Esportes
Cantusca x Campusca: um encontro bem maior do que a própria Quartona
A Quarta Divisão do Campeonato Carioca tem muito mais do que aspectos inusitados, como os WOs e o caráter rústico de alguns jogos e estádios. A tradição de clubes que viveram grandes momentos no passado, mas que penam atualmente, é outra atração para o torneio. E a edição deste ano, que começa neste domingo (29), será aberta em grande estilo, com um duelo entre dois times que já brilharam no futebol do Rio, mas andaram sumidos nos últimos anos: Canto do Rio x Campo Grande.
Para os mais tradicionalistas, é bem discutível chamar de "clássico" um duelo que só aconteceu sete vezes na História. Porém, levando em conta o peso da trajetória dos clubes e o momento que vivem, se pode dizer que a própria Série C do Estadual fica pequena quando comparada com os feitos de Cantusca e Campusca, dois clubes com histórias tão parecidas quanto seus apelidos. Aliás, o confronto entre os dois será o primeiro desde 1964: já não acontece há 54 anos. A vantagem é ampla para o clube da Zona Oeste, com quatro vitórias e três empates. Os niteroienses nunca venceram.
Mesmo com o retrospecto negativo, não há nada que desanime o Canto do Rio. O time treinado por Marquinhos Pereira já vem treinando há meses e conseguindo alguns resultados expressivos em sua pré-temporada, quase sempre vencendo. A vitória sobre os juniores do Fluminense, em amistoso aberto ao público no Alzirão, em Itaboraí, deu moral ao grupo, que conta com jogadores como Willian Amendoim, Thiago Trindade e Walter, estes dois últimos campeões de uma Terceirona pelo São Gonçalo.
O Campusca vai para seu jogo de estreia um pouco mais aliviado. Afinal, o clube recebeu nesta quinta-feira a notícia de que não precisará viajar para Cardoso Moreira enfrentar o time local, já que o time da Beira-Linha foi suspenso por não inscrever jogadores e perdeu antecipadamente por WO. A equipe da Rua Artur Rios também se esforçou na pré-temporada e chega à competição com ares de renovação após um campeonato acidentado e de poucos momentos de brilho na temporada passada.
A bola rola para Canto do Rio x Campo Grande às 11h de domingo, no Alzirão, em Itaboraí.
Vitórias, ídolos e joias esquecidas de Lamartine
A história dos dois clubes que se enfrentam no domingo tem particularidades parecidas. Ambas ficaram alguns tempo afastadas do cenário e, para parte do grande público, pareciam até extintas. O Canto do Rio, por exemplo, não joga profissionalmente desde 2010, quando disputou a Terceirona. Aliás, em divisões inferiores, suas participações quase sempre foram alternadas, desde os anos 80. Cenário bem diferente com o dos anos 40, 50 e 60, quando disputava o Campeonato Carioca e era segregado pelos clubes de Niterói, que o consideravam uma espécie de "desertor". Sem ligar par aisso, o Cantusca teve craques como Ely do Amparo, Canalli, Danilo, Perácio e Veludo, todos com passagem pela Seleção Brasileira.
Já o Campo Grande se acostumou com a disputa seguida de competições como a Segundona, depois que deixou a elite, em 1995. No entanto, a equipe do Ítalo del Cima chegou ao fundo do poço na última década, quando chegou a ficar de fora da Terceirona por dívidas e entrou em campo apenas pelo Torneio Amistoso, ao lado de outros clubes licenciados e em dificuldades. Desta vez, o time volta a buscar inspiração em uma história rica e gloriosa, que teve como protagonistas Barbosa, Zequinha, Décio Esteves, Lulinha, Luisinho das Arábias e Pingo, entre outros.
A tradição dos dois clubes consegue alcançar até a cultura popular. É sabido que o grande Lamartine Babo, fanático torcedor do America, foi o compositor dos hinos de 11 clubes do Rio de Janeiro. Além dos quatro grandes, normalmente são citados o hino do próprio clube do coração do artista e de clubes suburbanos como Bangu, Bonsucesso e Olaria, como outras peças memoráveis. A história, porém, conta que Canto do Rio e Campo Grande também foram agraciados com a genialidade de Lalá, embora as gravações mais conhecidas destes hinos tenham acontecido em épocas diferentes.
O hino do Cantusca nem exalta tantos os feitos do time. Fala sobre uma torcedora do Canto do Rio que acompanhava os jogos da equipe no Estádio Caio Martins, que embora não pertença ao clube, ficou marcado como sendo a casa das partidas do Canto do Rio no Campeonato Carioca. A canção que serve como hino ao Campo Grande usa até palavras mais rebuscadas, referindo-se ao clube como "cabal, denodado e empreendedor", além da clássica citação que imortalizou o Alvinegro como "representante da Zona Rural".
FutRio
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