Despreparo
PM atirou até 12 vezes antes de acertar amigo em Niterói, diz testemunha
Agente foi indiciado; o caso já foi encaminhado à Justiça

Entre 10 e 12 disparos. Essa teria sido a quantidade de tiros efetuados pelo cabo da Polícia Militar Saymon do Nascimento Torres da Costa, na noite de sábado (30), na Avenida Beira Mar, em Camboinhas, Região Oceânica de Niterói, segundo uma testemunha. Um deles acertou a barriga do fisioterapeuta Matheus Bezerra Torquarto, de 39 anos, que segue em estado grave no hospital. O caso aconteceu por volta das 23h45, a cerca de 100 metros de um evento de pagode que acontecia na região.
De acordo com a 81ª DP (Itaipu), o inquérito foi concluído, com o indiciamento do autor por disparo de arma de fogo e lesão corporal culposa. O caso foi encaminhado à Justiça.
Após prestar depoimento, um rapaz que testemunhou a cena violenta conta ao ENFOCO que estava saindo da festa com dois amigos, quando avistaram a namorada do policial. Como já se conheciam, os jovens a cumprimentaram.
“Quando a gente chegou perto do carro, que estava estacionado ao lado do dele, meus amigos cumprimentaram a namorada dele. Um deles já tinha trabalhado com ela, o outro é amigo do irmão dela”, relatou sob anonimato, por medo de represálias.
Nesse momento, o PM se aproximou e teria perguntado: “E aí, tá acontecendo alguma coisa?”, de acordo com a testemunha. Em seguida, o agente ficou encarando os rapazes, visivelmente irritado e, sem qualquer discussão, começou a atirar para o alto. Tudo durou cerca de 2 minutos.
“A namorada dele tentou acalmar a situação. Pediu pra gente entrar no carro porque ele estava nervoso. Meus amigos correram pro carro, que era blindado, pra tentar se proteger. Foi aí que ele deu mais tiros pra cima”, afirmou.
A testemunha conta que estava ao lado do carona e viu claramente o momento em que o policial abaixou a arma e atirou mais uma vez.
O disparo saiu em linha reta e acabou acertando o amigo dele. Um rapaz que não tinha absolutamente nada a ver com a situação. Ele foi atingido na barriga e está internado até agora, em estado gravíssimo [...] Caiu agonizando, pedindo ajuda, perguntando o que ele [policial] tinha feito
Matheus Bezerra Torquarto, de 39 anos, permanece internado no Hospital Estadual Azevedo Lima, no Fonseca, entubado e com a bala alojada.
O fisioterapeuta foi socorrido por um homem que passava pelo local para buscar um amigo e testemunhou a cena. Tanto o motorista quanto a namorada da vítima já prestaram depoimento.
Versões que não batem
De acordo com informações da investigação, o policial alegou, em depoimento, que dois homens com aproximadamente 1,85m e porte alto teriam tentado tomar sua arma, e por isso ele efetuou três disparos no chão. Um dos tiros, segundo ele, teria ricocheteado e atingido a barriga do próprio amigo.
Mas a versão é contestada pelas testemunhas e pela própria namorada de Matheus.
“Isso é mentira. A própria namorada dele [da vítima] disse que não viu ninguém indo pra cima. O rapaz que socorreu o Matheus também contou que não houve briga. O rapaz que socorreu foi só buscar um amigo dele no evento. É até um senhor. Viu o Matheus ferido e socorreu... ontem na delegacia falou que estava horrorizado [...] O depoimento do policial não faz sentido. Primeiro disse que foi separar uma briga, depois que tentaram tomar a arma. Mas não teve briga nenhuma", diz o rapaz que viu tudo.
Motivação
Sobre a possível motivação para o crime, a testemunha afirma: “Ele quis intimidar a gente. Não digo nem ciúmes, porque ninguém mexeu com a mulher".
Questionado se o policial demonstrou arrependimento, o relato da testemunha é direto:
“Ele até tentou socorrer o Matheus ali na hora. Mas na delegacia, segundo os próprios policiais de plantão, ele não demonstrou nenhum arrependimento. Não parecia preocupado com o estado do amigo. Estava mais interessado na situação dele".
A testemunha ainda relata o impacto emocional do que presenciou:
Eu vi quando a mão dele abaixou e o disparo saiu em linha reta. Foram muitos tiros. Dez, doze tiros. Um deles acertou o Matheus, e o cara está entre a vida e a morte. Eu nem conhecia o Matheus, mas só ouvi falarem bem dele
Além do trauma, veio o medo:
“O policial continua solto. Ele já mostrou do que é capaz. Por isso estou correndo atrás de justiça. Isso não pode passar impune. Um dos meus amigos nem queria depor, por medo. Eu vi o rapaz gritando, agonizando na nossa frente. Cena de terror. Todo mundo fica com receio. O cara totalmente descontrolado, embriagado mesmo. Já tem histórico de confusão.”
O que diz a PM
Procurada, a Secretaria de Estado de Polícia Militar informou que, no domingo (31), o 12º BPM (Niterói) registrou a ocorrência.
"O caso foi registrado na 81ª DP (Itaipu), onde o policial foi autuado e teve a arma apreendida. A Corregedoria da Polícia Militar instaurou procedimento para apurar as circunstâncias do fato", diz a nota.


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