Esportes
Caso Maurício Souza: quando o ódio usa o conservadorismo como escudo
Nos últimos dias, o caso Maurício Souza, do Minas Tênis Clube, expôs o lado mais cruel do esporte e das redes sociais: o preconceito, muitas vezes impune, dentro de um universo que deveria abraçar a diversidade. E, infelizmente, não só no vôlei - mas também em todas as outras modalidades mais populares do planeta.
A punição a Maurício foi significativa: demitido pelo clube e barrado da Seleção Brasileira. No entanto, as medidas ainda são poucas para tentar mostrar a gravidade do problema. Homofobia não é opinião, é crime. E crimes precisam ser punidos com vigor: banimentos, multas e prisões. No mínimo.
Observar o atraso de nossa sociedade assusta. Ao prestarem apoio ao atleta, muitos disseram que 'ele só deu a sua opinião' - e, assim, normalizaram a prática criminosa de exercer o preconceito sobre as outras pessoas. Seja por orientação sexual, classe, cor ou qualquer outro tema, por que é tão difícil aceitar as diferenças - sendo todas elas absolutamente naturais?
O alento é, justamente, ver que alguns já começaram a conscientização. Seja de outros jogadores, artistas, cantores, jornalistas ou simplesmente pessoas anônimas. A força da união, a luta através do diálogo e a demonização do preconceito através do amor. Já dizia o rapper Criolo:
'As pessoas não são más, elas só estão perdidas. Ainda há tempo.'
A bandeira do respeito
Para toda ação há uma reação. Assim que Maurício publicou declarações homofóbicas, as reações foram imediatas. E elas começaram de perto: alguns companheiros de equipe prontamente se manifestaram. O líbero Maique, o levantador William Arjona e o ponteiro Henrique Honorato foram os primeiros.
Companheiro da Seleção Brasileira, o ponteiro Douglas Souza, fenômeno brasileiro nas redes sociais durante as Olimpíadas de Tóquio 2021, aproveitou o seu posto de ícone LGBTQIA+ para lutar contra o preconceito.
Seu posicionamento firme também foi acompanhado pelo técnico da Seleção, Renan Dal Zotto — enfático ao dizer que não aceitará nenhum tipo de preconceiro enquanto estiver à frente do Brasil nas quadras.
"Por se tratar de um assunto extremamente relevante procurei me informar sobre o caso no detalhe para me manifestar. E fiquei decepcionado. É inadmissível este tipo de conduta do Maurício e eu sou radicalmente contra qualquer tipo de preconceito, homofobia, racismo. Em se tratando de seleção brasileira, não tem espaço para profissionais homofóbicos. Acima de tudo preciso ter um time e não posso ter este tipo de polêmica no grupo. Não me refiro apenas ao elenco dos atletas. É geral, para todos os profissionais", disse, em entrevista ao site O Globo.
Estrela da Seleção feminina, Rosamaria também aderiu à corrente. Além dela, suas companheiras, como Carol Gattaz, Fabi Alvim e Sheilla Castro, também participaram da campanha.
Outras correntes
As manifestações contrárias à homofobia ganharam grande proporção e saíram da esfera do vôlei. O rapper Emicida, por exemplo, ironizou através de uma história em quadrinhos.
O comentarista e ex-jogador de futebol, Walter Casagrande, aproveitou seu espaço no SporTV para criticar a postura de Maurício.
"É crime, covardia e mau-caratismo. Especificamente, o Mauricio Souza. Estou falando com propriedade, porque ele foi mau-caráter comigo. O cara quando fala homofobia para alguém é homofóbico. Eu não me surpreendo em nada, esse cara é homofóbico assumido e clássico. Se você entra em uma sala, tem seis nazistas sentados, você entra e senta, são sete nazistas. Se você defende um homofóbico, você é homofóbico. Para finalizar, parabéns para todos os atletas que se posicionaram, a Fabi, o Douglas, que se posicionou e que é um porta voz, jogador de seleção brasileira de vôlei. Então, Maurício Souza é homofóbico, preconceituoso, possivelmente racista, covarde e mau-caráter", bradou Casagrande.
Nesta sexta-feira (29), um grupo de 20 parlamentares de todo o Brasil acionou o Ministério Público contra Maurício Souza pelos comentários homofóbicos. Além disso, solicitaram ao Instagram a remoção de conteúdos preconceituosos postados pelo atleta nas redes.
"Desde 2019, a homofobia é considerada crime, no entanto, a gente tem poucos casos que, de fato, geraram responsabilização no Brasil. As palavras abrem espaço para formas de violência mais profundas, não é à toa que o Brasil é o país que mais mata pessoas LGBT. Espero que o Ministério Público apure e denuncie o atleta por essa conduta visivelmente LGBTfóbica. É importante banir esse tipo de conteúdo e esse tipo de gente que tem um comportamento reiterado de usar as redes sociais para espalhar discursos de ódio ou desinformação", disse a vereadora de Belo Horizonte, Bella Gonçalves (PSOL), integrante do grupo que inclui vereadores, deputados e um senador de 13 estados brasileiros e sete partidos políticos.
Conclusão
Por vivência, sabemos: essas 'simples opiniões', baseadas em personagens de quadrinhos, são o que fomentam milhares de agressões contra pessoas LGBTs - assim como contra negros, pobres, gordos e todas as minorias que sofrem no Brasil.
Um comportamento primitivo, ultrapassado e criminoso - que ganhou força nos últimos anos utilizando o 'conservadorismo' como escudo. É preciso frisar: agir como Maurício não é ser conservador, é ser criminoso. Não existe 'cidadão do bem' que infringe leis. Não há apenas uma definição para 'família tradicional'. Família é onde há amor.
Mudanças grandes demandam tempo e coragem. Muitos vão normalizar o acontecido. Vale lembrar que, há apenas 133 anos, era normal ter escravos no Brasil. E, mesmo com a abolição da escravatura, este crime hediondo ainda é praticado em alguns cantos do país.
Então, por isso, precisamos de firmeza para vencer este momento difícil. São tempos obscuros, admito. E é por isso que precisamos ser luz. Pelo respeito, pela igualdade, pelo amor, pela união. Vamos em frente.
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