Violência
Pediatra é agredida por mãe de paciente em hospital do Rio
Médica sofreu ferimentos no rosto
Uma médica pediatra foi agredida pela mãe de uma criança durante atendimento no Hospital Municipal Albert Schweitzer, em Realengo, na Zona Oeste do Rio. O insulto resultou em cortes no rosto da profissional de saúde. O caso ocorreu na noite de quarta-feira (27). A vítima fez um desabafo em rede social nesta sexta-feira (29).
Na publicação, a vítima exibiu fotos com o rosto ensanguentado dentro da clínica. A médica denuncia que as agressões foram motivadas após a prescrição de medicamentos. A situação aconteceu na data em que se comemora o Dia do Pediatra.
"Nós profissionais da saúde (médico, enfermeiros e técnicos) que trabalhamos na ponta e somos expostos todos os dias a todos os tipos de agressões sendo físicas ou verbais, precisamos de proteção e segurança para trabalharmos com dignidade", clamou.
O Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio de Janeiro (Cremerj) informou que recebeu com repúdio a informação de que mais uma médica foi agredida fisicamente durante o exercício profissional. "O Conselho entrou em contato com a médica para prestar solidariedade e colocou à disposição sua assessoria jurídica para oferecer o suporte necessário", disse.
Procurada, a direção do Hospital Municipal Albert Schweitzer disse que lamenta o ocorrido e informa que conduziu a médica e a mãe da paciente à delegacia, na última quarta-feira (27).
"[O hospital] segue prestando toda a assistência psicológica, jurídica e institucional à profissional", disse a Secretaria Municipal de Saúde em nota.
As investigações estão em andamento na 33ª DP ( Realengo), que já ouviu a vítima e aguarda o comparecimento dos outros envolvidos no caso para prestarem depoimento. Segundo a Polícia Civil, diligências seguem em busca de informações que ajudem a esclarecer o caso.
O caso
A médica revela que atendeu a criança com "muita atenção" e "cuidado" na manhã de quarta (27). Durante a consulta, que aconteceu por volta de 10h, a profissional de saúde diz que solicitou exame com diagnóstico por imagem ao pai. Inclusive, o procedimento constatou um quadro de pneumonia na paciente.
"Prescrevi antibióticos genéricos para o tratamento da criança, deixando claro ao pai, que já havia apresentado certa agressividade na fala, a falta de insumos e fabricação de medicações em geral", conta.
Por volta das 18h50, quase ao fim do plantão médico, diz a pediatra, a mãe da criança foi até ao hospital, quando ocorreu a agressão contra a médica.
"Fui surpreendida dentro de meu consultório pela mãe dessa criança que havia ficado indignada com o preço e a falta de tal medicamento prescrito, alegando que eu havia receitado os medicamentos com certa maldade, pois de acordo com ela, eu não havia ficado satisfeita com a postura de seu marido", contou a vítima.
De acordo com a pediatra, após o comportamento agressivo da mãe da criança, ela explicou novamente o problema na falta de insumos. Foi aí que agressão aconteceu. "Ao me virar para recolher minhas coisas e ir embora, fui covardemente agredida pela mesma”, relatou a médica.
Ainda segundo o relato da vítima, após ter sido agredida, ela foi até a delegacia da região para registrar o caso, mas ao relatar o episódio aos policiais a médica afirma ter sido surpreendida com a informação que recebeu.
“Fui surpreendida pela lei, alegando que essa mulher só poderia ser presa se tivesse danificado algum patrimônio público, e que mesmo ela tendo ferido minha integridade física e moral, não haveria punição”, contou.
O advogado Ramon Brito, ouvido pelo ENFOCO, ensina que a médica agredida pode e deve fazer o registro do boletim de ocorrência pelo crime de violência física simples. Ele não tem envolvimento no caso.
“Existe uma mentalidade no Brasil, de não encarcerar o acusado quando o tipo de crime é simples. Vale lembrar que, agredir fisicamente e verbalmente um funcionário público também é crime”, informou o assistente jurídico.
Em 2016, o Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 do Código Penal, foi alterado para tipificar de forma mais gravosa os crimes de lesão corporal, contra a honra, ameaça e desacato, quando cometidos contra médicos e demais profissionais da saúde no exercício de sua profissão.
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