Prevenção
Vale Tudo: leucemia de Afonso alerta para a importância do diagnóstico
Do cansaço às manchas na pele: quando os sinais preocupam

Na televisão brasileira, algumas cenas ficam gravadas para sempre na memória do público. Uma delas foi exibida em 2000, quando Camila, personagem de Carolina Dieckmann em "Laços de Família", raspou os cabelos após ser diagnosticada com um câncer do tipo leucemia.
Agora, 25 anos depois, o tema volta a emocionar o país com a nova versão de "Vale Tudo". Na trama, Afonso Roitman, vivido por Humberto Carrão, descobre ter leucemia mieloide, um tipo de câncer que afeta a medula óssea e altera a produção de células do sangue. Assim como na novela de Manoel Carlos, o enredo desperta discussões sobre a doença, seus sintomas e a importância do diagnóstico precoce.
O arco narrativo de Afonso mostra como sinais graves podem ser confundidos com estresse ou cansaço físico, atrasando a busca por atendimento médico. Fora da ficção, a realidade não é tão diferente.
Para esclarecer mitos e reforçar informações sobre a doença, Renata Lyrio Baptista, professora adjunta de Hematologia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) explicou detalhes sobre a patologia.
"A leucemia é um câncer da medula óssea, que é a fábrica do sangue. Não existe um estágio inicial ou avançado como vemos em outros tipos de câncer. Uma vez que as células doentes começam a se proliferar, elas ocupam o espaço das células saudáveis e prejudicam a produção de hemácias, plaquetas e leucócitos", esclarece.
Sintomas
Segundo a especialista, os sintomas costumam aparecer rapidamente, em poucas semanas, o que derruba a ideia de que a doença seja silenciosa:
“É comum o paciente estar bem há duas ou três semanas e, de repente, apresentar um quadro de cansaço intenso, manchas pelo corpo ou febre sem explicação. Muitas vezes, isso é confundido com estresse ou um resfriado. Mas quando fazemos o hemograma, vemos alterações significativas”, diz Renata.
Sinais de alerta

Os sintomas da leucemia mieloide aguda, doença que acomete o personagem de Carrão na novela, podem incluir fadiga, manchas vermelhas nas pernas, sangramento nas gengivas e febre persistente.
"Essas manchas costumam ser pequenas, como picadas de mosquito. Já a febre acontece porque a imunidade cai. Quando isso aparece, o ideal é procurar atendimento médico o quanto antes", alerta.
A médica reforça que não existe exame de rotina para detectar precocemente a leucemia, e que o diagnóstico depende da avaliação médica diante de queixas persistentes:
“Se o hemograma estiver normal, não é leucemia. Mas se houver alterações, o laboratório já identifica células imaturas, chamadas de blastos, que são características da doença”, explica a professora.
Ficção e realidade
Na novela, Afonso demora a procurar atendimento porque acredita que o cansaço é resultado de excesso de trabalho e treinos físicos. Esse retrato, para a médica, se aproxima da realidade de muitos pacientes:
A pessoa pode estar levando uma vida ativa até poucos dias antes do diagnóstico. Por isso, é tão importante prestar atenção aos sinais do corpo
Tratamento
O tratamento da leucemia mieloide aguda envolve quimioterapia intensa e, em alguns casos, transplante de medula óssea. As chances de cura variam de acordo com a idade do paciente e o perfil genético da doença.
“Se o risco genético é considerado bom, a taxa de cura pode chegar a 70% em pessoas jovens. Mas para quem tem fatores genéticos desfavoráveis, esse índice cai bastante. O objetivo sempre é buscar a cura, mas precisamos ser transparentes com os pacientes sobre os desafios do tratamento”, ressalta Baptista.
Prevenção ainda é um desafio
Ao contrário de outros tipos de câncer, a leucemia não tem fatores de risco claros.
“É uma doença que, na maioria das vezes, acontece ao acaso. Não temos como prever ou prevenir. Nenhum desses tratamentos é 100% de chance de cura, mas o objetivo é que a gente cure esses pacientes com leucemia aguda”, afirma a especialista.
A escolha de abordar o tema em uma novela de grande audiência, segundo especialistas, ajuda a desmistificar a doença. Essas histórias chamam atenção para sinais que muitas pessoas ignoram.
É uma forma de fazer o público se identificar e buscar ajuda médica quando necessário.
As diferenças entre leucemia mieloide e linfóide

Segundo informou Renata, existem dois principais tipos de leucemia aguda:
Leucemia Linfóide Aguda (LLA): mais comum em crianças, representa cerca de 80% dos casos pediátricos e tem altas taxas de cura. O tratamento é feito com quimioterapia intensa por aproximadamente dois anos, na maioria das vezes sem necessidade de transplante de medula.
Leucemia Mieloide Aguda (LMA): é a forma mais comum em adultos, com média de diagnóstico acima dos 60 anos. Em pessoas jovens, a quimioterapia é combinada com estratégias de consolidação, como transplante de medula óssea, especialmente em casos com perfil genético desfavorável.
Assim como em "Laços de Família", que inspirou uma onda de doações de medula óssea no início dos anos 2000, "Vale Tudo" (2025) pode, mais uma vez, despertar interesse pelo tema.
Como ser doador?
É possível se tornar voluntário para ser doador de medula ossea. No Rio existem espaços específicos para ser doador. No entanto, o cadastro depende de alguns pré-requisitos:
- Ter entre 18 e 35 anos de idade;
- Estar em bom estado geral de saúde;
- Não ter doença infecciosa transmissível pelo sangue;
- Não apresentar doença neoplásica (câncer), hematológica (do sangue) ou do sistema imunológico;
- Algumas complicações de saúde não são impeditivas para doação, sendo analisado caso a caso;
Para o cadastro é preciso comparecer a uma das unidades do HemoRio com documento oficial com foto. Apos a coleta do sangue, seus dados serão cruzados com os dos pacientes, que precisam de transplante de medula óssea. Se você for compatível com algum paciente, outros exames de sangue serão necessários. Se a compatibilidade for confirmada, você será consultado novamente para confirmar se deseja realizar a doação.
> HemoRio
Rua Frei Caneca, 8 – Centro – Rio de Janeiro-RJ
Telefone: (21) 2509-1290
> Instituto Nacional de Câncer – INCA
Praça da Cruz Vermelha, 23 – 2º andar – Centro – Rio de Janeiro-RJ
Telefone: (21) 2506-6580


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