Tragédia

'Sonho interrompido', lamenta pai de Eloáh, morta no Rio

Criança brincava em casa quando foi atingida na Zona Norte

Mulher segura cartaz sobre a morte da menina: luto
Mulher segura cartaz sobre a morte da menina: luto |  Foto: Marcelo Eugênio
  

“Todos vamos sentir saudade. Fiz tudo o que pude pela minha filha. Justiça eu só acredito na divina”. Foi com essa frase que  Gilgres dos Santos, pai de Eloáh Passos, morta dentro de casa no último sábado (12), na Ilha do Governador, enterrou a filha nesta segunda-feira (14), no cemitério da Cacuia, na Zona Norte do Rio. 

A menina, de apenas cinco anos, foi aplaudida e houve uma queima de fogos durante o sepultamento. Eloáh era a filha do meio. Um dia antes de Eloáh ser baleada, a família comemorava o mesversário da filha mais nova. 

“A lembrança que eu tenho é da Eloáh no mesversário da minha filha Vitória. A coisa mais linda. Cheguei do trabalho cansado, na sexta-feira (11), assei a carne, ajeitei as coisas, ela disse que estava com fome, não gostava de carne. Ela comeu e disse que queria dormir, eu disse pra ela não dormir porque era para comemorar um pouco com a irmã dela. Aí ela pediu meu celular, peguei ela, a beijei, a mordi e ela me disse que me amava. Depois, ela foi brincar com o primo. No sábado, eu sabia que não era para sair de casa, mas aí fui jogar bola. Aí ela perguntou para onde eu ia, me abraçou e me deu um beijo. Aí ela falou para eu ir com Deus, ou seja, ela mandou eu ficar com Ele e foi com Ele”, contou Gilgres. 

Um protesto, feito pela ONG Rio de Paz, foi feito durante a cerimônia
Um protesto, feito pela ONG Rio de Paz, foi feito durante a cerimônia |  Foto: Marcelo Eugênio
  

Ele conta que não viu quem atirou na filha. “Eu não vi nada, meu coração é limpo, estou sendo forte para minha esposa. Ontem ela foi forte, hoje tenho que ser. Foi um sonho interrompido. Não vi se foi bandido ou se foi policial. Não estou com raiva, não estou com rancor, só quero saber se o cara que atirou na minha filha está dormindo, se ele está com o filho dele, se ele tiver, pensando que tirou a vida de uma menina de 5 anos. Quando ele dormir, vai lembrar de Eloáh e que foi a vida dela que ele tirou e ela estará lá com ele. Ela vai estar lembrando que tirou ela das pessoas que mais a amavam”, contou o auxiliar de serviços gerais. 

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A mãe de Eloáh estava abalada e não teve condições de falar com a imprensa. A avó da menina, Simone Passos, falou sobre a rotina com a menina. 

“Um dia antes, celebrando os três meses o aniversário da irmã dela e, no outro dia, acontece essa brutalidade com minha neta. Eloáh não saía da minha casa, me chamava de ‘vovó’ o dia todo e agora estou sem ela, eu levava ela para a escola com a irmã. Eles esquecem que em comunidade tem gente do bem, não só do mal, tem gente de direitos, moramos lá porque precisamos, não temos para onde ir”, afirmou. 

Eloáh foi atingida no peito dentro de casa no morro do Dendê, na Ilha do Governador
  

Simone chegou a avisar à filha sobre a manifestação que estava ocorrendo. Foi durante a manifestação que ocorreu o tiro que matou Eloáh. 

“Da janela da minha casa, dá para ver a janela da casa dela. Eu falei para ela não deixar Eloáh sair, porque ela ia todo dia lá em casa tomar café. Daqui a pouco, ouvi minha filha gritando aí e fui correndo para a casa delas. Lá, eu vi minha filha com minha neta dos braços, com um tiro no peito, foi para matar. Uma criança de cinco anos, sem defesa nenhuma e os policiais atiraram. Nada que fizemos trará ela de volta”, concluiu. 

Durante o enterro, houve um início de manifestação com pessoas do Morro do Dendê, também na Ilha. Eloáh morava na comunidade. No sepultamento, a irmã mais velha da menina chorou e pediu o colo do pai. Durante uma conversa, ela disse que sentiria saudade da irmã. “Todos vamos sentir”, devolveu o pai. 

Eloáh foi sepultada por volta das 13h. Muitas crianças estiveram presentes e algumas carregavam balões brancos. 

O caso

A criança foi atingida por um tiro dentro de casa, na comunidade do Dendê, na Ilha do Governador, Zona Norte do Rio, na manhã de sábado (12), durante manifestação pela morte de Wendel Eduardo de Almeida, de 17 anos, que estava na garupa de um mototáxi e foi abordado por policiais militares, que alegaram que não foi obedecida ordem de parada. A Polícia Militar informou que não realizava operações no momento em que Eloá foi baleada.

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