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O inimigo agora é o mesmo: Tropa de Elite 2 continua atual

Caos no Rio revela similaridades com o longa lançado há 13 anos

Filme de José Padilha foi lançado há 13 anos e continua atual
Filme de José Padilha foi lançado há 13 anos e continua atual |  Foto: Reprodução

Assistindo às barbáries provocadas por milicianos depois que um de seus líderes acabou abatido pela polícia na Zona Oeste do Rio, me lembrei de como essa realidade, mais perto do que muita gente pode imaginar, é retratada no cinema. Incontáveis filmes e séries com essa temática são produzidos à exaustão, e o que a arte fazia imitando a vida, a vida fez questão de repetir a arte.

Falcatruas dentro dos muros dos quartéis e organizações políticas, criminosos negociando com os agentes que deveriam zelar pela segurança da sociedade, policiais sendo presos. Tudo o que um bom roteiro da vida real poderia sugerir

De todos os longas já feitos sobre o tema, não há como não relembrar uma produção nacional que retrata, de maneira mais fiel e assustadora, o que está acontecendo com o estado do Rio: 'Tropa de Elite: o inimigo agora é outro'. Ou era outro, porque há muito tempo vem sendo o mesmo.

Tropa de Elite

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O longa, dirigido por José Padilha, que escancarou em 2008 o que se passava na polícia em seu primeiro filme sobre a corporação, mostra na sequência lançada dois anos depois, a relação intrínseca e indissociável da estrutura que está praticamente em todas as esferas de poder no Brasil.

A produção mostra o início do que conhecemos hoje com mais solidez. PMs famintos por poder e dinheiro, políticos montando esquemas e se juntando às milícias e meros mortais tentando reunir forças para o combate. Um espiral que parece não ter fim.

A visão do PM que enxergou na comunidade seu novo jeito de ‘ganhar a vida’ expulsando os traficantes, que em geral não eram dotados de treinamento militar e poderio bélico, para se apossar e controlar a comunidade, é mostrado na pele do policial Rocha (Sandro Rocha) e o caminho tortuoso ao qual iríamos chegar. E chegamos! Discursos rasos dos governantes e serviços de inteligência fracos davam o tom para o prenúncio da tragédia. Agora, o tráfico tenta retomar seus territórios e assistimos, atônitos, a tudo acontecer.

O filme retrata também os roubos de policiais dentro da própria polícia e repassando esses armamentos para traficantes de comunidades da Zona Oeste. A mesma que serviu de cenário para os 35 ônibus queimados e o terror frente aos moradores. Qualquer semelhança com a realidade já não pode ser considerada mera coincidência.

A cena do longa de Padilha que mostra o governador, o secretário de segurança e um deputado em um churrasco na comunidade atrás dos votos quando milianos dançam armados e fazem discurso é o retrato mais fiel do que conhecemos hoje.

De cena em cena, de fala em fala, é quase impossível não comparar as cenas do filme com a realidade. No final, a trilha “O calibre”, dos Paralamas (Eu vivo sem saber até quando ainda estou vivo), fecha deixando um ar contaminado de pólvora e causa desconforto, mostrando um capítulo da história que parece estar bem longe de acabar.

Cícero Borges - Dá o Play

Cícero Borges é jornalista e chefe de reportagem no Enfoco Site de Notícias. Amante de boa música e da sétima arte, ele fala sobre lançamentos e comenta sobre as principais obras de sucesso nacional e internacional.

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