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    Por que ainda é tabu falar sobre a dor do luto por um pet?

    Perda de animal de estimação pode causar depressão e insônia

    Publicado 04/08/2025 às 18:39 | Autor: Diogo Alves
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    O luto pela perda de um animal não deve ser invalidado
    O luto pela perda de um animal não deve ser invalidado |  Foto: Canva

    Para muitas pessoas, perder um animal de estimação é tão doloroso quanto perder um membro da família. E não se trata de exagero ou sentimentalismo. Quem já dividiu a vida com um cão, um gato ou qualquer outro companheiro sabe o espaço que esses seres ocupam em nossas rotinas, afetos e memórias. São presenças constantes, silenciosas ou barulhentas, que acompanham nossas alegrias e dores. Quando partem, deixam um vazio imenso — e, infelizmente, pouco compreendido.

    Ainda é comum ouvir frases como “era só um cachorro” ou “compra outro”. Comentários assim mostram o quanto o luto por um pet ainda é subestimado pela sociedade. Trata-se de um tipo de dor invisível, muitas vezes invalidada, o que aprofunda ainda mais o sofrimento de quem já está emocionalmente fragilizado. A psicologia reconhece esse fenômeno como "luto não legitimado" — quando a perda é sentida, mas socialmente desvalorizada.

    O impacto emocional, no entanto, é real e profundo. Pesquisas científicas mostram que a perda de um animal de estimação pode desencadear sintomas de depressão, insônia, ansiedade e até luto complicado, que é aquele que persiste por meses ou anos, afetando o bem-estar físico e mental de quem enfrenta a perda.

    Luto complicado

    Pesquisas apontam que a perda somada a invalidação do luto pode levar a complicações emocionais severas
    Pesquisas apontam que a perda somada a invalidação do luto pode levar a complicações emocionais severas |  Foto: Canva

    Um estudo sul-coreano publicado em 2023 pelo Journal of Korean Medical Science acompanhou 137 pessoas que haviam perdido seus animais e revelou dados expressivos: 55% apresentaram sinais de luto complicado, 52% relataram sintomas moderados a graves de depressão, 40% desenvolveram ansiedade significativa e 32% relataram insônia. A pesquisa utilizou escalas psicológicas reconhecidas internacionalmente, como o Inventário de Luto Complicado (ICG), o PHQ‑9 para depressão, o GAD‑7 para ansiedade e o Índice de Gravidade de Insônia (ISI).

    Outro levantamento, realizado nos Estados Unidos e citado em análises da University of Michigan, reforça a persistência desse sofrimento: 85,7% das pessoas enlutadas relataram sintomas logo após a perda do animal; após seis meses, 35,1% ainda apresentavam sinais de sofrimento emocional, e mesmo um ano depois, 22,4% continuavam afetadas de forma significativa.

    Esses números, similares aos observados em lutos por pessoas, mostram que a dor pela morte de um animal é legítima e precisa ser respeitada.

    Por que essa dor é tão intensa?

    Porque o vínculo com um pet é, muitas vezes, construído no cotidiano: nas brincadeiras, no silêncio da companhia, na rotina compartilhada.

    Aspas da citação
    Eles não julgam, não exigem explicações, apenas estão presentes
    Diogo Alves, presidente do CRMV-RJ
    Aspas da citação

    Para muitas pessoas, são fonte de apoio emocional, companhia contra a solidão e até ocupam papéis simbólicos de filhos ou parceiros.

    Como médico-veterinário, já acompanhei muitas despedidas. Algumas calmas, outras carregadas de urgência e desespero. E posso afirmar com convicção: o acolhimento nesse momento é tão importante quanto qualquer tratamento. A escuta sensível, o respeito à dor e a orientação adequada fazem parte do papel do médico-veterinário, que cuida não só da saúde animal, mas também dos laços construídos ao longo de uma vida.

    No CRMV-RJ, temos buscado valorizar cada vez mais esse olhar humano e ético da Medicina Veterinária. A valorização da vida passa também pelo reconhecimento do fim dela — e pelo respeito a quem fica.

    Falar sobre o luto por um animal de estimação é mais do que necessário — é um gesto de empatia.

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    Diogo Alves

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