser isolados. Autoridades alertam que os golpistas utilizam perfis falsos, com fotos retiradas da internet, e costumam usar narrativas envolventes para conquistar a confiança da vítima. Após o prejuízo e perceber que havia caído em um golpe, a dentista registrou o caso na 81ª DP (Itaipu).
"Eu fui muito inocente, acreditei realmente estar me envolvendo com uma pessoa do bem, mas não era. Conversávamos sobre tudo, ele me mandava fotos (falsas). Eu até tentei marcar de encontrar com ele algumas vezes, mas ele sempre dizia estava ocupado com o trabalho ou tinha algum outro compromisso", desabafou.
Maria Clara, ainda abalada, faz um alerta. “Se eu pudesse voltar atrás, teria desconfiado antes. Hoje, penso duas vezes antes de confiar em qualquer pessoa na internet”.
O delegado Deoclecio Assis, da 81ª DP (Itaipu), explicou que os criminosos atuam com paciência e estratégias psicológicas.
Eles sabem exatamente o que dizer para criar uma conexão emocional. Quando percebem que a vítima está envolvida, aplicam o golpe. É preciso denunciar e nunca fazer depósitos ou transferências para desconhecidos"
Perguntado se o criminoso do caso de Maria Clara foi preso, ele informou que até o momento ele não foi localizado e que diligências estão em andamento para buscar identificar o estelionatário.
Dicas para não cair no golpe
Muitos destes criminosos se aproveitam da bondade da vítima, alegando problemas pessoais ou de saúde, para comovê-la e induzi-la ao erro. Sendo assim, eles vão extorquir o máximo de dinheiro da pessoa e depois aplicam o valor em nomes de laranjas para comprar outras coisas ou até mesmo investir em criptomoedas.
O delegado recomenda atenção redobrada nas interações virtuais e o uso de mecanismos de verificação de identidade. Com o crescimento constante desses crimes, o sentimento de insegurança digital aumenta. Para muitas vítimas, além do prejuízo financeiro, fica a dor emocional de terem sido enganadas em um momento de vulnerabilidade.
"Se desconfiar que está sofrendo o golpe, vá a delegacia mais próxima e registre o caso. Para ter provas, guarde todas as conversas e comprovantes, e não transfira nenhum dinheiro. Se a pessoa está se aproximando de você rapidamente e começar a relatar problemas financeiros e pedir dinheiro, não aceite", alertou o delegado.
O delegado forneceu informações sobre como funciona a investigação nesses casos.
"Sempre houve uma quadrilha especializada neste tipo de crime. Com o aumento diário e a evolução das redes sociais, eles se sentem cada vez mais confiantes. Mas as autoridades estão sempre trabalhando para combater esses crimes", contou.
A gente orienta a vítima para nunca apagar as provas e apresentar à polícia, como prints, comprovantes de transferência. Através disso, começa uma invesigação para localiazar os criminosos e efetuar a prisão"
Histórico de casos recentes
No dia 24 de abril, um homem suspeito de participar de um esquema de estelionato sentimental conhecido como golpe do amor foi preso em Rio das Pedras, na Zona Oeste do Rio.
De acordo com as investigações da Polícia Civil do Rio e a do Pará, a vítima, que é paraense, acreditava estar se relacionando virtualmente com um estrangeiro e transferiu R$ 500 mil ao longo do suposto romance com o criminoso.
Outro caso foi de um homem que sofreu um golpe de estelionato, mas com um agravante. Ele conheceu uma mulher em um aplicativo de relacionamento e em alguns momentos, ele chegou a fazer transferências para a mulher.
Em um certo momento, eles marcaram de se encontrar pessoalmente. Assim que chegou no local combinado, ele foi surpreendido e agredido por seis criminosos, no Engenho do Mato, na Região Oceânica de Niterói.
Desesperado, ele ainda tentou correr para fugir, mas foi pego pelos bandidos. Mais tarde, a vítima foi resgatada com vida pela Polícia Militar e precisou receber atendimentos médicos em um hospital.
Em depoimento, o homem lembrou que explicou a situação, e ao ser questionado sobre o perfil da mulher que iria se encontrar, foi informado que ela era ex de um traficante. O caso aconteceu no dia 2 de abril.
No entanto, o crime não se limita somente ao Rio de Janeiro. Em Jari, no Rio Grande do Sul, um idoso de 71 anos transferiu mais de R$ 2 milhões entre 2022 e 2023 para um grupo criminoso que se passava por uma mulher nas redes sociais. A fraude, identificada pela Polícia Civil, fez com que o homem acreditasse que estava mantendo um relacionamento virtual com uma investidora americana, que prometia vir ao Brasil para conhecê-lo pessoalmente.
A vítima foi enganada por uma quadrilha que utilizava um perfil falso em redes sociais, se apresentando como uma mulher interessada em um relacionamento. A falsa investidora alegava que enviaria presentes, como joias, e solicitava que o idoso fizesse depósitos para cobrir impostos relacionados às encomendas internacionais e tributos alfandegários.
Ao longo de dois anos, o homem transferiu grandes quantias, até que se deu conta de que havia sido alvo de um golpe.


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