Nacional
Justiça e lágrimas: série mostra os conflitos em comunidades do Rio
Produção está em cartaz no streaming Prime Vídeo
‘Menino morre ao ser baleado por PM em favela do Rio’. A frase poderia estampar muitos jornais cariocas, como quase todo dia o faz, mas apenas ilustra o acontecimento central da série “Amar é para os fortes”, inspirada no álbum homônimo do cantor Marcelo D2, lançado em 2018, brilhantemente dirigida pelo trio Kátia Lund (Cidade de Deus), Yasmin Thainá (Regra 34) e Daniel Lieff (1 Contra Todos). É o puro suco do gênero chamado ‘favela movie’.
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Perdemos as contas de quantas vezes nos deparamos com casos semelhantes. Eu mesmo durante minha carreira como jornalista já me choquei cobrindo e estando dentro daquela rotina. As histórias eram as mesmas, o que mudava eram os personagens.
A dor, o choro, o desespero ao ter um filho enterrado por culpa do Estado, as camisas com as fotos estampadas, os aplausos, a luta por justiça. Toda uma rotina completamente virada de cabeça para baixo em um estalar de dedos. Ou de tiros.
Série
Na trama, um menino negro de 11 anos é baleado enquanto saía para comprar uma flor para a mãe em um domingo de Dia das Mães. Uma operação policial que ocorria dentro da favela acabou vitimando o jovem, confundido com um bandido.
O autor do disparo é um soldado, também negro, que começa a partir dali a viver seu dilema.
Até ali as histórias são unicamente semelhantes. Mas a trama não busca evidenciar o erro do sistema contra a minoria, que a essa altura já parece óbvia.
Mas explora os pontos de vista da mãe do jovem morto e da mãe do policial, que com aquele disparo, também ‘morreu’.
Duas mulheres negras, sob circunstâncias diferentes lutando pelo mesmo objetivo: a verdade.
O elenco é ótimo e recheado de pontos altos, principalmente nas cenas mais dramáticas. Por mais que conheçamos a rotina dentro das comunidades, jamais vamos entender o que é ser uma mãe ou um pai passando por isso.
Ali, vemos João Pedro, menino fuzilado dentro de casa enquanto brincava com amigos na comunidade do Salgueiro, em São Gonçalo.
Até hoje, os pais do adolescente buscam o remédio amargo da luta contra o sistema. Mas também vemos Heloísa, Eloá, Juan Davi.
Levantamento do instituto Fogo Cruzado lançado no último mês de novembro aponta que houve 283 chacinas policiais no Grande Rio em sete anos.
São Gonçalo, município onde João Pedro foi morto, aparece na segunda colocação, com 43 chacinas e 157 e mortes. Números assim são frios, machucam, mas servem para escancarar o sistema do mata ou morre.
Vivemos na realidade e também nas ficção, que toma a realidade como parâmetro, na vã tentativa de que algo possa mudar.
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