Operação Caronte
Vans faziam 'viagens fantasmas' para lucrar milhões no Rio
Validador era acionado mesmo com veículo parado, diz polícia

A Polícia Civil deflagrou, nesta terça-feira (27), a Operação Caronte, que investiga um esquema de fraude envolvendo o Bilhete Único Intermunicipal. Agentes saíram às ruas para cumprir nove mandados de busca e apreensão em residências e empresas de permissionários. Um homem foi preso por porte ilegal de arma de fogo.
Segundo as investigações, o esquema consistia na simulação de viagens por proprietários de vans, com o objetivo de receber indevidamente subsídios pagos pelo governo estadual. As autoridades estimam que os prejuízos causados pelo grupo possam chegar a dezenas de milhões de reais por ano.
Com o auxílio do Detro e de peritos do Instituto de Criminalística Carlos Éboli (ICCE), estão sendo realizadas fiscalizações para apurar o possível uso de veículos roubados no transporte de passageiros operado pela organização criminosa.
A ação conta com a participação da Delegacia de Defesa dos Serviços Delegados (DDSD) e, com o apoio da 109ª DP (Sapucaia) e de outras delegacias especializadas.
"O trabalho de inteligência da Polícia Civil contra a lavagem de dinheiro para desarticular essas quadrilhas é de extrema importância, principalmente quando envolve prejuízo aos cofres públicos. Não vamos permitir que essas organizações criminosas se apropriem do dinheiro dos cidadãos e seguiremos avançando nas investigações", afirma o governador Cláudio Castro.
A operação tem como objetivo apreender documentos, celulares, mídias digitais, veículos de alto valor e jóias de origem suspeita, além de acessar o conteúdo de dispositivos eletrônicos e registros de dados em nuvem que possam comprovar o esquema.
O nome da operação faz referência a Caronte, personagem da mitologia grega encarregado de conduzir as almas dos mortos através do rio que leva ao submundo.
Como funcionava a fraude
O esquema, revelado após longa investigação, envolve linhas intermunicipais de transporte entre a Baixada Fluminense — Guapimirim, Magé, Piabetá e Raiz da Serra — e o Centro do Rio. Os fraudadores simulavam dezenas de passagens por hora em veículos com apenas 15 lugares, utilizando-se de cartões RioCard e do sistema de bilhetagem eletrônica para burlar os repasses do estado. Em um dos casos, foram registradas mais de 34 validações em apenas uma hora, sem que nenhum passageiro entrasse na van.
O inquérito apontou que os autores montaram uma organização criminosa com divisão de tarefas, ocultação de patrimônio e lavagem de dinheiro, sustentada por um fluxo constante de repasses falsificados do programa Bilhete Único, que movimenta anualmente cerca de R$ 900 milhões.
A estimativa é que o prejuízo gerado por esse grupo possa chegar a dezenas de milhões de reais por ano — dinheiro que deveria subsidiar o transporte de trabalhadores fluminenses, mas que acabou irrigando contas bancárias e empresas de fachada ligadas aos investigados.
Mais uma vez, desarticulamos um esquema criminoso que vinha causando prejuízo ao estado. A operação é resultado de uma investigação profunda, que revelou toda a estrutura da organização criminosa. Vamos seguir trabalhando, sempre com muita inteligência, para beneficiar os cidadãos fluminenses
As apurações contaram com oitivas de testemunhas, cruzamento de dados do sistema de bilhetagem, rastreamento de itinerários e cooperação com o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) e o Laboratório de Tecnologia contra a Lavagem de Dinheiro (LAB-LD) da Polícia Civil.
O relatório de inteligência financeira revelou movimentações incompatíveis com as rendas declaradas, saques fracionados em espécie, repasses cruzados entre os próprios permissionários e vínculos com cooperativas e locadoras de fachada.
Entre os investigados estão dirigentes de cooperativas e operadores de linhas suspeitas de funcionar como “fábricas de bilhetes falsos”, alguns deles com antecedentes em outras fraudes no setor de combustíveis. Em uma das situações, o investigado apontado como líder movimentou mais de R$ 1,2 milhão em apenas seis meses — R$ 259 mil em dinheiro vivo.
Os investigados poderão responder pelos crimes de peculato, lavagem de dinheiro e constituição de organização criminosa. Somadas, as penas podem ultrapassar 30 anos de prisão.


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