Política

Polarização eleva pedidos de filiação ao PSOL em Niterói

A esquerda, conhecida pelas manifestações e lutas trabalhistas, não deve fechar alianças em Niterói. Foto: Walace Rosa/Arquivo

Desde o segundo turno das eleições gerais que alçaram Jair Bolsonaro (PSL) à presidência, o diretório do Partido Socialismo e Liberdade (PSOL) na rua Doutor Celestino, no Centro de Niterói, anda mais movimentado. Isso porque o número de filiados ao partido na cidade aumentou 14% nos últimos oito meses, e outra centena de pedidos aguarda avaliação.

Para a presidência do partido em Niterói, o aumento é indicativo de uma reação ao quadro de polarização política.

“Acredito que as pessoas consideram o PSOL um espaço de resistência diante da ascensão da extrema direita no país”, comenta Thiago Melo, presidente do diretório há quatro anos.

Ao todo, a sede abriga cerca de 1160 filiados, distribuídos em grupos, como educação e acessibilidade. O partido de esquerda ampla, criado no ínterim de um rompimento no Partido dos Trabalhadores (PT), busca distância da sigla malograda pelos casos de corrupção.

“A política de conciliação do período PT nos trouxe a esse cenário sombrio de ultraliberalismo, ataques aos direitos humanos e à própria democracia. O Brasil precisa de um projeto autêntico de esquerda para superar a crise e enfrentar o risco autoritário”, acredita Melo.

Alianças

A postura de distanciamento mina as possibilidades de uma frente ampla de esquerda para as eleições municipais de 2020. No caso de Niterói, a proximidade do PT e do PCdoB com a base governista gera incômodo no PSOL.

“Embora nossa política de alianças ainda não esteja definida, acho que não há espaço para debater uma frente ampla com outras forças políticas da esquerda em Niterói”, explica Melo.

Candidatura própria

O PSOL confirmou o lançamento de uma candidatura própria para as eleições municipais, mas ainda não definiu a composição da chapa. No entanto, o nome consensual no partido é o deputado estadual Flávio Serafini.

Com Serafini, a sigla galgou a terceira maior votação nas eleições que reelegeram Rodrigo Neves (PDT). "Meu nome está a disposição do partido", disse o pré-candidato.

"No próximo ano, sem dúvida, a maior diferença será a presença do PSL. No entanto, o cenário ainda é vago, pois depende de quem será lançado como sucessor de Neves", destacou o Melo.

O partido é crítico do governo Neves, por considerar que a gestão não lida com os problemas socioeconômicos da cidade de forma estrutural. "A qualidade de vida na cidade é elevadíssima, mas ao custo de muita desigualdade", concluiu.

Blocos coesos

"Não apenas Niterói e o estado, mas o País e até outros continentes enfrentam um cenário de radicalização política", pontua o professor adjunto de Ciência Política da Universidade Federal Fluminense (UFF), Márcio Malta.

Na avaliação do docente, é previsto que os dois polos registrem um crescimento exponencial em termos de participação política, formando blocos mais coesos.

"Em épocas de movimentos mais autoritários, não há mais espaço para ficar em cima do muro, as pessoas tendem a assumir posições",

afirma o especialista.

"Assim como a nova direita se afastou da pauta do liberalismo e encampa ataques aos direitos humanos, a nova esquerda, em reação, se renova. Os movimentos sociais da esquerda se agregam não apenas pelo trabalhismo, mas também pela agenda da igualdade de gênero e ambiental, por exemplo", analisou Malta.

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