Julgamento
Justiça dá início à audiência do caso João Pedro
Depoimentos foram dados no fórum do Colubandê, em São Gonçalo
A jovem Maria Eduarda Barcelos dos Santos, amiga de João Pedro, informou em depoimento que um grupo de policiais atirou 'granada de fumaça' antes de disparar contra a residência em que estava no Complexo do Salgueiro, em São Gonçalo. Um grupo de amigos tinha ido até a casa para se divertir, pois lá tinha um salão de jogos e uma piscina. Segundo a testemunha, eles jogavam sinuca na varanda quando escutaram barulho dos tiros do lado de fora. Por causa disso, entraram dentro de casa.
O depoimento realizado nesta segunda-feira (5), no fórum do Colubandê em São Gonçalo, é parte da audiência de instrução envolvendo a morte de João Pedro, no crime ocorrido em maio de 2020.
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Amiga da vítima, Maria Eduarda informou que estava junto com João no dia do crime e revelou que não viu ninguém entrar na residência além dos amigos e dos policiais.
Não vimos ninguém pular o muro antes dos policiais entrarem. Se tivesse alguém, nós teríamos visto”
Além de helicópteros vistos, a testemunha relatou ainda que um grupo com mais de cinco policiais entraram na casa pela porta principal e ficaram na parte do deck da piscina.
“Quando olhei, os policiais já tinham entrado no quintal com o fuzil apontado. Eles estavam no deck da piscina e apontando para dentro da casa. Os policiais não falaram nada. Só ficaram quietos e apontando a arma pra gente. Foi o momento em que eu vi um puxando uma coisa que eu não sabia o que era. Eu identifiquei que era uma granada pelo fato deles tirarem o pino porque eu sabia que eles iam atirar. Foi a hora que eu vi a granada voando e levantei correndo.”
Ainda de acordo com a testemunha, ela não percebeu o exato momento em que João Pedro foi ferido porque foi se abrigar dos tiros em um quarto da residência.
Segundo o depoimento, o jovem, de 14 anos, foi resgatado por dois amigos mais um policial e encaminhado para um helicóptero da polícia. Ela também informou que os policiais não foram atacados de dentro da casa.
Maria Eduarda foi a terceira testemunha ouvida nesta segunda-feira (5). Ao todo, sete pessoas, incluindo quatro amigos, o pai de João, a perita e a dona da residência prestaram depoimento.
Perícia
A primeira pessoa a ser ouvida pela juíza Juliana Grillo foi a perita Maria do Carmo Gargaglione, diretora da Divisão de Evidências Digitais e Tecnologia do Ministério Público.
Em seu depoimento, ela descartou a possibilidade, alegada pela defesa dos acusados, de que algum suspeito teria pulado o muro do imóvel onde a vítima estava para fugir da polícia. O muro da residência ultrapassa dois metros, o que impossibilitaria o pulo sem ajuda.
Justiça tardia
Para João Luís Silva, articulador social do Rio de Paz, o caso de João Pedro faz parte de uma justiça seletiva que existe no Brasil.
"Vivemos isso porque existe uma seletividade na justiça criminal. Talvez se João Pedro fosse uma criança da zona sul (do Rio) e branca, os culpados já teriam sido punidos. Mesmo assim, a gente sente que a justiça pode ser feita nesse caso porque ainda tem muitas famílias que não conseguiram o mesmo e ainda choram a morte de suas crianças sem justiça", lamenta João Luís Silva, articulador social do Rio de Paz, que esteve na casa onde João Pedro foi morto logo depois com o coordenador de projetos da ONG, Lucas Louback.
"Contamos mais de 70 marcas de tiros nas paredes da casa, um cenário de muita tristeza e covardia. O que encontramos foi um cenário de horror", lembra João.
O caso
João Pedro Mattos de Pinto, de 14 anos, foi morto, em maio de 2020, durante operação conjunta entre as polícias Federal e Civil no Complexo do Salgueiro, em São Gonçalo. O principal alvo dos policiais, o traficante Ricardo Severo, o Faustão, não foi localizado durante a ação conjunta, e segue livre no Complexo do Salgueiro.
Os familiares da vítima afirmam que o paradeiro do menino ficou desconhecido por cerca de 17 horas até ser encontrado no Instituto Médico Legal (IML) de Tribobó, em São Gonçalo. Já a polícia afirmou que o socorro de João Pedro foi realizado para um heliporto na Lagoa, na Zona Sul do Rio, onde foi constatado o óbito.
Os policiais civis lotados na Coordenadoria de Recursos Especiais (Core) Mauro José Gonçalves, Maxwell Gomes Pereira e Fernando de Brito Meister respondem por homicídio duplamente qualificado e fraude processual.
Marcelo Ramalho, advogado dos réus, tentou cancelar a audiência alegando uma irregularidade junto ao Ministério Público por causa do número de testemunhas. No entanto, a juíza Juliana Grillo El-Jaick recusou o pedido.
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