Logo Enfoco


    Perigo

    Uso de linha chilena explode no Rio; saiba como denunciar

    Apesar de crime, a fabricação e venda ainda continuam

    Publicado 19/06/2025 às 12:29 | Autor: Laís Reis
    Ouça a reportagem
    Siga no Google News Siga o Enfoco no Google News
    Usar linha chilena é crime
    Usar linha chilena é crime |  Foto: Paulo H. Carvalho/Agência Brasília

    Foram 395 denúncias anônimas sobre linha chilena só nos cinco primeiros meses deste ano. O Programa Linha Verde do Disque Denúncia nunca teve um número tão expressivo desde a sua criação, em 2013. Este número, comparado com o mesmo período do ano passado - com 149 denúncias - reflete um aumento de 165% nos casos que chegam ao canal criado pelo Instituto MovRio.

    De acordo com os dados do Linha Verde, o município de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, já soma 15 denúncias só este ano e a tendência é ultrapassar o número de 2024. Infelizmente, as denúncias não foram suficientes para poupar a vida de Auriel Missael Henriques, de 41 anos, morto enquanto passava pela Linha Vermelha, na altura do Parque das Missões, dia 27 de maio. A vítima estava com a esposa na garupa da moto e ia visitar a filha em Nova Iguaçu, quando foi ferida no pescoço.

    Os municípios que somam mais denúncias no Linha Verde, entre 2024 e o primeiro semestre deste ano são: Duque de Caxias, São Gonçalo e São João de Meriti, com 85 casos ao todo, na Baixada e Região Metropolitana. E o bairro que mais teve denúncia foi Piedade, na Zona Norte do Rio, com 114 denúncias só de janeiro a junho.

    Apesar de tantos relatos, o uso de linha chilena continua indiscriminado, certamente porque quem a utiliza sabe que não é uma atividade fácil de ser identificada, cabendo a cada município o dever de tentar, de alguma forma, diminuir os casos que diariamente põem em risco a vida de inocentes.

    Desde 4 de novembro de 2019, a linha chilena (conhecida também como cerol) é proibida por lei e seu uso é considerado crime no Brasil. A Lei 17.201 proíbe o uso de materiais cortantes em linhas de pipa, com a linha chilena e a venda, fabricação e transporte também são ilegais, mas o que ainda vemos nas ruas é o contrário, pois os casos continuam acontecendo.

    Ações municipais

    No município do Rio, só no primeiro trimestre deste ano, foram registrados 15 atendimentos por acidentes com linhas de pipas nas unidades de urgência e emergência da rede. O aumento foi de 150%, comparado com 2024 - com seis casos notificados.

    A Prefeitura não especificou o tipo de linha relacionada aos atendimentos e informou que as fiscalizações sobre comercialização e uso desse tipo de material são de competência da Guarda Municipal e Agentes de Controle Urbano.

    Em Niterói, no último mês, a Prefeitura, por meio da NitTrans, montou uma blitz de ação do Maio Amarelo, na Avenida Marquês do Paraná, no Centro. Na ocasião foram instaladas gratuitamente 500 antenas corta-pipas. O acessório é uma alternativa para tentar proteger quem está diariamente correndo risco de se cortar e, até mesmo, perder a vida.


    Aspas da citação
    A segurança no trânsito é uma prioridade e iniciativas como essa são fundamentais para proteger os motociclistas, que enfrentam riscos todos os dias
    Felipe Peixoto, secretário executivo
    Aspas da citação

    A Secretaria Municipal de Ordem Pública de Niterói (Seop), embora tenha informado que não registrou nenhuma denúncia de uso de linha chilena no município, disponibiliza o número 153, ligado ao Centro Integrado de Segurança Pública (Cisp), para ocorrências desse tipo. A utilização de cerol e linha chilena passou a ser proibida em Niterói por meio do decreto municipal 11.485, de 2013.

    Acidentes quase fatais

    Acidentes podem ser fatais
    Acidentes podem ser fatais |  Foto: Arquivo / Enfoco

    No dia 31 de maio, a fisioterapeuta Juliana Pinto Jaccoud, de 33 anos, estava na garupa de uma moto quando foi atingida por uma linha chilena no pescoço, no bairro Fazenda dos Mineiros, em São Gonçalo. O ferimento, de aproximadamente seis centímetros, foi profundo, mas felizmente não atingiu estruturas vitais. Ela precisou passar por uma cirurgia e deixou o hospital no último dia 2.

    “Senti uma ardência no pescoço e, quando coloquei a mão, encontrei a linha. Tirei-a e disse para o meu marido: ‘acho que me cortei’. Quando ele olhou, viu que meu pescoço estava sangrando muito”, contou a vítima, que foi atendida no Hospital Estadual Alberto Torres (Heat).

    O cirurgião geral e plástico e Coordenador Médico do Centro de Trauma do Heat, Marcelo Pessôa, falou sobre os riscos de um corte por linha chilena. Só no Heat já são 10 casos, somando 2024 e o primeiro semestre deste ano.

    “A região do pescoço é uma área com várias estruturas nobres, como o sistema respiratório, vascular e digestivo, além de toda irrigação que vai para o cérebro. Qualquer corte mais profundo pode levar à morte, por isso, quando o paciente consegue sair com no mínimo uma cicatriz, é uma vitória. São lesões bem difíceis de serem tratadas e não dá para dimensionar os danos”, disse.

    Hospital Estadual Alberto Torres teve 10 casos entre 2024 e 2025
    Hospital Estadual Alberto Torres teve 10 casos entre 2024 e 2025 |  Foto: Lucas Alvarenga

    Pessôa também mencionou a mudança de vida que uma vítima pode ter após um episódio desse.


    Aspas da citação
    Dentre as consequências, podemos mencionar que um corte por linha chilena pode tirar as pessoas das suas atividades habituais, muitas vezes, por ficarem com sequelas permanentes. A vida pode mudar completamente e por isso é tão importante a conscientização sobre não uso. Precisamos prevenir com campanhas, principalmente, voltadas às crianças
    Marcelo Pessôa, cirurgião geral e plástico
    Aspas da citação

    O mototaxista por aplicativo, Luan Motta, teve o pescoço cortado, mas conseguiu evitar o corte profundo arrancando a linha chilena com as mãos, na Linha Amarela, na altura do Anil, em Jacarepaguá, Zona Oeste do Rio. O caso aconteceu na última segunda-feira (2). Após o episódio, Luan colocou a antena corta-pipa.

    Ação policial

    Em março, a Polícia Civil fez uma operação após a morte de um mototaxista, que teve o pescoço cortado por uma linha com cerol enquanto trafegava pela Avenida Brasil, na altura de Realengo, e prendeu um comerciante. A pena para este crime varia de 3 meses a 1 ano. O bairro, em 2024, foi um dos que mais teve denúncias no Linha Verde, somando 38 casos. Até o mês passado, Realengo já somava 17 denúncias anônimas desse crime.

    Como denunciar

    Para denunciar crimes ambientais, a população pode ligar 24 horas, sete dias da semana, para o telefone (21) 2253-1177 e para o 0300 253 1177, ambos com WhatsApp anonimizado - técnica de processamento de dados que remove ou modifica informações que possam identificar uma pessoa, ou então pelo App "Disque Denúncia RJ". É possível denunciar ainda pelo site do Disque Denúncia (www.disquedenuncia.org.br) ou ainda pela página do Linha Verde no Facebook (www.facebook.com/linhaverdedd).

    Tags

    Laís Reis

    Laís Reis

    Jornalista

    Grupo achados e perdidos do facebook Enfoco Grupo achados e perdidos do facebook Enfoco
    Achados e Perdidos

    Perdeu documentos, objetos ou achou e deseja devolver? Clique aqui e participe do grupo do Enfoco no Facebook. Tá tudo lá!

    Entrar no grupo

    Relacionados em Polícia