Artista múltiplo

Com 35 anos de carreira, Leo Gandelman fala de assuntos polêmicos

Músico falou sobre carreira, saúde e redes sociais

O artista já chegou a marca de 500 mil discos vendidos
O artista já chegou a marca de 500 mil discos vendidos |  Foto: Divulgação
 

Saxofonista, flautista, compositor, arranjador e produtor musical brasileiro. Esse é Leo Gandelman que completa 35 anos de carreira solo. O artista múltiplo escreveu uma bela página na história da MPB, participando de gravações antológicas de praticamente todos os grandes nomes da música brasileira com participações em mais de mil discos e mais de 500 mil discos vendidos. O músico conversou com o ENFOCO e fez críticas ao imediatismo das redes sociais e a ausência de bons conteúdos.

Com apresentação única, no Theatro Municipal de Niterói, neste sábado (11), o músico vai mostrar canções autorais que marcaram sua trajetória, além de clássicos de grandes compositores brasileiros. No palco, ele será acompanhado por músicos de destaque no cenário atual: Eduardo Farias (teclados), Guto Wirtti (contrabaixo), Renato Massa (bateria) e participação especial de Ricardo Silveira (Guitarra).

Instrumentista versátil que vai do pop à música clássica e que transita entre várias gerações, Leo é um dos mais influentes músicos brasileiros. Quem não lembra do famoso álbum ‘Solar’, que foi um marco na história da música brasileira? Lançado em 1990, o disco foi indicado no ano seguinte para cinco categorias do Prêmio Sharp (Disco, Música, Arranjo, Instrumentista e Produtor) e vendeu mais de 100 mil cópias, volume acima da média para uma obra instrumental no Brasil.

Confira abaixo o bate papo com o artista:

Com 35 anos de carreira solo, qual o balanço que faz da sua vida como músico?

Leo: Posso dizer que sou músico desde que nasci. Sou filho de musicistas, minha mãe é pianista e meu pai maestro e é muito difícil imaginar outra vida pra mim. Além disso, a fotografia também foi parte da minha vida durante um tempo e um grande exercício artístico que abriu meus olhos ao me dar a oportunidade de ver a criação de uma forma diferente. Depois desse tempo todo trabalhando com arte, música e fotografia, me sinto muito feliz por fazer o que gosto e acredito e por influenciar novas gerações.

Você já gravou com grandes nomes da música brasileira, como é isso pra você?

Leo: Os anos que passei em estúdio acompanhando grandes artistas da música brasileira e também ao vivo em shows, foi um aprendizado artístico e profissional muito grande. Hoje em dia o 'ser artista' é absolutamente ligado a você saber conduzir uma carreira e isso foi muito importante para a definição do meu caminho profissional. Sem deixar de mencionar que quando lancei meu primeiro trabalho eu já tinha um reconhecimento público muito grande, o que faciitou minha carreira solo.

Em fevereiro de 2020, você foi hospitalizado com diverticulite e septicemia e ficou um ano em recuperação, até por conta da pandemia. Como foi voltar aos palcos?

Leo: 2020 foi um ano muito difícil para mim, pois tive problemas sérios de saúde, além de todo o cenário da pandemia, claro! Mas posso afirmar que estou muito feliz. Consegui me recuperar bem e isso é excelente, porque saúde é tudo que precisamos para seguir em frente. Depois desse período, voltar a tocar foi algo que me deixou extremamente feliz. 

Leo escreveu uma bela página na história da MPB, participando de gravações antológicas de praticamente todos os grandes nomes da música brasileira
Leo escreveu uma bela página na história da MPB, participando de gravações antológicas de praticamente todos os grandes nomes da música brasileira |  Foto: Divulgação
 

Você começou seus estudos musicais com seis anos de idade e aos 15 anos apresentou-se como solista da Orquestra Sinfônica Brasileira. Conte um pouco sobre esse início de carreira.

Leo: Comecei a música clássica no piano e flauta doce. Com 15 anos tive a oportunidade de ser solista da Orquestra Sinfônica Brasileira, onde fazíamos os concertos para a juventude. Mais tarde, fui estudar na Berklee - Escola de música de Boston, onde estudei harmonia, saxofone e outros arranjos. O fato de ter conseguido estudar em escola clássica abriu grandes horizontes pra mim e me preparou para ser um bom profissional.

Pra mim, o conhecimento é a ferramenta de trabalho mais importante para quem quer ser músico profissional. Isso vem antes até de saber tocar instrumento. Ser conhecedor de música é fator essencial! Exitem hoje escolas muito completas e quem estuda com seriedade e se aprofunda, se torna um bom músico. Qualquer uma dessas escolas vai te levar a uma formação profisional completa. 

Você é muito ouvido pelo público jovem e pop, e também pelos fãs de MPB. Você transita em várias gerações. A que se deve isso, na sua opinião?

Leo: Ter um público bem diverso se reflete no meu trabalho diversificado. Eu nunca estabeleci fronteiras para a música. Pra mim, o limite da música é o próprio caminho do músico. Sou ousado e sempre gostei de experimentar novos ritmos e arranjos. A formação clássica, trabalhar com música popular, tocar em concertos, me deixou com um leque enorme de trabalho e meu trabalho reflete isso, e automaticamente o público vai se misturando. 

Fale um pouco sobre o show no Teatro Municipal de Niterói.

Leo: Esse show será bem diferente, reunindo amigos muito importantes para mim e começa com a participação do Ricardo Silveira, que foi meu amigo de escola e que é um prazer tocar com ele. Também convidei Renato Massa que já viajou comigo pelo mundo e já tocamos em vários países, ele já participou da gravação de vários discos meus e o Guto também é a mema história. Além do Dudu que é um parceiro constante e faz a direção musical do show. A ideia era reunir amigos para nos aproximar ainda mais do público de Niterói que é uma galera que sempre esteve comigo e muito especial. Vamos ocupar o Teatro e fazer um excelente espetáculo.

Tem algum projeto novo em vista? 

Leo: Estou com muitos projetos! Em agosto lanço mais uma série do 'Hip Hop Machine', que mistura o ritmo com jazz. Estou fazendo um trabalho que se chama 'Ventos do Brasil', que é uma viagem pelo país entrevistando músicos de sopro. Lanço por agora também um trabalho que se chama 'O Som Delas', que realiza uma investigação sobre o universo feminino da canção e por fim, estou preparando mais um 'Vamos Tocar' e já estamos na sexta temporada. Em paralelo, continuo fazendo meus shows por aí! Vou tocar em Israel com a Sinfônica de Jerusalém, por exemplo. Eu não paro!

Como você enxerga atualmente a arte e a música na era das redes sociais, internet?

Leo: As redes sociais mudaram completamente o panorama não só da produção artística, mas também da observação. Hoje os resultados são muito imediatistas, as informações são constantes e superficiais, e é difícil nos fixarmos em alguma coisa. As pessoas se baseiam muito no que se consome na internet e como é uma plataforma que muda de maneira muito rápida, as coisas se perdem. Falando sobre a música em si, a fórmula ficou mais importante que o conteúdo. Eu vejo as pessoas muito ligadas em formatos, layouts, definições... mas o conteúdo em si ficou em segundo plano. Para fazer uma imersão numa obra artística, temos que ter tempo espiritual e esse tempo nas pessoas está cada vez menor. A observação da arte e o consumo é cada vez mais superficial, mais ligado ao produto que ao conteúdo. O invólucro é mais importante que o conteúdo. Uma pena!

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