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    Música

    Hoje é dia de rock! Conheça as 'pauleiras' de quem curte o som em Niterói

    Fãs do gênero reclamam da falta de espaços

    Publicado 13/07/2025 às 7:14 | Atualizado em 13/07/2025 às 10:47 | Autor: André Silva
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    Bandas underground comemoram Dia Mundial do Rock com muito som
    Bandas underground comemoram Dia Mundial do Rock com muito som |  Foto: Gabriel Rechenioti

    Neste domingo (13), é comemorado o Dia Mundial do Rock. Mas para além da celebração, quem vive o som das guitarras na pele conta que manter a chama do rock acesa, especialmente em Niterói, na Região Metropolitana de Niterói, não tem sido tarefa fácil desde os tempos áureos dos anos 80. Falta espaço, mas sobra amor pela música, e é nessa mistura que artistas locais seguem resistindo, entre a nostalgia e a esperança.

    Aos 41 anos, Glauber Nazario, guitarrista da banda Contramaré e morador do Fonseca, na Zona Norte da cidade, vive um dilema que atravessa gerações: o amor ao rock continua vivo, mas a estrutura para fazer a música acontecer é cada vez mais escassa.

    “A cena em Niterói já foi mais forte. Hoje é complicado achar lugares que recebam bandas novas. O que falta é incentivo e mais locais com estrutura para isso”, contou ao ENFOCO.

    Ainda assim, o som resiste. Glauber conta que a Rua Ceará, no Centro do Rio, vai receber neste domingo um evento com 100 bandas, entre covers e autorais, num verdadeiro festival do underground.

    “É um lugar onde todo mundo se encontra, de todas as idades e gostos. O público é diverso. O que falta é mais apoio para que isso aconteça com frequência”, revelou.


    Aspas da citação
    "A gente vive disso? Não. A gente vive pelo rock. Trabalho como fotógrafo numa escola e lido com crianças o tempo todo. Mas o que me alimenta criativamente é a música. A banda não paga as contas, mas traduz nossas angústias em arte
    Glauber Nazario Guitarrista
    Aspas da citação

    Quem também compartilha dessa batalha é Amando Puente, 38 anos, morador do Ingá e guitarrista da banda Risca Faca. Ele vê o Dia do Rock como mais do que uma data.

    “É uma chance de se fortalecer como banda, como músico, como pessoa. Ninguém faz nada sozinho. É um dia que representa amor ao estilo e a tentativa humilde de seguir com essa bandeira”, disse o músico.

    Amando acredita que a cena evoluiu, sim, mas sem romantismos: “A tecnologia nos ajuda com equipamentos, plataformas, acesso. Mas ainda falta valorização. A gente luta por espaço, porque o nicho do rock não é tão abraçado. A transformação é inevitável, mas nem sempre significa melhora”.

    • Glauber Nazario, guitarrista da banda Contramaré
      Glauber Nazario, guitarrista da banda Contramaré | Foto: Gabriel Rechenioti
    • Hugo Rosas, guitarrista da banda Nosunnydayz
      Hugo Rosas, guitarrista da banda Nosunnydayz | Foto: Gabriel Rechenioti
    • Amando Puente, guitarrista da banda Risca Faca
      Amando Puente, guitarrista da banda Risca Faca | Foto: Gabriel Rechenioti
    • Raul Fontenelle, baterista da banda Nosunnydayz
      Raul Fontenelle, baterista da banda Nosunnydayz | Foto: Gabriel Rechenioti
    • Arthur Doglio, músico e dono de estúdio
      Arthur Doglio, músico e dono de estúdio | Foto: Gabriel Rechenioti

    Já Hugo Rosas, guitarrista da banda Nosunnydayz e morador do Largo do Machado, na Zona Sul do Rio, relembra as raízes do estilo e o caminho até a consolidação no Brasil.


    Aspas da citação
    A guitarra foi vista como inimiga da música brasileira por muito tempo. Foi só com nomes como Gilberto Gil, Jorge Ben e depois bandas dos anos 80 que ela se popularizou
    Hugo Rosas Guitarrista
    Aspas da citação

    Para ele, rock não é estilo, é atitude. “A Pitty é rock. Jorge Ben é rock. O rock se manifesta onde há inconformismo. Não é sobre guitarra distorcida, é sobre como você encara o mundo”, falou.

    Ele ainda relembra os tempos em que frequentava casas de show em Niterói: “Era uma cidade muito rock and roll. Sempre chamei de ‘Nikit Rock City’. Vinham pessoas de fora só para viver a cena aqui. Hoje, com menos espaços, tudo ficou mais difícil, mas o espírito ainda tá ali. A galera do rock é crítica, acompanha tudo e resiste”, relembra o guitarrista.

    A gente não vive do rock, mas vive pelo rock. Isso faz toda diferença

    Entre conversas, fotos, risadas e uma boa cerveja, os depoimentos revelam que, longe de ter morrido, o rock resiste com força, atitude e um senso comunitário cada vez mais sólido.

    “Não tem uma periodicidade certa para gente se encontrar. O ponto de encontro são os shows. É ali que a cena se forma, onde a gente troca ideia, prestigia e se fortalece”, explica Raul Fontenelle, de 48 anos, morador da Glória e baterista da banda Nosunnydayz.


    Aspas da citação
    Existe uma cena muito forte e muito unida. Quando perguntam se o rock morreu, eu digo: não, cara. O rock tá mais vivo do que nunca. E mais unido do que nunca
    Raul Fontenelle Baterista
    Aspas da citação

    Quem vê isso na prática é Arthur Doglio, de 28 anos, morador de Icaraí e dono de um estúdio na cidade.

    “Receber bandas é uma doideira, mas é o que amo. Começou como um espaço para que eu pudesse treinar guitarra e virou ponto de encontro de músicos”, falou.

    Apesar das dificuldades, os músicos se apoiam. Glauber, Hugo, Amando e Raul fazem parte de uma cena que se fortalece na base da amizade, da troca de palcos e da vontade de não deixar o som morrer.

    No Dia Mundial do Rock, mais do que lembrar os grandes nomes que marcaram época, a galera de Niterói mostra que o estilo segue firme, mesmo que fora do mainstream. Porque no fim das contas, como definiu Hugo: “Rock and roll é tudo aquilo que faz sentido pra você e que você precisa botar pra fora”.

    Rock em 2025: resistência, atitude e renovação

    Enquanto as rádios diminuíram seu espaço para o gênero e o mercado fonográfico passou a priorizar outros estilos, os roqueiros brasileiros encontraram na coletividade um espaço de resistência. Movidos mais por paixão do que por lucro, músicos e fãs constroem uma rede sólida, de apoio mútuo, criatividade e engajamento.

    “Tem muita banda nova surgindo, e a molecada está ouvindo. Talvez eu nem conheça todas elas, mas é isso que é bonito. O ciclo se renova. Só falta agora os algoritmos ajudarem o rock a emergir das camadas mais profundas para superfície”, afirma Raul.

    E enquanto isso não acontece, ele e seus colegas seguem fazendo o que sabem de melhor: tocar, reunir e manter o espírito do rock aceso, independentemente da data ou da playlist da semana.

    O que é o Dia Mundial do Rock?

    Celebrado apenas no Brasil, o Dia Mundial do Rock ocorre em 13 de julho em referência ao festival Live Aid, realizado em 1985. A sugestão para a data partiu de Phil Collins durante o evento, mas só foi adotada nos anos 1990 por iniciativa de rádios paulistanas como a 89 FM e, depois, a Kiss FM. Desde então, a data passou a integrar o calendário cultural e publicitário do país. No exterior, o rock é celebrado em diferentes datas.

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    André Silva

    André Silva

    Jornalista

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