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    Hipócrates, Galeno e os temperamentos humanos

    A palavra TEMPERAMENTUM surgiu no século 17, significa mistura

    Publicado 05/05/2022 às 10:19 | Autor: Ana Fernanda
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    Ao estudar a sintomatologia, baseou-se nos ensinamentos de Hipócrates, e dividiu o comportamento humano em 4 grupos
    Ao estudar a sintomatologia, baseou-se nos ensinamentos de Hipócrates, e dividiu o comportamento humano em 4 grupos |  Foto: Andrea Piacquadio/Pexels

    Há 2500 anos, Hipócrates percebeu que, independentemente do local de nascimento, da origem, da raça, da região ou época, as pessoas tendem a reagir de modos mais ou menos uniformes, tendo reações mais enérgicas ou lentas, conforme as situações que se apresentam, e de curta ou longa duração, também.

    Nascido em 460 a.C, em Cós, uma ilha grega, foi, juntamente com Sócrates, Demócrito e Aristóteles um dos grandes expoentes do pensamento grego de sua época. Vindo de uma família asclepíade, ou seja, que praticava a medicina há várias gerações, ganhou o título de pai da medicina, tendo escrito várias obras.

    Em seus manuscritos, havia descrições clínicas , para diagnóstico de doenças, bem como o entendimento de que muitas epidemias se dão em decorrência de condições climáticas, raciais e dietéticas e geográficas. Escreveu bastante sobre anatomia, também, incluindo dissecação de cadáveres. Sua escola de Cós ficou mundialmente conhecida.

    Sua prática médica, sua compreensão do organismo humano e do temperamento de cada um, foi baseada na teoria dos 4 humores – sangue, fleuma, bílis amarela e bílis negra. As características de cada corpo levariam à eucrasia (equilíbrio) ou à discrasia (desequilíbrio, doença, dor).

    Entendia que as doenças agiam de modo silencioso no organismo, até o momento de krisis, quando se definiam de modo claro, e havia possibilidade de cura ou não. O bom médico haveria de identificar o kairós – momento certo de agir.

    Lançou o Corpus Hippocraticum, onde condensou boa parte de seus estudos e teorias. Seu juramento ético tornou-se universal, sendo proferido pelos médicos até hoje.

    Sua teoria humoral, constante do Corpus Hippocraticum, constituiu-se no principal meio de explicação racional dos estados de saúde e doença dos seres humanos, até o século 17 ou 18, quando foi sendo substituída por outros critérios de avaliação dos pacientes.

    De acordo com sua teoria, o equilíbrio entre os 4 humores era condição de saúde do paciente, e o desequilíbrio, de doença. Sangue, fleuma, bílis amarela e bílis negra seriam os elementos, respectivamente, do coração, do sistema respiratório, do fígado e do baço.

    Assim, de acordo com os humores apresentados, haveria 4 tipos de temperamentos humanos, de acordo com a predominância de qualquer desses humores, no indivíduo: sanguíneos seriam quentes e úmidos. Fleumáticos, frios e úmidos. Coléricos, quentes e secos. Melancólicos, frios e secos. Cada temperamento assimilaria melhor certos alimentos, e manifestaria mais certos sintomas.

    A febre seria um expediente do corpo, reagindo para coser os humores em excesso, e a terapêutica seria a incidência, sobre o psíquico da pessoa, a fim de moderar o humor em excesso ou contrariar suas características, fazendo um contraste.

    No século 2 d.C, Galeno, o pai da farmácia, trabalhou tb com os temperamentos e sua aplicação no campo da medicina, para um diagnóstico mais eficaz e amplificado. Cláudio Galeno nasceu por volta de 129 d.C, em Pérgamo, quando a Grécia se encontrava sob domínio romano. Filho de aristocrata, era um homem de posses e muito estudioso, tendo conhecimento nas áreas da filosofia, da matemática, da lógica, da astronomia, da agricultura e da literatura.

    As descobertas que fez e as teorias que criou, influenciaram a medicina ocidental por mais de um milênio. Galeno dissecava macacos, já que a análise de cadáveres humanos era proibida.

    Foi para Roma no ano de 161, e passou a ser médico do filho do Imperador Marco Aurélio, Cômodo. Atendia, ainda, gladiadores feridos em apresentações e torneios. Inspirava-se nos conhecimentos de Hipócrates, compreendendo que um bom médico era, eminentemente, também, um filósofo. Desses estudos veio a adoção da teoria dos 4 temperamentos humanos, para melhor compreensão dos humores e fluidos corporais.

    Ganhou tanto prestígio que suas palestras precisavam ser proferidas em teatros. Foi responsável pela descoberta de que as artérias transportam sangue, e não ar. Especializou-se nas áreas de cirurgia e dietética, tendo estudado , ainda, fisiologia, patologia, anatomia, sintomatologia (área em que se aplica a ciência dos 4 temperamentos) e terapêutica.

    Desenvolveu o estudo do sistema muscular e estudos sobre o coração, os quais só foram superados em 1500. Descobriu que o rim secretaurina. Morreu por volta do ano 200, na Sicília, deixando um legado imenso para a Humanidade.

    Ao estudar a sintomatologia, baseou-se nos ensinamentos de Hipócrates, e dividiu o comportamento humano em 4 grupos, os quais deram origem aos quatro temperamentos humanos: colérico, sanguíneo, fleumático e melancólico, e por meio dessa definição, prescrevia tratamentos e medicamentos que julgava mais adequados a cada temperamento, e aos fluidos corporais que cada um dispendia. Esse seu ensinamento prevaleceu até o século 18.

    A medicina atuava, sobre cada tipo de temperamento, da seguinte forma: Como as pessoas eram estudadas com base no elemento da natureza em que se baseava seu comportamento – água, fogo, terra ou ar – do mesmo modo, a medicação indicada precisava estar em harmonia com esse elemento predominante na composição daquele indivíduo, fosse para acalmar o fogo interno, assentar o ar, movimentar a água ou umedecer a terra.

    Isso permitia que fosse aplicado o tratamento adequado, de acordo com os “humores” ou fluidos corporais, e o êxito fosse bem maior, em cada situação. A medicina agiu assim, intuitiva e sabiamente, até a introdução os medicamentos alopáticos, criados pelas farmacêuticas, do modo que hoje conhecemos.

    Até mesmo Platão, em A República, escreveu sobre 4 tipos de caracteres e suas contribuições para a ordem social. Quando falava do artístico, referia-se ao sanguíneo. Ao falar do guardião ou cuidador, tratava do melancólico. Ao descrever o idealista, via ali o colérico. E o racional ou investigador lógico era o fleumático.

    A palavra TEMPERAMENTUM só surgiu no século 17, de origem latina, significando mistura. Ela demonstrava que era necessário o equilíbrio, para alcançar saúde e bem-estar. Esses ensinamentos, infelizmente, perderam-se quase que totalmente, na modernidade, tendo, apenas, a medicina chinesa, a ayurveda e a homeopatia, baseado-se em algumas dessas características, na prescrição de remédios e terapias.

    Alguns padres começaram, no início do século 20, a publicar livros sobre o tema, que foi , recentemente, ressuscitado, com bastante vigor, na busca do autoconhecimento, e como ferramenta eficaz para o aprimoramento das virtudes e da personalidade.

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