Homenagem
Milton Nascimento recebe da Fiocruz o título Doutor Honoris Causa
Instituição destaca a força cultural e social da obra do artista

A Fundação Oswaldo Cruz concedeu, nesta terça-feira (16), o título de Doutor Honoris Causa a Milton Nascimento, reconhecendo a trajetória do cantor e compositor como uma contribuição duradoura à cultura, à democracia e à defesa da vida. A cerimônia foi realizada na sede da Fiocruz Minas, em Belo Horizonte, e reuniu autoridades, pesquisadores, trabalhadores da instituição e convidados.
Embora não tenha estado presente, Milton foi representado pelo maestro Wilson Lopes, parceiro musical há mais de quatro décadas. A abertura do evento teve clima de celebração, com o coral FioCantos de Minas interpretando “Maria Maria”, “Caçador de mim” e uma versão instrumental de “Canção da América”, em referência direta a um repertório que atravessa gerações.
A homenagem foi aprovada por unanimidade pelo Conselho Deliberativo da Fiocruz e destaca a obra do artista como instrumento de resistência, denúncia social e afirmação de identidades. Ao longo de mais de 60 anos de carreira, Milton transformou a música em espaço de liberdade criativa, especialmente durante a ditadura militar, quando respondeu à censura com metáforas, vocalizações e experimentações sonoras.
Para a diretora da Fiocruz Minas, Cristiana Brito, a escolha dialoga com o conceito ampliado de saúde defendido pela instituição. Segundo ela, cultura e arte são dimensões fundamentais do bem-estar coletivo. “Milton é mais do que um ícone da música. Sua trajetória expressa engajamento político, defesa de pautas sociais e inspiração permanente”, afirmou.
Traço marcante
Canções como “Milagre dos Peixes”, “Maria, Maria”, “Missa dos Quilombos” e “Coração de Estudante” se tornaram símbolos de diferentes momentos de luta e transformação no país. Em trabalhos como “San Vicente”, o artista também reafirmou um olhar latino-americano, conectando música, história e política do continente.
Outro traço marcante de sua carreira é a relação com os povos indígenas. Desde os anos 1970, Milton mantém vínculos com diferentes etnias, experiência que resultou no projeto “Txai”, lançado após vivências na floresta acreana. Em 2010, foi batizado pelos guarani kaiowá, reforçando publicamente seu compromisso com a defesa dos povos originários.
Representando a Presidência da Fiocruz, a coordenadora de Relações Interinstitucionais, Zélia Profeta, destacou o papel da cultura na construção da cidadania. Para ela, a obra de Milton Nascimento ajuda a fortalecer a democracia, a memória coletiva e os vínculos sociais, especialmente em contextos de crise.
Em nome do homenageado, Wilson Lopes agradeceu o reconhecimento e relembrou a longa parceria com o cantor. Disse estar honrado por representar um artista cuja obra é estudada e admirada no Brasil e no exterior. “A arte, a ciência e a saúde se encontram quando o objetivo é a defesa da vida”, resumiu.
Nascido no Rio de Janeiro em 1942 e criado em Minas Gerais, Milton Nascimento foi um dos criadores do Clube da Esquina, movimento que projetou a música mineira para o mundo. Com cerca de 47 álbuns lançados, participação em filmes e quatro prêmios Grammy, ele segue como uma das vozes mais respeitadas da música popular brasileira.

André Silva
Repórter
Bastante ativo na cobertura cultural, ja foi contemplado com o Prêmio Themis de Jornalismo, concedido pelo TJRS. Além da cultura, caminha por várias editorias, inclusive em cobertura de eventos internacionais, como a Cúpula do G20 e o encontro dos Brics.

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